O Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, é palco para a maioria dos casos contados pela dupla Sá & Guarabyra em

O Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, é palco para a maioria dos casos contados pela dupla Sá & Guarabyra em "A história do rock rural"

crédito: Marcella Calixto/Divulgação

 

Grandes canções geralmente rendem boas histórias. Sá & Guarabyra são pródigos nelas – tanto em canções quanto em histórias. A letra de “Espanhola” (Flávio Venturini e Guarabyra) nasceu de um porre de licor em uma noite gelada; a de “Caçador de mim” (Sérgio Magrão e Sá) teve inspiração em “O apanhador no campo de centeio”, o clássico de J.D. Salinger.

 


Casos saborosos, que Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra sabem muito bem como contar, estão reunidos na série “A história do rock rural”, produção em seis episódios, que estreia na próxima sexta (22/11), no canal pago Music Box Brazil. Não falta música, é claro. Muitos dos sucessos da dupla, que já atingiu os 50 anos de carreira, são desfiados no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora.

 


É a partir do palco do quase centenário teatro que a narrativa se desenvolve. A escolha do cenário não é nada aleatória. Juiz de Fora é a cidade natal de Jodele Larcher, que dirige o projeto. Além disso, o Cine-Theatro Central esteve presente em vários momentos da trajetória dos músicos.

 

Festival de música

“Depois que o Guarabyra ganhou o Festival Internacional da Canção (de 1967, com a canção “Margarida”, que defendeu ao lado do grupo Manifesto), ele foi convidado para colaborar com a direção do Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora”, conta Jodele. Criado em 1968, na primeira gestão de Itamar Franco na prefeitura, o evento foi realizado no Cine-Theatro.

 


“Por causa disto, ele estreitou a relação com os músicos locais, levou muita gente da MPB para lá”, acrescenta. Na época, a cantora e compositora Sueli Costa, que era carioca, morava em Juiz de Fora. Morta em 2023, aos 79 anos, ela chegou a gravar um depoimento para a série – o primeiro episódio é dedicado a ela.

 


Outra canção de Guarabyra, “Casaco marrom” (parceria com Danilo Caymmi e Renato Corrêa), começou sua história na cidade, foi vencedora da segunda edição do festival, em 1969. “Casa no campo” (Zé Rodrix e Tavito) venceu na quarta edição do evento, em 1971. Logo depois, seria gravada por Elis Regina, consagrando seu autor. Foi do verso desta canção que veio o nome rock rural, estilo com que a obra dos músicos é relacionada.

 

Ordem cronológica

Os episódios seguem a cronologia. O primeiro fala dos festivais da canção e do início da trajetória dos músicos. O segundo destaca a formação inicial, o trio Sá, Rodrix e Guarabyra. O terceiro mostra a relação da dupla com o 14 Bis e Flávio Venturini.

 

 

Os últimos capítulos tratam do disco de maior sucesso, “10 anos juntos” (1982); das canções que foram para as novelas; e do álbum mais recente, “Cinamomo” (2018).

 


A narrativa se desenvolve com os dois protagonistas e vários coadjuvantes. Entre os músicos, estão nomes como Flávio Venturini, Zeca Baleiro, Sérgio Magrão, Ricardo Feghali, do Roupa Nova, e Renato Corrêa, dos Golden Boys. O produtor musical Mariozinho Rocha e a jornalista Patrícia Palumbo são outros dos entrevistados.

 


“Na verdade, eu puxava um fio e depois eles começavam. O Sá publicou as histórias de todos os discos na revista ‘Backstage’ (dedicada à produção musical). Já o Guarabyra publicou ‘Teatro dos esquecidos’ (livro de memórias em formato de crônicas), sempre foi um bom contador de histórias. Então fomos deixando essas reminiscências tomarem conta do ambiente”, comenta Jodele.

 


Houve filmagens também em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Aqui, foram rodadas sequências no Palácio das Artes, durante o show “Encontro marcado” (com depoimentos dos produtores Gegê Lara e Shaolin) e no Sesc Palladium (com participação do maestro Leonardo Cunha, da Orquestra Opus, que realizou show com a dupla). Há alguns anos vivendo em BH, Sá dá um longo depoimento nas Mangabeiras, falando também de sua relação com a cidade – recebeu, inclusive, o título de cidadão honorário.

 


O carioca Sá e o baiano Guarabyra se conheceram no Rio, em meados dos anos 1960. Tornaram-se próximos quando o primeiro, recém-separado, deixou o apartamento em que vivia, com um único móvel: a cama menor de uma bicama, que levou em seu buggy. Parou no Jobi, lendário bar do Leblon, para tomar uns chopes e colocar a cabeça no lugar e encontrou-se com Guarabyra. Quando Sá revelou o que tinha ocorrido, o outro ofereceu a metade do quarto em que morava para dividirem.

 


Logo depois de deixar o Som Imaginário, Zé Rodrix (1947-2009) formou o trio com Sá e Guarabyra. Foram dois álbuns – “Passado presente futuro” (1972) e “Terra” (1973) – até que ele decidisse seguir carreira solo. Na época, todos haviam se mudado para São Paulo para trabalhar com publicidade.

 

 

Rodrix foi morar numa região mais distante do Brooklyn, onde os outros dois viviam. As relações, a série mostra, já não andavam muito boas. Sá e Rodrix brigavam muito. Tanto que a reconciliação, a partir do Rock in Rio de 2001, foi muito celebrada. Ficaram juntos, tendo lançado mais dois discos, até a morte de Rodrix, de infarto, em 2009, aos 61 anos. 

 

 “A HISTÓRIA DO ROCK RURAL”

Série em seis episódios. Estreia na próxima sexta-feira (22/11), às 22h30, no canal Music Box Brazil. Novos episódios sempre às sextas, no mesmo horário. Reprise aos sábados, às 10h30 e quartas, às 19h.