Autora da peça, Maria Moreira é Tia Cotinha, personagem cuja morte move outros personagens -  (crédito: Virgínia Dandara/Divulgação)

Autora da peça, Maria Moreira é Tia Cotinha, personagem cuja morte move outros personagens

crédito: Virgínia Dandara/Divulgação

Foi a experiência produtiva em sala de aula que deu origem ao espetáculo “Firmamento”, do coletivo Poncã. Em 2022, sete alunos do Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart, orientados pela atriz e diretora artística Istéfani Pontes, mergulharam no conceito “escrevivência”, de Conceição Evaristo, para a produção de monólogos acerca das próprias experiências e memórias.

 

O furor criativo não se esgotou após a formatura. Decididos a unir dramaturgias e transformá-las em um único espetáculo, os artistas Adriano Júnior, Cristina Jota, Dhan Lopes, Joana Luz, Luiza Pedra, Maria Moreira e Ravik Oliveira se reuniram, e desse encontro saiu “Firmamento”.

 

 

 

“Revisitamos os escritos e definimos palavras-chave que nos levaram a refletir sobre ausência, saudade, luto e memória. Com este encontro e a união dos materiais, construímos a narrativa que deu origem à 'Firmamento'. Um pouco das vivências de cada artista foi integrada ao enredo”, conta Maria Moreira, que assina a dramaturgia final da peça e, assim como os seis colegas, faz parte do elenco.

 

O espetáculo estreia na Funarte MG nesta quinta (14/11) e permanece em cartaz até domingo (17/11). Na trama, cinco pessoas de uma mesma comunidade se encontram para o velório de Tia Cotinha, figura central na vida de cada um. Apesar da ocasião fúnebre, o texto aborda o luto com leveza. A memória, elemento importante do enredo, é evocada para celebrar a vida de quem já partiu.

 

“Todos os personagens giram em torno da figura da Tia Cotinha”, conta a atriz Joana Luz. “Embora não tenha tido filhos biológicos, ela se tornou a matriarca daquele núcleo de pessoas. Com ‘Firmamento’, tentamos trazer lembranças felizes que emergem até nos momentos tristes de despedida.”

 

Maria Moreira e Joana Luz interpretam Tia Cotinha, mas em planos astrais e memórias distintas. Os cinco personagens enlutados, embora conectados por um vínculo afetivo, se diferenciam em suas características e vivências.

 

Cristina Jota, por exemplo, vive Fátima, uma médium hipocondríaca, enquanto Luiza Pedra assume o papel de Rafa, mulher abandonada pelo marido que precisa cuidar sozinha da filha especial. O casal apaixonado Raul (Ravik Oliveira) e Léo (Dhan Lopes), e o antigo amor de Tia Cotinha, Ailton (Adriano Júnior), completam o grupo de personagens.

 

Louvação a Oxum

 

Conectado às tradições da umbanda, “Firmamento” tem na trilha sonora músicas típicas de terreiro, como “Oro mi maió” e “Louvação a Oxum”, esta última mais conhecida na voz de Maria Bethânia.

 

“O espetáculo é muito espiritualizado, já que temos pessoas do coletivo que são da umbanda e frequentam terreiros. Tudo isso faz parte do nosso cotidiano”, explica Istéfani Pontes, diretora da peça.

 

“O próprio terreiro é muito cotidiano. Certos cantos e tradições, como a festa de São Cosme e Damião e a prática de benzimento, fazem parte da nossa ancestralidade. Se esses elementos estão presentes no nosso dia a dia, não tem por que não estarem também presentes no palco.”

 

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Apesar da temática centrada na ideia da morte, “Firmamento”, conforme seus criadores, busca destacar as memórias felizes compartilhadas mesmo com a partida de alguém muito querido.

 

“O luto é tratado de uma forma que nos faça celebrar, mais do que remoer. É uma temática sensível para cada um de nós e para a sociedade como um todo, mas tentamos, por meio do teatro, ressignificar a tristeza e a saudade”, destaca Maria Moreira.

 

"FIRMAMENTO"

De Maria Moreira. Direção: Istéfani Pontes. Com Poncã Coletivo. Nesta quinta (14/11), às 20h30. Sexta e sábado (15 e 16/11), às 20h, e domingo (17/11), às 19h, na Funarte MG (Rua Januária, 68 – Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na plataforma Sympla e na bilheteria local.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora da Tetê Monteiro