O violonista Marcos Rufatto faz nesta quarta-feira (27/11) aquele que deve ser o último show da história do BDMG instrumental. Em maio passado, ele venceu a 23º edição da premiação, ao lado de três outros nomes: o baterista Arthur Rezende, o violinista Guilherme Pimenta e o clarinetista Felipe Rossi.

 




Cada um dos deles levou para casa um prêmio em dinheiro, além da produção de dois shows – um em Belo Horizonte e o outro em São Paulo. As apresentações vêm ocorrendo desde agosto.

 


A cerimônia da premiação se deu em meio a uma série de incertezas, já que, em abril, circulou publicamente um comunicado interno que anunciava o fim do BDMG Cultural, braço cultural do banco estatal com atuação em diversos setores, mais destacadamente na música e nas artes visuais.

 


Esta foi a segunda vez que Ruffato venceu o prêmio. A primeira foi em 2016, na ocasião como bandolinista. Ele diz que o projeto foi um divisor de águas em sua carreira. Cantor, compositor e também psicanalista, afirma que o reconhecimento serviu de impulso na música instrumental.

 


Filho de mãe pianista e pai guitarrista, Ruffato iniciou a formação musical ainda na infância, na casa da família, em Uberaba. Em 2020, lançou o elogiado disco de canções “Vata”, com participação de Toninho Horta, Sérgio Santos, Cristovão Bastos e Trio Amaranto.

 

“Catastrófico”

 

O artista lamenta a decisão do governo de extinguir o BDMG Cultural. “É horrível, catastrófico para a cultura mineira e para o mundo. O que a gente produz aqui não é só para a gente. Se tem uma coisa que em Minas Gerais é muito mais valioso do que o ouro ou o agro é a cultura. É o que deveria ser o principal carro-chefe, a principal commodities a ser exportada e incentivada”, aponta Rufatto. Desde a primeira edição, em 2001, o BDMG Instrumental fomentou a carreira de mais de 100 compositores e instrumentistas.

 


“O BDMG Cultural tinha várias frentes de atuação, na música, na dança, nas artes plásticas. Não se restringia ao fazer artístico. Atuava também na formação de público, na democratização do acesso e até em coisas que extrapolam o campo da cultura. Essa decisão é uma perda imensurável”, afirma.

 


No show de despedida, ele será acompanhado do sexteto formado por Breno Mendonça (saxofones e flauta), Igara (piano), Marcela Nunes (flautas), Thamiris Cunha (clarineta e clarone) e Yuri Vellasco (bateria e percussão). A apresentação, no CCBB-BH, também contará com participação especial de Itiberê Zwarg e sua filha Mariana Zwarg.

 


No repertório, músicas escritas por ele direcionadas a participar do prêmio, além de uma releitura de “Surfboard”, de Tom Jobim, e duas composições do convidado especial. Todas elas ganharam novos arranjos, escritos a quatro mãos por Marcos e Itiberê.

 


“Esse show vai ser muito importante. Vamos ter em mente que ele vai ser dedicado aos trabalhadores da cultura, do BDMG cultural e à cultura mineira”, afirma o músico.

 


Cronologia do fim

 

O processo de dissolução do BDMG Cultural começou a ser anunciado em 24 de abril passado, quando os 13 funcionários da instituição receberam um comunicado do Conselho de Administração informando sobre uma “transição para promover a dissolução” até o fim do ano.

 


Inicialmente, a gestão do BDMG Cultural foi transferida para a Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop). Jefferson da Fonseca, então presidente da Faop, assumiu o cargo de presidente do BDMG Cultural em 3 de maio, mas renunciou 10 dias mais tarde, após uma contenciosa audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa.

 


Em nota, o Conselho de Administração informou que a diretora financeira Larissa D’Arc responderia interinamente pela presidência, até a nomeação de um novo diretor-presidente.

 


Ao longo do processo, artistas, agentes culturais e funcionários realizaram protestos e manifestações. A abertura da exposição “Todas as coisas são infinitas coisas”, de Iago Marques, por exemplo, se transformou num protesto de artistas de diversas áreas contra o fechamento da instituição.

 


Em 26 de maio, durante a final do Prêmio BDMG Instrumental, o músico Leandro César leu uma carta aberta em nome do Fórum da Música de Minas Gerais, que dizia: “Acreditamos ser possível caminharmos juntos ao BDMG e à Associação de Funcionários do BDMG em um diálogo livre e construtivo pela permanência do BDMG Cultural.”

 


Em 5 de junho, as placas de identificação da sede do BDMG Cultural foram removidas. Questionada, a assessoria do banco afirmou: “Em cumprimento da orientação do Conselho Administrativo do BDMG para dissolução do Instituto Cultural Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG Cultural, estão sendo tomadas as medidas administrativas relativas a este processo, sem que haja o prejuízo do andamento das atividades em curso.”

 


O governo do estado permanece em silêncio sobre as motivações para a dissolução. Artistas e servidores reclamam da falta de transparência do processo decisório. Dez dias após a retirada das placas, Luiz Felipe Braga Bastos foi nomeado diretor-presidente.

 


Segundo comunicado enviado aos funcionários, Bastos chegou para “conduzir o processo de dissolução do BDMG Cultural, seguindo orientação do Conselho de Administração do BDMG”. Atualmente, restam apenas três funcionários na equipe.

 

Encerramento do 23º Prêmio BDMG Instrumental
Marcos Ruffato convida Itiberê e Mariana Zwarg, nesta quarta-feira (27/11), às 20h, no Teatro I do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Ingressos gratuitos disponíveis no site e na bilheteria.

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