Em “O dia da posse”, documentário de Allan Ribeiro em cartaz no UNA Cine Belas Artes, o espectador leva alguns bons minutos para compreender sobre o que a obra realmente trata. Ouvimos vozes de duas pessoas comentando os hábitos recém-descobertos dos vizinhos observados pela janela, sugerindo que essas ações foram desenvolvidas no contexto do isolamento social.

 

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Só após os primeiros 15 minutos é que começamos a entender e decifrar o significado das imagens e diálogos apresentados. As vozes pertencem ao próprio Allan Ribeiro e ao estudante de direito Brendo Washington, que também é coautor do roteiro do longa.

 

 



 

Os dois – o filme não deixa claro se são amigos, namorados ou parentes – estão confinados em um apartamento no Rio de Janeiro durante a pandemia de coronavírus.

 

A partir dessa convivência forçada, o diretor registra o cotidiano de Brendo. O argumento do documentário pode não parecer muito promissor, o que surpreende, considerando o histórico de um diretor reconhecido e premiado na Mostra Aurora, da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes, com “Mais do que eu possa me reconhecer” (2015); e no 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com “Mais um dia, Zona Norte” (2023).

 

 

O início de “O dia da posse” faz o público questionar se vale a pena acompanhar os 65 minutos restantes. No entanto, é a história de vida de Brendo, combinada com seu humor involuntário, que salva o documentário. “Quando o Allan me disse que queria fazer um filme comigo, eu também fiquei desconfiado; com a mesma estranheza. Pensei: ‘Mas, gente, será que isso vai prestar?’”, conta Brendo à reportagem, em tom descontraído.

 

 

Nascido em Itarantim, no interior da Bahia, ele enfrentou uma infância difícil. Caçava rolinhas para que a mãe pudesse cozinhar e lavava louças no rio próximo à sua casa, pois não havia água encanada na região. Na escola, carregava o material escolar em sacolas plásticas por não ter mochila.

 

Essas histórias, no entanto, não são narradas em tom de autocomiseração. Brendo as compartilha de forma leve, muitas vezes rindo das dificuldades superadas.

 

Planalto na mira

 

Mais do que um relato de superação – que por si só já atrai o público –, Brendo tem uma peculiaridade que dá vitalidade ao documentário: aos 23 anos (idade que tinha durante as filmagens), seu grande sonho era se tornar presidente do Brasil. Daí o título “O dia da posse”.

 

“Eu já queria filmar com ele antes da pandemia, mas diversos fatores atrasaram o projeto”, relembra Allan. “Com o início da pandemia, decidimos nos isolar juntos, e aproveitei a ociosidade para registrar a intimidade de Brendo”, comenta o diretor, destacando que optou por enfatizar o sonho do estudante de direito em se tornar presidente.

 

“O dia da posse” é um filme simples, mas que funciona bem. Seu maior acerto é abordar política – e o desejo de ser político – sem cair no partidarismo ou em militâncias frágeis. O que vemos é um brasileiro como tantos outros que enfrentam o mundo com determinação, misturando dor e alegria; e mantendo a estranha mania de ter fé na vida.


“O DIA DA POSSE”


(Brasil, 2024, 96 min.) – Documentário de Allan Ribeiro. Com Brendo Washington. Em cartaz nesta terça e quarta-feira (5 e 6/11), às 15h40, na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes.

 

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