Por Guilherme Luís
Paul Mescal está aliviado porque realizou um sonho de criança: brincar de espada com mais do que pedaços de pau. Foi nos sets de “Gladiador 2”, então o objeto não era afiado, claro. Mas está valendo, ele diz.
O irlandês ficou musculoso para protagonizar a sequência do filme que virou referência no cinema de ação e pôs Ridley Scott na linha de frente de um batalhão de cineastas. O “Gladiador” de 2000, afinal, venceu o Oscar de Melhor Filme e até hoje serve de lição de casa para quem se arrisca a filmar épicos de guerra.
O sucesso fez suscitarem projetos para uma continuação nesses 24 anos que passaram, mas nenhum vingou. Até agora. “Por que não?”, diz Ridley Scott. “Eu sabia exatamente o que queria com essa sequência, não era à toa. Me arrependo de não ter dado a devida atenção às continuações de 'Alien' e 'Blade runner', que viraram ensaios para a indústria. Aprendi minha lição”, lamenta.
Outras mãos
Scott se refere a seus filmes de ficção científica que marcaram Hollywood, mas seguiram sob o comando de outros cineastas. “Alien” virou franquia com sete capítulos, apenas três dirigidos por Scott. Já “Blade runner” foi ressuscitado 35 anos depois do original, também por outro diretor, o canadense Denis Villeneuve.
Cansado de ser passado para trás, Scott achou que por “Gladiador 2” valia ir à batalha. “Sequências quase nunca são boas, costumam ser uma versão mais fraca do original. E antes eu estava ocupado com outros filmes”, ele justifica. “Mas percebi que um novo 'Gladiador' poderia continuar o que foi dito no primeiro de forma mais complexa. Tentamos com um roteirista, esperamos por um ano, e ele não entregou. Aí a ideia morreu. Dois anos depois, voltei a pensar nesse filme.”
Na sequência, vinte anos se passaram desde a morte do general Maximus, o soldado interpretado por Russell Crowe no primeiro filme. Lucius, criança que via em Maximus um herói, é agora homem formado, vive longe da mãe, Lucilla, e dos imperadores romanos. Após ter seu lar invadido, Lucius é escravizado e forçado a virar gladiador.
Interpretado por Paul Mescal, o guerreiro se destaca nas lutas no Coliseu, e aproveita para se embrenhar entre os governantes e tentar vingança.
Ator paparicado de Hollywood, Mescal é uma escolha inusitada para “Gladiador 2”. Sua carreira, afinal, foi pautada em dramas introspectivos: no elogiado “Aftersun”, faz um pai deprimido; no ano passado, ele atuou num romance gay, o trágico “Todos nós desconhecidos”.
Fora das telas, Mescal faz sucesso por tentar trazer de volta à moda os shortinhos masculinos, indo contra a onda de bermudonas que vem tomando ruas e passarelas.
É curioso vê-lo como o brutamontes da vez, ainda mais se comparado a Russell Crowe, que conferiu brutalidade e selvageria a seu Maximus, em performance que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator.
Scott nega ter escolhido Mescal para fugir de estereótipos de masculinidade, mas diz que tentou, sim, prestar atenção às demandas das novas gerações. “Estou de olho neles, claro, mas isso não significa que vou necessariamente fazer o que pedem. Primeiro preciso estar satisfeito, e aí torcer para mirar o alvo certo.”
Mescal afirma que seu Lucius segue a cartilha de protagonista bastante tradicional, mas dá um contraponto.
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“Esse filme serve como lembrete de que os atores homens não devem interpretar o tipo de masculinidade com a qual já estão familiarizados”, diz. “É preciso fazer a masculinidade exigida pelo personagem. Gosto do que venho fazendo, porque cada personagem está em um ponto diferente dessa escala. Indica que homem é mesmo uma espécie muito complicada.”
Fracassos e aposta
“Gladiador 2” é a principal aposta da Paramount para este ano especialmente custoso para os blockbusters. “Furiosa: Uma saga Mad Max” e “Coringa: Delírio a dois” saíram derrotados das salas de cinema.
Artigo do site The Hollywood Reporter diz que os gastos com “Gladiador 2” chegaram a US$ 310 milhões, que dá algo perto de R$ 1,7 bilhão. Scott não diz quanto gastou, mas conta que conseguiu pelo menos duas vezes e meia o orçamento do primeiro filme.
O cineasta fez agora tudo o que não pôde há 24 anos. Pôs em tela um rinoceronte ensanguentado para lutar com os gladiadores. O bicho não é de verdade, claro, mas uma mistura de animatrônico e efeitos.
Além disso, 80% dos cenários foram construídos de verdade. Segundo o diretor, foi mais barato erguer simulações de palácios e arenas do que desenhá-los digitalmente. (Guilherme Luís/ Folhapress)
“GLADIADOR 2”
EUA/Reino Unido, 2024, 150min. De Ridley Scott, com Paul Mescal, Pedro Pascal e Denzel Washington. Estreia nesta quinta-feira (14/11) em Belo Horizonte, nas salas das redes Cinemark, Cineart e Cinesercla.