Para marcar o Dia da Consciência Negra, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais apresenta, nesta quarta-feira (20/11), concerto que cobre os 200 anos da obra de compositoras e compositores afrodescendentes no Brasil. O programa transita entre o repertório erudito, com influência europeia, e a música popular brasileira. Haverá a estreia da “Suíte Atlântico negro”, do sergipano Hugo Sanbone, criada especialmente para a ocasião.
Ao meio-dia desta terça (19/11), com entrada franca, a Sinfônica interpreta trechos do repertório, que, além de Sanbone, traz outra peça contemporânea: “Festa de largo”, do baiano Jamberê Cerqueira. Vem da Bahia o regente convidado, Angelo Rafael Fonseca. O concerto, que presta homenagem a Dona Eliza, precursora do samba em Belo Horizonte, vai contar com as cantoras Adriana Araújo e Nath Rodrigues.
A primeira parte vai reunir peças do século 19. “Começamos com ‘Abertura em ré’, do padre carioca José Maurício Nunes Garcia, compositor negro. Depois vem a abertura da ópera ‘Uma noite no castelo’, de Henrique Alves Mesquita, também negro e carioca. Na sequência, apresentamos ‘Atraente’, de Chiquinha Gonzaga, fazendo a transição para o século 20 e também do universo erudito para o popular”, adianta o maestro Angelo Fonseca.
De acordo com ele, o programa inclui peças que sugeriu e temas propostos tanto por Cláudia Malta, diretora artística da Fundação Clóvis Salgado, quanto pelas cantoras convidadas. Fonseca destaca que se trata de um concerto coletivo, construído por muitas mãos, com obras de negros e a colaboração de arranjadores de diferentes lugares do país.
“Quando Ligia Amadio (regente titular da Sinfônica) me convidou dizendo que a apresentação celebraria o Dia da Consciência Negra, pensei que existem muitos compositores e compositoras negras no mundo, mas que o interessante seria focar no Brasil. Incluir mulheres foi sugestão da própria Ligia. Além de Chiquinha Gonzaga, temos Dona Ivone Lara e Dona Eliza, de quem vamos fazer ‘Povo negro, raça Zumbi’ por sugestão da Adriana Araújo, que gravou essa música”, diz o maestro.
Ter Dona Eliza como homenageada e Adriana Araújo e Nath Rodrigues como solistas convidadas foi sugestão de Lara Tanaka, ex-regente do Coral Lírico de Minas Gerais e produtora do Palácio das Artes.
“São escolhas maravilhosas. Ter Dona Eliza, compositora de samba com mais de 700 músicas, ainda na ativa é um luxo. Não a conhecia. Da Nath Rodrigues e da Adriana Araújo eu sabia um pouco, pelas redes sociais. Foi se formando esse tecido, paisagem sonora brasileira muito rica, com a força da cultura de Minas Gerais. Teremos uma pitada de congado no concerto”, revela Angelo Fonseca.
Dona Ivone Lara
A apresentação se encerra com “Aquarela brasileira”, de Silas de Oliveira. Antes, Adriana Araújo canta “Alguém me avisou”, de Dona Ivone Lara, além de “Povo negro, raça Zumbi”. Nath Rodrigues será solista em “Favela blues”, de Marku Ribas, e “Raça”, de Fernando Brant e Milton Nascimento. A orquestra toca também pot-pourri de canções de Dorival Caymmi, com arranjo de Jamberê Cerqueira.
“Estamos tentando dar ao público um concerto que realmente evoque a cultura brasileira. É uma colcha de retalhos maravilhosa, com compositores e arranjadores de várias partes do Brasil. O programa foi pensado para dar um panorama do que é a rica e vasta cultura brasileira nascida de mãos negras”, destaca o maestro, que pela primeira vez vai conduzir a Sinfônica de Minas Gerais. “Fiquei feliz com o convite, fui muito bem recebido e estamos tendo dias bem proveitosos”, ressalta.
Angelo Fonseca considera “um marco” a apresentação que celebra o Dia da Consciência Negra reunir compositores negros, duas solistas convidadas negras e um regente negro.
Ele observa que a presença de pretos e pretas no cenário da música de concerto sempre foi pouco expressiva, mas isso está mudando, ainda que timidamente. “Temos lutado por isso. Eu estar aqui já é um progresso, mas ainda são muito poucos maestros negros regendo orquestras profissionais no Brasil”, diz.
Adriana Araújo revela que escolheu “Povo negro, raça Zumbi” para enfatizar a data. “A música é de um ícone do samba local, com significado grande para mim e para a música negra. Diz o que está acontecendo neste novembro em torno do povo preto. Um povo que luta, batalha pelos sonhos e não deixa a peteca cair. O objetivo é exaltar artistas negros – os vivos e os que se foram. Além disso, Dona Ivone Lara foi pioneira, pavimentou a estrada para nós”, ressalta a cantora.
SINFÔNICA DE MINAS E CONVIDADOS
Comemoração do Dia da Consciência Negra. Com Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência do maestro Angelo Rafael Fonseca. Convidadas: Nath Rodrigues e Adriana Araújo. Nesta terça-feira (19/11), às 12h, apresentação de trechos do concerto, com entrada franca. Programa completo na quarta-feira (20/11), às 20h. Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.357, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria local e na plataforma Eventim.