Em tradução livre, o título do romance “De l’influence du lancer de minibar sur l’engagement humanitaire” (2015), de Marc Salbert, é algo como A influência do lançamento de um minibar no engajamento humanitário. Estranho, não? Mas é exatamente isso que acontece na sequência inicial do filme de Julie Navarro, atração do Festival Varilux de Cinema Francês.
Bêbado de madrugada, o crítico musical Arthur Berthier (Benjamin Biolay) joga um minibar pela janela do hotel. No retorno à redação, fica de castigo. Nada de cobrir festivais badalados. Vai para a rua atrás de notícias. Ele acaba numa manifestação de refugiados em Paris.
No confronto com a polícia, Arthur é ferido. Neste momento, ele já havia conhecido a advogada Mathilde Aslan (Camille Cottin), que batalha pelos direitos de refugiados.
De uma hora para outra, Arthur se vê com um deles em casa, o jovem afegão Daoud (Amrullah Safi), que não fala francês, quer ir para a Inglaterra atrás do pai e que não tem documentos. O rapaz ficará sob a responsabilidade do jornalista enquanto aguarda o visto temporário. É nessa situação que se dá a narrativa, uma comédia romântica com contexto social.
“Apenas alguns dias” ganha o espectador pelo trio de protagonistas, a começar por Biolay. Autocentrado, o blasé Arthur é um clichê ambulante de meia-idade: só usa camisetas de bandas, ouve vinil no fone vintage e não quer mais do que isso na vida.
“Muita gente o considera antipático, mas ele se humaniza e vamos descobrindo o personagem durante o filme”, diz Salbert.
A presença de Biolay, que é também cantor e compositor (um Serge Gainsbourg dos dias atuais, guardadas as devidas proporções), deixa a história mais saborosa. Há inclusive uma piada interna, quando Arthur fala mal de uma canção (ele detesta pop francês). É “Rends l'amour!”, do próprio Biolay, interpretada pela própria Julie Navarro. Produtora de elenco, Julie está estreando na direção de longas.
Camille Cottin não precisou de muito para ser convencida para o papel. Tem uma irmã que atua em associações que defendem os refugiados.
Mais complicado foi encontrar o intérprete de Daoud. “Dois meses antes de filmar, Julie não o tinha encontrado. Até que alguém da equipe viu o Amrullah Safi cortando cebola na cozinha de um restaurante. Foi um acaso”, diz Salbert.
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Assim como Daoud, Safi também não fala francês. “Foi complicado, porque o roteiro era em francês e ele não podia ler. A Julie explicou as cenas, o fez improvisar usando suas próprias palavras para que soasse mais natural, já que ele não é ator.”
Na verdade, ele era totalmente cru em cinema – o primeiro filme que Safi viu na vida foi justamente “Apenas alguns dias”. Mas Salbert revela: “Ele gostou tanto que agora quer fazer um filme de ação”.
“APENAS ALGUNS DIAS”
Sessões em Belo Horizonte nos cines Centro Cultural Unimed-BH Minas (16/11, às 18h40), Ponteio (16/11, às 15h45) e UNA Belas Artes (14/11, às 20h20; 20/11, às 17h35).