Maria Esther Maciel se lembra com clareza de quando descobriu a poesia. Estava na pré-escola. A professora recitou para a turma “Canção dos tamanquinhos” (“Troc… troc… troc… troc…/ ligeirinhos, ligeirinhos,/ troc… troc… troc… troc…/ vão cantando os tamanquinhos), de Cecília Meireles. O impacto foi arrebatador para a menina, que anos depois se tornaria escritora, professora de teoria literária e ocuparia a cadeira 15 da Academia Mineira de Letras (AML), cujo patrono é Bernardo Guimarães.

 

 


“Naquele momento, percebi que a poesia era feita de música. De ritmo”, recorda ela, hoje com 61 anos. “Isso ficou comigo. Tanto que o ritmo sempre foi fundamental na minha escrita em verso”, acrescenta.

 



 

Da mesma forma que se sentiu atraída pelo ritmo da poesia na infância, Maciel também se viu estimulada a ler (ou escutar, enquanto não concluía o processo de alfabetização) cada vez mais histórias, o que desenvolveu nela o interesse pela escrita.


Tal conexão entre leitura e escrita será o tema da mesa-redonda com a autora mineira, nesta quarta-feira (6/11), na Biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas. O evento marca o lançamento do Clube do Livro, projeto da biblioteca. Além de explorar a relação leitura-escrita, Maria Esther comentará seu romance mais recente, “Essa coisa viva” (Todavia).

 


“Para se dedicar à escrita, é preciso entregar-se à leitura primeiro”, ela afirma, de forma categórica. “Seja para aprender algo com os livros ou para esquecer o que leu e reinventar aquilo que os livros trazem.”

 

 


A leitura, ressalta, não se restringe apenas a textos escritos, contempla também a interpretação do mundo ao redor. Foi desse processo de observação e interpretação que surgiu grande parte de sua obra, incluindo “Essa coisa viva”.

 

“A leitura, seja como for, é sempre um ponto de partida para escrever”, afirma. “Essa coisa viva” marca o retorno da escritora ao romance, após a publicação do ensaio “Animalidades: Zooliteratura e os limites do humano”. Nele, Maria Esther resgata personagens de obras anteriores, como “O livro de Zenóbia” e “O livro dos nomes”, para desenvolver um acerto de contas familiar.

 

 


Narrado em primeira pessoa pela botânica Ana Luiza, “Essa coisa viva” desafia clichês sobre a maternidade, desconsiderando o “amor de mãe” como algo inerente a todas as mulheres que dão à luz.

 


Ao longo da narrativa fragmentada, que carrega perceptível influência de Jorge Luis Borges, autor lido com afinco por Maciel, o leitor descobre que Ana Luiza sofreu negligência, humilhações e manipulações da mãe, especialmente na infância e adolescência.

 

Quando “aprontava”, a protagonista era severamente punida com fortes chineladas e forçada a se ajoelhar sobre grãos de milho, ouvindo insultos cruéis. A relação mãe e filha nunca teve manifestações de afeto ou gestos recíprocos de carinho, relata Ana Luiza.

 

Muitas situações descritas em “Essa coisa viva” foram inspiradas nas experiências que Maria Esther viveu ou presenciou em sua cidade natal, Patos de Minas. “Esse tema (a violência da figura materna) sempre esteve no meu radar por causa de casos que vi e ouvi falar. Morei no interior até os 18 anos e aproveitei muito dessas experiências para transfigurá-las no livro.”

 

Maria Esther é figura presente em corpos de jurados de prêmios literários. Entre 2010 e 2011, foi curadora do Portugal Telecom, integrou os júris do Prêmio Literário do Estado de Minas Gerais e do Prêmio Literatura para Todos.

 

Prêmios

 

Autora respeitada, recebeu menção honrosa do Casa de las Américas 2009 e foi finalista de importantes prêmios, como São Paulo, Portugal Telecom, Jabuti e Zaffari & Bourbon com “O livro dos nomes”. Em 2005, foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria Teoria/Crítica Literária com “A memória das coisas”.

 


“Quando estou em um júri, sempre considero a inventividade do texto e a habilidade no uso da linguagem – a construção das personagens, a organização temporal da narrativa”, explica. “Não me prendo apenas à história em si. É claro que a narrativa deve me provocar reações, mas também observo como isso é feito. Também busco a relevância da obra para o nosso tempo”, ressalta.

 


No bate-papo desta quarta-feira, ela não pretende dar aula sobre como escrever. Seu objetivo é meramente oferecer uma perspectiva sobre o vasto universo da literatura. 

 

LANÇAMENTO DO CLUBE DO LIVRO


Bate-papo com Maria Esther Maciel. Mediação: Fabíola Farias. Nesta quarta-feira (6/11), das 19h às 21h, na Biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca, mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla. Informações: (31) 3516-1360.

 

 

 

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