Rio de Janeiro – Realizar, quanto mais nos dias de hoje, um filme muito longo, muito caro e a partir de uma trama que boa parte dos espectadores conhece, é uma ousadia e tanto. Vários já adaptaram a mesma história, com sucesso relativo. Mas a dupla Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte conseguiu fazer de “O Conde de Monte Cristo” um acontecimento, ao menos na França.

 




Naquele país, o filme, com três horas de duração, já levou 9,5 milhões de pessoas aos cinemas – a título de comparação, mais gente o assistiu do que “Divertida mente 2”, o líder mundial das bilheterias de 2024. Com chegada prevista ao circuito brasileiro em 5 de dezembro, o filme está com pré-estreias no Festival Varilux de Cinema Francês. Tem uma exibição neste domingo (10/11), no Centro Cultural Unimed-BH Minas, e outra no sábado (16/11), no Ponteio.

 

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“‘Monte Cristo’ é como uma bíblia para um roteirista”, afirma Matthieu Delaporte, que veio ao Brasil participar do festival. “Alexandre Dumas fez um roteiro incrível muito antes de o cinema existir, pois você tem muitas cenas de ação, diálogos e personagens incríveis. Não é um autor descritivo como Flaubert ou Stendhal, é um escritor do momento, da reação, então o romance é como um pré-roteiro. Em cinco anos, ele escreveu ‘Os três mosqueteiros’, ‘A Rainha Margot’ e ‘O Conde de Monte Cristo’, que são alguns dos mais célebres personagens da literatura francesa. Então, para mim, fazer este filme foi como um sonho.”

 

Traição e vingança

 

A dupla La Patellière e Delaporte chegou ao épico depois de assinar adaptação e roteiro de “Os três mosqueteiros” (2023), direção de Martin Bourboulon com elenco estelar: Vincent Cassel, Eva Green e Louis Garrel. Agora, o personagem-título cabe a outro grande nome do cinema francês, Pierre Niney, que ganhou fama como Yves Saint Laurent na cinebiografia homônima, 10 anos atrás.

 

Filho de um general de Napoleão Bonaparte, Alexandre Dumas (1802-1872) começa a narrativa em 1815. O jovem marinheiro Edmond Dantès (Niney) é encarcerado eternamente no Chateau d’If, que seria como a prisão de Alcatraz de Marselha, depois de ser incriminado como bonapartista pelo promotor Villefort (Laurent Lafitte) e pelo capitão Danglars (Patrick Mille).

 

 

Foi traído também por seu grande amigo, Fernand de Morcef (Bastien Bouillon), que estava de olho em Mercédès (Anaïs Demoustier), a amada de Dantès. Nos anos de encarceramento, ele conhece o Abade Faria (Pierfrancesco Favino), que lhe dá um curso intensivo de cultura. O religioso ainda garante a fortuna com que Dantès irá ressurgir na sociedade parisiense décadas mais tarde, como o enigmático aristocrata Monte Cristo. Com sede de vingança, ele cria vários disfarces para acabar com a vida dos três homens.

 

Um dos romances mais populares da literatura francesa, “O Conde de Monte Cristo” é enorme. Este foi o primeiro problema, diz Delaporte. “São 1,4 mil páginas, e em um roteiro você escreve cerca de 130. Tivemos que fazer escolhas e encontrar o nosso viés. O que nos interessou, então, foi o ponto de vista de Dantès. É ele que nos guia o tempo inteiro.”

 

O roteiro já foi escrito com Niney como protagonista. “Era ele ou nada, porque como o filme cobre duas décadas, com o personagem dos 20 aos 40 anos, queríamos um ator com cerca de 30 e Pierre Niney é o melhor de sua geração. Só quando ele disse ok é que começamos a escrever”, continua Delaporte.
Já que a história é francesa, deveria ser rodada em locações. Foram 18 semanas de filmagem, entre julho e novembro de 2023, na França, principalmente, mas também na Bélgica e em Malta. E uma semana em estúdio.

 

 

O Chateau d’If, onde Monte Cristo ficou preso por 14 anos, foi uma das locações. “Era uma prisão horrível na época de Dumas e hoje é um museu. Por causa do filme, o turismo aumentou e muita gente está pegando o barco para conhecer a ilha onde está a (antiga) prisão”, conta Patrick Mille, que também veio ao Brasil promover o filme.

 

Avô do Batman

 

“O Conde de Monte Cristo” custou 42,9 milhões de euros (cerca de R$ 263,6 milhões) – é o filme francês mais caro deste ano. Ter muito dinheiro nunca é problema, diz Delaporte. “O problema é que Alexandre e eu escrevemos um roteiro maior do que o filme. Originalmente, ele tinha uma hora a mais... Filmamos em vários lugares, tanto que quando você vê o castelo de Monte Cristo, uma porta (representa uma locação) do Sul da França, outro cômodo é no Norte do país, um terceiro foi filmado em Paris”, acrescenta.

 

Para que a trama ambientada 200 anos atrás atingisse o público de hoje, o tom foge das adaptações clássicas. “Eu queria fazer um filme sombrio, mas com cor, sol. Monte Cristo é o primeiro super-herói”, diz Delaporte. “Ele seria como o avô do Batman”, completa Mille. Há referência aos heróis Marvel e DC, mas não há como negar: os disfarces que o conde cria para seu plano de vingança tem um quê de “Missão: Impossível”.

 

*A repórter viajou a convite do Festival Varilux de Cinema Francês

 

 O CONDE DE MONTE CRISTO”
(França, 2024, 178min., de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, com Pierre Niney, Anaïs Demoustier e Patrick Mille). O filme será exibido neste domingo (10/11), às 18h05, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes), e no sábado (16/11), às 20h20, no Cine Ponteio (BR 356, 2.500 – Santa Lúcia). O Festival Varilux de Cinema Francês segue até 20/11 nestas salas e no UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581 – Lourdes). Programação completa em variluxcinefrances.com/2024/.

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