Os filmes indígenas dão as cartas nesta 28º edição do Forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema; que acontece de quinta-feira (21/11) até 1º de dezembro, com sessões gratuitas no Cine Humberto Mauro e Cine Santa Tereza.

 




Não que a temática tivesse passado batida pelos organizadores do evento nos últimos anos. Desde de 2015, o festival vem investindo no cinema indígena – ou “cinemas indígenas”, como os organizadores do Forumdoc.bh preferem.

 

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“Apesar de os festivais estarem incluindo produções indígenas, ainda há uma tendência forte de agrupá-las em uma única mostra temática”, ressalta Arthur Medrado, um dos organizadores do festival, ao lado de Cora Lima, Júnia Torres e Paulo Bellonia. “Isso passa a impressão de que tudo é a mesma coisa, ignorando as diferenças existentes”, complementa.

 

 

Nesta edição, essas diferenças serão valorizadas. Os 89 filmes selecionados foram organizados em cinco mostras principais: Mekarõ Ti: Mostra-seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre; Mostra Contemporânea Brasileira; Sessões Especiais; Mostra Kuxa Kanema: Moçambique, 50 anos da Libertação; e Cristina Amaral: Montagem e Pensamento. Duas dessas mostras – Mekarõ Ti e a Mostra Contemporânea Brasileira – são dedicadas às produções realizadas por povos indígenas.


Realidade e ficção

 

Na abertura do festival, será exibido “A queda do céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Inspirado no livro homônimo do xamã yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert, o documentário estreou mundialmente na mostra “Quinzaine des Cineàstes” (Quinzena de Cineastas), em paralelo à competição no Festival de Cannes.

 

 

O longa não se propõe a ser uma adaptação do livro e nem mero documentário tradicional sobre os Yanomami. Composto por sons e imagens tanto dos indígenas quanto da natureza (a floresta, os animais, nuvens, etc), os diretores guiam o espectador em um mergulho na cultura yanomami.


Tal proposta também está presente em “A transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho. Ambientado na pequena comunidade de Mbyá-Guarani, entre o Brasil e a Argentina, o filme conta a lenda de Canuto, homem que se transformou em onça e teve um fim trágico.


Outro mergulho pela cultura da comunidade documentada é “A chegada dos Mêbengôkre na Terra”. Dirigido por Kokokaroti Txucarramãe, Matsipaya Waura Txucarramãe e Simone Giovine, o filme traz o cacique Raoni narrando aos jovens cineastas kayapós uma história ancestral que explica a origem de seu povo.


“Esses filmes são realizados por pessoas que têm um vínculo íntimo com os territórios e as relações que documentam, mas que também conseguem transformar esses temas em algo relevante para públicos fora daquela realidade”, observa Medrado.


Os cineastas indígenas têm inovado ao se distanciar dos formatos tradicionais de documentários, como entrevistas e narrações em off. “Nas produções contemporâneas, vemos uma crescente aposta no formato híbrido, mesclando realidade e ficção”, destaca Medrado. “Outro movimento que é muito comum é a fabulação, que tenta elaborar nossos problemas e traumas criando saídas a partir do cinema. No entanto, são saídas possíveis, a partir do mundo que nós temos”, acrescenta.

 

Combate ao colonialismo


A ênfase nas produções indígenas se conecta a outra temática central do festival: a luta anticolonial. As mostras Kuxa Kanema: Moçambique, 50 anos da Libertação e Cristina Amaral: Montagem e Pensamento refletem esse foco.


A primeira reúne filmes produzidos após a Revolução Moçambicana, em 1975, que inauguraram um novo cinema comprometido com o combate ao colonialismo. Já a segunda apresenta obras da montadora Cristina Amaral, que combinam um olhar político com uma reinvenção criativa da realidade.
“Neste ano, tivemos o desafio de trazer os realizadores para participarem do festival”, explica Cora Lima, uma das organizadoras do festival, lembrando que Cristina Amaral e os cineastas kayapós participarão de mesas-redondas ao longo da programação.


“Mais do que uma vitrine para o que está sendo produzido, o Forumdoc.bh é, de fato, um espaço de discussão e reflexão, que vai além das exibições”, conclui Cora.

 

28º FORUMDOC.BH
Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, a partir desta quinta-feira (21/11) até 1º de dezembro, no Cine Humberto Mauro no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro), Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza) e no site forumdoc.org.br, onde toda a programação pode ser consultada. Entrada gratuita.

 

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