O minuto inicial do primeiro episódio de “Senna” não deixa mentir – esta é uma das grandes apostas da Netflix não apenas no Brasil, mas no mundo todo. A atração, com seis episódios, estreia nesta sexta-feira (29/11). A vinheta da gigante do streaming foi reformulada especialmente para a série, com o N vermelho acoplado ao farol de um carro de corrida e seu característico som de “tudum” misturado aos roncos de um motor.
Esse detalhe e a opulência do que se vê em cena logo em seguida traduzem os dados de orçamento que a empresa não tem costume de divulgar. Fato é que não se gastou pouco para narrar a história de um dos maiores ídolos do esporte brasileiro, Ayrton Senna.
Carros da Fórmula 1 foram cuidadosamente recriados, sets de filmagem foram erguidos no Brasil, na Argentina e no Uruguai, uma equipe de efeitos especiais espalhada pelo mundo foi convocada para as cenas de corrida, replicando a adrenalina que o esporte exige.
Trata-se de um projeto acalentado há anos pelos produtores Caio e Fabiano Gullane. O desejo da dupla era produzir uma obra brasileira com repercussão gigante em todo o mundo, a maior do audiovisual do país, conforme os dois explicaram durante filmagens no Autódromo de Buenos Aires, em agosto do ano passado.
As cenas daquele dia eram de corridas que deveriam fazer as vezes de prêmios disputados por Senna em 1990 nos autódromos de Villeneuve, no Canadá, de Silverstone, na Inglaterra, e de Spa-Francorchamps, na Bélgica. Interlagos também estava nos planos, todos recriados na mesma pista graças às várias telas verdes que a cobriam, possibilitando à equipe de efeitos visuais alterar vegetação, arquibancadas e placas de patrocinadores.
Vicente Amorim, diretor da série, explica que cada corrida foi projetada plano a plano, com cerca de um ano de antecedência. Rascunho digital era criado no computador para que departamentos de direção de arte e efeitos especiais estivessem alinhados, cientes do que seria feito no local e o que entraria na pós-produção.
“Assim o cheiro de borracha queimada imprime na tela”, diz ele. “Nada foi feito na base da tentativa e erro, houve muito planejamento e trabalho. O que dá autenticidade para as corridas é o fato de que todas aconteceram de verdade. Os carros estavam na pista e, ao fundo, outros carros eram inseridos digitalmente.”
Foi demorada a busca pelo ator que viveria Senna. A tarefa foi parar nas mãos de Gabriel Leone, que coincidentemente emendou um filme sobre automobilismo, “Ferrari”, seu primeiro trabalho internacional, às gravações de “Senna”.
Nos planos abertos, os carros são guiados por dublês. Nos fechados, Leone senta no banco do piloto e, com painel de LED ao fundo, finge que dirige. O ator passa boa parte da série de capacete, e precisou usar apenas o olhar vazado pelo visor para expressar tensão, alegria, fúria, medo, tristeza e frustração.
Mesmo que Ayrton Senna tenha feito tremular a bandeira nacional em todos os cantos do país, o automobilismo e a Fórmula 1 não vivem agora uma onda de popularidade entre os brasileiros.
Assim, para ganhar tração entre as massas, a série precisou mergulhar nos dramas pessoais de seu protagonista. Trouxe personagens como o locutor Galvão Bueno (Gabriel Louchard), a irmã Viviane Senna (Camila Márdila), os compatriotas Nelson Piquet (Hugo Bonemer) e Rubens Barrichello (João Maestri), o rival Alain Prost (Matt Mella) e os amores Lilian Vasconcelos (Alice Wegmann), Xuxa Meneghel (Pâmela Tomé) e Adriane Galisteu (Julia Foti).
Para essa ala mais pessoal, Amorim teve a ajuda de Júlia Rezende, codiretora que diminuiu a testosterona da série. Há grande destaque para o primeiro casamento do piloto, bem como para os relacionamentos com as duas apresentadoras. Também entrou em cena uma repórter fictícia para guiar toda a trama, interpretada pela inglesa Kaya Scodelario, filha de brasileira.
Amorim e Rezende tiveram ajuda de Viviane e de outros membros da família Senna, envolvidos na série desde seus estágios iniciais. O diretor diz que não houve imposição de “amarras” por parte deles.
Arrogância
A preocupação da equipe em ressaltar o lado heroico, de colar à série a aura de grande homenagem ao tricampeão da Fórmula 1, é evidente. Ainda assim, há espaço para vermos o Senna temperamental, impulsivo, por vezes arrogante.
“Ele era absolutamente humano, e acho que, para além das vitórias, era isso que nos aproximava dele”, afirma Gabriel Leone.
*O repórter viajou a convite da Netflix
“SENNA”
Série de Vicente Amorim. Seis episódios. Direção: Vicente Amorim e Júlia Rezende. Com Gabriel Leone, Camila Márdila, Kaya Scodelario, Pâmela Tomé, Julia Foti, Marco Ricca, Matt Mella e Johannes Heinrichs. Estreia nesta sexta-feira (29/11), na plataforma Netflix.