O Jabuti premiou como livro do ano as crônicas de “Sempre Paris” (Companhia das Letras), da jornalista e tradutora Rosa Freire d’Aguiar, coletânea de histórias de seus encontros e passeios por uma França fervilhante de ativistas, escritores e intelectuais.

 




As crônicas são memórias do longo tempo em que ela morou na Europa com o então marido, o economista Celso Furtado, que lembrou em seu breve discurso, engasgado de emoção, na noite de terça-feira (19/11), em São Paulo.

 


“Amanhã fará 20 anos que meu marido morreu”, disse a autora de 76 anos. “Eu o conheci na França quando ele estava exilado pelo golpe de 1964. Ele sempre me deu muita força, especialmente para o meu jornalismo, e esse é um livro de jornalista.”

 


O melhor romance literário da 66ª edição do prêmio foi “Salvar o fogo” (Todavia), segundo romance do baiano Itamar Vieira Junior, já premiado com o mesmo troféu por “Torto arado”, há quatro anos. O livro expande os temas de seu best-seller, pondo em cena a vida de mulheres do sertão baiano ameaçadas pela dominância da igreja sobre suas terras.

 


“O crime do bom nazista” (Todavia), mistério de assassinato histórico do gaúcho Samir Machado de Machado, foi eleito o melhor romance de entretenimento.

 

Novas vozes

Bethânia Pires Amaro ganhou entre os contistas, com “O ninho” (Record). A autora e advogada pernambucana tem sido saudada como uma das novas vozes do conto brasileiro pelas 15 histórias reunidas em sua primeira coletânea.

 


O melhor livro de poesia foi “Cabeça de galinha no chão de cimento”, de Ricardo Domeneck (Editora 34), vencendo obras de poetas destacados na cena contemporânea, como a mineira Ana Martins Marques e Eucanaã Ferraz. No livro, o poeta volta às raízes em busca de sua ancestralidade e seu lugar no mundo, num exercício que descreve como antropológico e psicanalítico.

 


Entre os infantis, venceu “Cabo de guerra”, do veterano Ilan Brenman com o ilustrador Guilherme Karsten (Editora Moderna), também ganhador da categoria de ilustração. O livro conta a história de uma disputa infinita de cabo de guerra que toma proporções cada vez mais astronômicas.

 


O líder indígena Kaká Werá ganhou na categoria de melhor livro juvenil com “Apytama: Floresta de histórias” (Santillana), antologia que reúne autores indígenas já com estrada, como Daniel Munduruku e Cristino Wapichana, a autoras mais jovens na cena, como Trudruá Dorrico.

 

Superação

“Como pedra” (Comix Zone) foi o vencedor na categoria de quadrinhos, obra de Lukas Iohanathan, nascido no Rio Grande do Norte, sobre a superação da miséria e da escassez passada no sertão nordestino.

 


A categoria de livro brasileiro publicado no exterior foi vencida pela edição britânica de “O amor dos homens avulsos”, de Victor Heringer, morto tragicamente aos 29 anos, em 2018.

 


Como livro de artes, foi premiado “A verdade vos libertará” (Fósforo), parceria da fotógrafa Gabriela Biló com o designer Pedro Inoue e o projeto Medo e Delírio, sobre imagens de Brasília no contexto conturbado do governo Jair Bolsonaro.

 


O melhor livro de biografia e reportagem foi o da jornalista Betina Anton, “Baviera tropical”, que conta o período em que o médico nazista Josef Mengele ficou escondido no Brasil, até morrer incógnito. O livro da Todavia já teve uma série de traduções pela Europa.

 


Bel Santos Mayer, ativista respeitada na defesa do livro em São Paulo, levou a categoria de fomento à leitura por seu projeto de bibliotecas comunitárias em Parelheiros.

 


O eixo de não ficção teve mudanças significativas nesta edição, que deixou de selecionar obras de ciências, ciências humanas e ciências sociais com a justificativa de que essas categorias estão contempladas no novo Jabuti Acadêmico, já entregue em agosto.

 


No lugar, o prêmio abarcou três categorias voltadas a livros de público mais amplo: negócios, educação e saúde e bem-estar.

 


Na nova categoria de educação, saiu vencedor “Como ser um educador antirracista” (Planeta), da jovem professora baiana Bárbara Carine.

 


Já em saúde e bem-estar ganhou “O sentido da vida” (Paidós), livro póstumo de Contardo Calligaris, psicanalista morto em 2021. A categoria de negócios premiou “Consumo verde: A construção de um mercado de massa sustentável” (Tira de Letra), de Ricardo Esturaro.

 


Há ainda uma nova categoria de poeta estreante – vencida por Bianca Monteiro Garcia por “Breve ato de descascar laranjas” (7Letras), para se somar à de romancista – vencida em seu segundo ano de existência por “Os náufragos” (Patuá), de Patrícia Larini.

 


O vencedor na categoria livro do ano ganha R$ 70 mil e uma viagem para a Feira de Frankfurt. Os vencedores das demais categorias levam R$ 5 mil cada um. (Walter Porto e Isadora viola/folhapress)

 

Finalistas mineiros

A 66ª edição do Prêmio Jabuti teve entre os finalistas a poeta mineira Ana Martins Marques, na categoria poesia, com “De uma a outra ilha”, lançado pela editora Círculo de Poemas, e o também mineiro Jacques Fux, que disputou a categoria romance literário com “Nunca vou te perdoar por ter me obrigado a te esquecer” (Editora Faria e Silva).

 

Os vitoriosos nessas categorias foram, respectivamente, Ricardo Domeneck, por “Cabeça de galinha no chão de cimento”, e Itamar Vieira Junior, por “Salvar o fogo”.

 

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