Um falso romance histórico. “Mestre dos batuques” (Tusquets), novo livro do angolano José Eduardo Agualusa, parte de fatos para criar ficção. “Em certo momento me afasto da história para que a narradora, que está no presente, conte a trajetória de sua família e, de alguma forma, explique a sua própria”, afirma o escritor, de 63 anos, que está de volta ao Brasil.
Até o fim deste mês, Agualusa cumpre agenda de lançamento no país. Neste sábado (9/11), estará em Tiradentes participando da quinta edição da Feira Literária Internacional da cidade histórica, em conversa com o jornalista e escritor Vagner Fernandes.
A Fliti, nesta edição, será desdobrada em duas. Na primeira parte, que vai desta quinta-feira (7/11) a domingo (10/11), a feira será realizada no Centro Cultural Yves Alves. Já entre 9 e 13 de abril de 2025, o evento ganhará espaços públicos da cidade histórica.
Com o tema “Mulheres de prosas e versos”, a feira celebra a obra de escritoras mineiras – Carla Madeira e Paula Pimenta, autoras best-seller, estão entre as convidadas. Outros nomes da programação são o ambientalista e liderança indígena Ailton Krenak, o jornalista Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), o filósofo Francisco Bosco e o ator e roteirista Gregório Duvivier.
A percussionista Leila Pinto é a narradora de “Mestre dos batuques”. Vivendo na atualidade, a personagem ficcional volta ao início do século 20 para contar a história de amor de seus avós, Jan e Lucrécia. O cenário é o Reino do Bailundo, localizado no planalto central de Angola. Nesta região está localizada Huambo, onde nasceu Agualusa.
“Como cresci na região, são, portanto, paisagens da minha infância”, diz ele, que aos 15 anos deixou a cidade natal. Há muito o escritor está radicado no Norte de Moçambique.
Abel Chivukuvuku
“Mestre dos batuques” surgiu a partir da obra anterior do escritor, a biografia “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” (2023, inédito no Brasil). No livro, o autor se debruçou sobre a vida do político e ex-guerrilheiro angolano. “Ele é descendente de um rei importante, recolhi muita informação sobre o Reino do Bailundo. De alguma maneira, este livro é resultado de outro”, conta Agualusa.
A trama tem início em 1902, quando corpos de soldados europeus são encontrados em situação misteriosa. A partir desse mote, a narradora acompanha o relacionamento de seus avós.
“Em certo momento, eu me afasto da história (o fato histórico)”, diz Agualusa, que leva para a narrativa uma sociedade secreta de guerreiros, a mulher que conhecia os segredos da invisibilidade e um rei mago.
Consciência Negra
Em novembro de 2023, o rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI, que está à frente do Reino do Bailundo, veio pela primeira vez ao Brasil, em visita oficial durante o Mês da Consciência Negra.
“Em Angola, existem muitos reinos tradicionais. Só no planalto central existem pelo menos três, que permaneceram independentes (de Portugal) até o início do século 20”, explica Agualusa, que em “Mestre dos batuques” pretende trazer um novo olhar para a colonização portuguesa.
“O que aprendemos na escola em Angola, ou em qualquer lado, é muito redutor, uma parte estreita daquilo que aconteceu. A história é sempre mais interessante (nos romances do que nos livros escolares), pois ela é feita de pessoas”, finaliza o escritor.
FEIRA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE TIRADENTES
Desta quinta-feira (7/11) a domingo (10/11), no Centro Cultural Yves Alves (Rua Direita, 168, Centro Histórico de Tiradentes). Programação completa: fliti.org.br
DESTAQUES DA FLITI
QUINTA (7/11)
16h30: “Poesia numa hora dessas?”, com Gregório Duvivier e Bianca Ramoneda.
18h: “Cosmogonias indígenas: outras formas de caminhar no mundo”, com Ailton Krenak e Renato Soares.
SEXTA (8/11)
16h30: “Viajar com as palavras”, com Marcelino Freire e Roger Mello.
SÁBADO (9/11)
10h: “Cinema, Teatro e TV: Os livros que viajam bem”, com Adriana Falcão e Aloísio de Abreu.
11h30: “Realismo fantástico à brasileira”, com Sérgio Rodrigues e Rosa Amanda Strauszt.
15h: “Sexo, mentiras e mídias sociais: o amor na era digital”, com Francisco Bosco e Maria Homem.
16h30: “Todo perdão que houver nessa vida”, com Carla Madeira.
18h: Lançamento do livro “Mestre dos batuques”, de José Eduardo Agualusa.
DOMINGO (10/11)
11h: “Uma vida fora de série”, com Paula Pimenta.
14h: Lançamento do livro “Entre cobras e lagartos”, de Guto Lins e Ziraldo, com Guto Lins, Roger Mello e Adriana Lins.
15h30: Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).