Obra em que São João Batista aparece ao lado de Hélio Oiticica faz referência ao caso do menino João Hélio, morto em 2007 após ser arrastado por 7km -  (crédito: Galeria Manoel Macedo/Divulgação)

Obra em que São João Batista aparece ao lado de Hélio Oiticica faz referência ao caso do menino João Hélio, morto em 2007 após ser arrastado por 7km

crédito: Galeria Manoel Macedo/Divulgação

 

 

Cavaletes estilizados se espalham pelo primeiro ambiente da Galeria Manoel Macedo. Em um deles, a lânguida Salomé segura a cabeça sem vida de São João Batista. Noutro, o mesmo João Batista aparece lado a lado com Hélio Oiticica, numa referência sutil e potente ao caso do menino João Hélio, tragicamente arrastado por sete quilômetros em 2007, após ficar preso ao cinto de segurança do carro da mãe durante um assalto na Zona Norte do Rio de Janeiro.

 

 


O terceiro cavalete exibe uma caricatura de Duchamp ao lado de sua emblemática “Fonte” (1917), o famoso urinol de porcelana branco, símbolo do dadaísmo francês.

 

 

Essas imagens compõem a série “Cavaletes: Programa V Invertido”, que integra a exposição individual “Dobra e desdobra da espinha dorsal”, com trabalhos do artista mineiro Marconi Marques. A mostra será aberta neste sábado (23/11), com curadoria de Maria Angélica Melendi e Luciana de Oliveira.

 


O nome da exposição foi inspirado em obra de Lygia Clark. “No trabalho ‘Bichos’, composto por chapas de aço articuláveis, Lygia dizia que as dobradiças remetiam à espinha dorsal humana”, explica Marques. “Já o cavalete é um plano que se desdobra em outros, sendo suas dobradiças também comparáveis à espinha dorsal”, completa o artista.

 

 


Além dos cavaletes ilustrados, o primeiro ambiente da galeria apresenta pinturas-objetos que transitam por uma atmosfera onírica. Segundo Marques, essas obras buscam posicionar o público entre “o abismo e o céu das imagens”. São peças que retratam figuras humanas, letreiros, anúncios populares e personagens do cinema, compondo um cenário que dialoga com a memória e o inconsciente.

 


No segundo eixo da exposição, o caráter onírico se aprofunda nas séries “Re-vendo Sonhos” e “Cabeças de cajados”. Na primeira, imagens que exploram ilusões de ótica e provocam vertigens convidam o visitante a mergulhar no subconsciente. Já “Cabeças de cajados” traz esculturas feitas com galhos de madeira recolhidos em terrenos baldios. Tais peças, de acordo com as curadoras, remetem a uma memória ancestral devido a elementos de cosmologias xamânicas.

 

 

Mestres dos saberes

 

Complementando esse núcleo, a exposição conta com retratos de personalidades que Marques denomina “mestres dos saberes tradicionais” das culturas afro-indígenas brasileiras. Entre os homenageados estão Pedrina de Lourdes Santos, a primeira capitã de Maçambique de Minas Gerais; Iyalodè Ósún Ifé Nilsia Lourdes dos Santos; e Pai Ricardo de Oxóssi.

 

“Existe um movimento recente das instituições de levar os mestres dos saberes tradicionais para dentro delas, tanto no campo acadêmico quanto no artístico. No meu caso, quando eu os trago para o museu é como se eu estivesse fazendo um caminho de volta para casa”, destaca Marques, referindo-se à sua cidade natal, Jordânia, no Vale do Jequitinhonha, berço de tradições e saberes populares.

 

 

A mostra se encerra com o terceiro eixo, que apresenta obras de caráter mais experimental. São esculturas e desenhos que revelam múltiplas camadas interpretativas e que, de acordo com Marques, vão ganhando cada vez mais dessas camadas à medida que o tempo passa.

 

“DOBRA E DESDOBRA DA ESPINHA DORSAL”


Mostra individual de Marconi Marques, na Galeria Manoel Macedo (Rua Lima Duarte, 158 – Carlos Prates). Abre sábado (23/11). Até 24 de dezembro. A galeria funciona de terça a sábado, das 10h às 19h. Entrada franca. Informações: (31) 3411-1012.