Em exibição a partir desta quinta-feira (28/11), na galeria Galeria Mari’Stella Tristão, do Palácio das Artes, a mostra “Cientistas e alquimistas” traz obras de 13 artistas do Brasil e da Colômbia para debater os limites entre arte e ciência.
Sob a curadoria da colombiana Maria Fernanda Mora del Rio, a exposição reúne obras que abordam temas como genética, mineração, medicina ancestral, ecologia e o aquecimento global. Os trabalhos em exibição investigam as interações entre ciência e arte, demonstrando como as artes visuais podem contribuir para complementar as práticas científicas.
Mestre em história da arte pela Universidade dos Andes, em Bogotá, Maria Fernanda explica que o objetivo é propor reflexões a partir de uma perspectiva latino-americana, ressignificando as visões de mundo herdadas do colonialismo.
A seleção dos artistas ocorreu durante uma estada de um mês no Brasil, onde a pesquisadora realizou visitas a exposições e empreendeu diálogos com curadores, professores, gestores e galeristas.
Inquietação
Além de Belo Horizonte, ela passou por São Paulo, Tiradentes e Barbacena. “Sou curadora de um museu de história da medicina. Há muito tempo trabalhar com a relação entre esses dois universos é uma inquietação que tenho”, conta ela, que é uma das pioneiras na pesquisa de fotografias médicas.
Os representantes brasileiros da mostra são: Coletivo Grão (Gabriela Lopes Drummond de Sá e Ícaro Moreno Ramos), Iago Gouvêa, Maria Mendes, O Grivo (Marcos Moreira e Nelson Soares) e Thatiane Mendes. Já entre os colombianos estão: Alexandra McNichols-Torroledo, Atractor (Alejandro Villegas, Juan Cortés, Juan Camilo Quiñones e Juan Jose López), Camilo Bojacá, Eduardo Moreno Sánchez, Felipe Franco, Leonardo Ramos, Natalia Castañeda e Salomé Rojas.
“Na mostra, temos um grupo de artistas muito interessantes e misto. Artistas de longa e média trajetória e outros muito jovens. Também me interessa mostrar as formas de fazer entre diferentes gerações de artistas”, afirma.
A curadora afirma que a relação entre arte e ciência se dá de diferentes formas na mostra. “Os artistas utilizam conhecimentos de diversas áreas para criar seus trabalhos. Existe um cruzamento entre diferentes disciplinas da ciência e formas de pesquisa. Algumas obras trabalham a partir do entendimento de fenômenos físicos, por exemplo, ou da compreensão de certas tecnologias, sempre apontando para diferentes perguntas”, diz.
Matéria
Entre as temáticas abordadas estão a relação do ser humano com a natureza, os avanços da ciência, as tradições ancestrais e as transformações da matéria. Já as obras são feitas em diferentes suportes, como instalação, arte têxtil, vídeo, cerâmica e fotografia. “A multiplicidade de materiais mostra que a investigação científica pode se dar de várias formas”, aponta a curadora.
Iago Gouvea, em "In vitro", questiona a ética por trás da experimentação animal, enquanto Thatiane Mendes, em "Micro-monstros invisíveis", nos convida a refletir sobre a existência de um mundo microscópico que coexiste conosco. Ao mesmo tempo, a mostra valoriza os saberes tradicionais, como em "Amarre e pagamento", de Eduardo Moreno, e "Excoca" de Alexandra McNichols-Torroledo, que documenta a transmissão de conhecimentos medicinais entre as comunidades indígenas.
A obra de Natalia Castanhera, por sua vez, aborda questões relacionadas ao meio ambiente e às mudanças climáticas. Já em “Pedras naúfragas” o Coletivo Grão atribui novos significados ao granito da cidade mineira de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha.
“Mais do que a estética, a exposição se volta para as perguntas e as investigações feitas por esses artistas”, observa Maria Fernanda. “Na minha curadoria, percebi que muitos dos artistas falam sobre a mineração. Esse é um problema que também preocupa os artistas da Colômbia”, diz, citando uma relação entre as obras de Camilo Bojocá e Eduardo Moreno.
“Espero que o público perceba que a ciência só é conhecimento porque habita em todos nós de diferentes maneiras, não só dentro da academia. Existem muitos saberes”, observa Maria Fernanda Mora del Rio.
“CIENTISTAS E ALQUIMISTAS”
Coletiva de artistas brasileiros e colombianos, na Galeria Mari’Stella Tristão do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro), a partir desta quinta-feira (28/11), até 5 de janeiro de 2025. Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e, domingo, das 17h às 21h. Entrada gratuita.