Natural de Rodeiro, Zé Geraldo se mudou de Minas gerais para São Paulo, onde chegou a dividir apartamento com Tim Maia e onde vive até hoje -  (crédito: J.G. Torres/Divulgação)

Natural de Rodeiro, Zé Geraldo se mudou de Minas gerais para São Paulo, onde chegou a dividir apartamento com Tim Maia e onde vive até hoje

crédito: J.G. Torres/Divulgação

 

Quando começou a dar os primeiros passos na música, no final da década de 1970, Zé Geraldo ainda não tinha encontrado sua autenticidade. Era um músico “primário”, como gosta de repetir; que copiava Bob Dylan. Quarenta e cinco anos depois, ele considera que já imprimiu seu DNA na música brasileira, consolidando-se como um dos pioneiros do folk no país.


“Não tem jeito, cara, o camarada tem que encontrar seu jeito. Ele pode ser o que quiser, só precisa ser sincero”, afirma.

 


Para celebrar os 45 anos de carreira e os 80 de idade – que completa no próximo dia 9 –, Zé Geraldo lança o álbum “O lugar onde eu nasci”, seu 22º disco de inéditas do mais puro rock rural. Nas 10 faixas compostas durante a pandemia, o cantor e compositor revisita sua infância e adolescência, com olhar profundo e nostálgico.

 


Natural de Rodeiro, cidade próxima a Ubá, ele se mudou para Governador Valadares ainda na infância, onde passou boa parte da juventude – como descreve na faixa "Apeando em Valadares" – até seguir para São Paulo, onde vive até hoje.

 


A carreira artística não fazia parte de seus planos. Em São Paulo, sonhava em ser jogador de futebol – história que ele canta em "O menino, a bola e a canção". Sem conseguir uma oportunidade em nenhum clube, trabalhou em construtoras.

 


Acidente

Em um de seus retornos a Valadares para visitar a família, o ônibus em que estava sofreu grave acidente. Bateu em uma carreta, deixando mortos e feridos. “Meu lado direito ficou todo quebrado. É cheio de pino”, relata.

 

“Mas esse acidente foi o que me fez entrar na música”, acrescenta, lembrando que, durante a recuperação, já em casa, um amigo lhe emprestou um violão, e ele começou a aprender a tocar. Nessa época, compôs algumas músicas, entre elas "Senhorita", um de seus maiores sucessos.

 


Zé Geraldo relembra com clareza de outros importantes momentos de sua trajetória, como o período em que morou com Tim Maia e os músicos da banda Os Snakes. “Foi antes de Tim Maia ficar famoso”, afirma.

 


Ele explica: “Eu morava com o pessoal dos Snakes, e eles me disseram que um amigo estava voltando dos Estados Unidos e precisava de um lugar para ficar. Era o Tim Maia. Ele ficou lá em casa e foi quem mais me incentivou a tocar em bailes para ganhar experiência de palco”.

 


Além dos bailes, Zé Geraldo também se apresentava em festivais. Em um deles – “Era um festival pequeno, eu nem queria ir; só fui porque minha então esposa me convenceu” – conheceu um produtor da CBS, que o convidou para gravar um disco.

 


Foi então que lançou “Terceiro mundo” (1979), que trouxe o sucesso "Cidadão". Pela gravadora, lançou ainda “Estradas” (1980) e “Zé Geraldo” (1981), que inclui “Senhorita” e “Milho aos Pombos”, e talvez seja o álbum mais bem-sucedido do músico.

 


Zé Ramalho

“Nesse terceiro disco, tinha uma faixa que gravei com Zé Ramalho e que entrou numa novela da Globo”, comenta, referindo-se a “São Sebastião do Rodeiro”. “Naquela época, quem promovia o artista era o departamento de divulgação da gravadora.

 

Eles divulgavam todos os artistas, menos eu. Tinham planejado minha divulgação para dali a três ou quatro anos. Seria péssimo para mim ficar tanto tempo sem vender shows. Então, a CBS me liberou, e fui para a Copacabana (Records)”.

 


Na nova gravadora, lançou “Caminhos de Minas” (1983) e “No arco da porta de um dia” (1986). Ainda assim, o que mais o marcou foram as sugestões para que ele gravasse sertanejo e lambada, aproveitando o sucesso de artistas como Chitãozinho e Xororó e Beto Barbosa.

 


Censura

Zé Geraldo também enfrentou a censura durante a ditadura. “Uma balada pra Gija”, que entrou no disco independente “No meio da área” (1998), foi submetida aos censores ainda durante o regime e proibida. Inicialmente chamada de “Asileina” (o nome da filha Anielisa ao contrário), a canção causou desconfiança dos militares logo no título. “Eles achavam que Asileina fazia referência a grupos subversivos”, diz ele.

 


Além disso, versos como “Chegou numa tarde de sol no mês de setembro / Eu me lembro bem / Trazia no olhar a ternura e a esperança” e “Os garotos saíram às ruas / Gritando as manchetes / ‘A incerteza acabou’” foram considerados alusões ao fim do regime.

 


“Decidi guardar a música para lançar em outra ocasião e troquei o título para ‘Uma Balada pra Gija’. Afinal, Gija é o apelido da minha filha”, conta.

 


Os 17 álbuns que Zé Geraldo lançou após sua saída da Copacabana Records foram produzidos de forma independente, mantendo a autenticidade que marca sua trajetória. “O lugar onde eu nasci” é mais um deles.

 

 

O tom intimista das canções convida o ouvinte a um mergulho no passado do artista. Sonhos e memórias se misturam nas letras criando um imaginário de nostalgia familiar para quem cresceu no interior, mas precisou partir para a capital em algum momento da vida. 

 

FAIXA A FAIXA

"O menino, a bola e a canção"


"Apeando em Valadares"


"Um par de tênis velho"


"Ela falou malandro"


"Passarinho sedutor"


"Velho caminhão"


"Deus anota"


"Maluco, rei e poeta"


"O lugar onde eu nasci"


"Inspiração"

 

"O LUGAR ONDE EU NASCI”
. Disco de Zé Geraldo. Produção independente (10 faixas). Disponível nas plataformas digitais. Exemplar físico à venda no site Sol do Meio-Dia, por R$ 35