Quanta influência a arquitetura e paisagens ao nosso redor exercem em nossa percepção do tempo? Essa é a reflexão proposta pela exposição “Silênciluz”, do paulista Andrey Rossi, de 37 anos, em cartaz em Belo Horizonte. A mostra está aberta ao público na AM Galeria de Arte até 30 de novembro.

 




O conjunto de 22 obras, sendo três quadros de 1m x 1,50m, reúne pinturas a óleo que estão sendo produzidas há cerca de quatro meses. As pinturas de Rossi, com alto grau de realismo, retratam construções, paisagens e naturezas-mortas, algumas com textos que expressam devaneios do artista.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

Em suas representações arquitetônicas, ele destaca marcas de deterioração, como rachaduras e manchas de bolor, além de ocasionalmente incluir plantas e flores em estágio de decomposição. Nas paisagens, predominam céus nublados em horários próximos ao anoitecer. Esses elementos, aliados ao jogo de luz e sombra, e à ausência de figuras humanas, evocam contemplações sobre silêncio, melancolia, nostalgia e envelhecimento.

 

 

As obras têm uma aproximação estética com o barroco, movimento artístico europeu do século 16 que tinha como objetivo transmitir a grandeza e a imponência do mundo e dos humanos. Inspirado por essa conexão e pela importância histórica do barroco mineiro, o artista escolheu Belo Horizonte para estrear sua exposição.


Para Rossi, a análise sobre o tempo nos ambientes envolve profundidade. Ele destaca como as marcas de deterioração de uma parede expõem o envelhecimento de um lugar, seu legado e sua história, além de ressaltar a negligência do cuidado. Além disso, sobre as paisagens, sugere que na escuridão de um céu prestes a chover, a relação temporal é de aguardo e expectativa, enquanto um céu limpo não evoca percepções sobre o futuro.

 

 

“Eu penso no passado, mas naquilo em que ele acaba ressoando em direção ao presente. O meu trabalho fala sobre essa questão transitória do tempo e o quanto ele é agregado nas coisas à nossa volta”, comenta.


O tema é atualmente objeto de estudo do doutorado de Rossi em artes visuais, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No entanto, também remonta à infância do artista e ao início de sua relação com a pintura.

 

Natural de Porto Ferreira, interior de São Paulo, ele cresceu em regiões afastadas da área urbana, transitando por lugares em que a natureza e as construções abandonadas, com raízes crescendo pelas paredes, o cercavam.


Inspirações


Aos 10 anos, começou a pintar com tinta a óleo e, com o tempo, os assuntos que o interessavam, como a finitude da vida, passaram a se refletir em sua arte. “A pintura sempre foi esse lugar onde eu me entendia como um indivíduo no mundo. Desde que me recordo da minha própria existência, estava pintando e desenhando. Então, a minha forma de existir é através do traço da pintura e os temas que sempre estiveram me acompanhando”, revela.


Para o conjunto de obras da exposição, Rossi usou suas referências para criar arquiteturas imaginárias. Assim, nenhuma de suas pinturas remete a ambientes que existiram exatamente como foram retratados. Ele explica que, muitas vezes, começa suas obras sem saber ao certo como será a construção final.


O artista descreve esse processo como a criação de um universo próprio em que todos os espaços imaginados fazem parte de um único complexo, em constante expansão. “Para mim, todas as minhas pinturas, todos os ambientes que criei, pertencem a um mesmo lugar, um grande complexo que só cresce”, ressalta.


Seu imaginário para compor esses espaços começou a ser construído na época em que vivia no interior e atualmente é alimentado por suas observações cotidianas. Cinema, literatura e detalhes que encontra em seu caminho são inspirações para suas obras.


“Se eu vejo um canto úmido onde o bolor está se formando e as plantas nascendo, eu observo isso. Acho bonito a forma como uma vida emerge daquilo que é tido como algo abandonado, algo que a gente vê mais como deteriorado ou simplesmente ignora. Existem nesses lugares objetos que os compõem e que eu penso muito como um legado de coisas esquecidas”, comenta o artista.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

 

“SILÊNCILUZ”
Mostra de Andrey Rossi. Em cartaz até 30 de novembro, na AM Galeria de Arte – Arte Contemporânea (Rua do Ouro, 136 – Serra). Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; e aos sábados, das 10h às 14h

compartilhe