Moana não se considera princesa, mas é tratada como tal. Sua comunidade, das crianças aos idosos, a reverencia como líder, enviada dos deuses para desbravar o oceano em nome de todos. Essa adoração, além de conduzir a história do filme “Moana 2”, dá o tom da relação que a personagem tem com os fãs na vida real.

 

 


Desde que surgiu, há oito anos, Moana se tornou figura identitária para crianças não brancas que não se viam nas tradicionais princesas da Disney. No novo filme, a personagem reforça esse apelo para uma geração mais jovem e ainda mais exigente com questões de diversidade, ainda que, na última década, os resultados financeiros e artísticos dessas apostas tenham oscilado.

 



 


Moana virou velejadora após cruzar os mares da Polinésia para salvar sua gente. As peripécias são interrompidas quando recebe a visita espiritual de ancestrais, que a orientam a explorar águas longínquas para resgatar uma ilha submersa, encontrar povos perdidos e reunir a nação despedaçada.


Ancestrais

 

A continuação dá mais vislumbres da comunidade Motonui, liderada por Moana, e mostra que suas aventuras inspiram outras meninas a se vestirem e agirem como ela, as “moanetes”.

 


Após a estreia do primeiro filme, em 2016, lojas de brinquedos ficaram entupidas de Moanas plastificadas, bonecas de pele escura e cabelo enrolado, expostas em meio a Barbies brancas de cabelo liso.

 


“Me lembro de pensar que gostaria de ter tido uma Moana para admirar quando era criança”, diz Dana Ledoux Miller, uma das diretoras de “Moana 2”, nascida em Samoa, na Polinésia. “Queria que meus primos, que todos nós tivéssemos uma representação como ela. Não me surpreende que o filme tenha marcado tantas pessoas.”

 

 

 


Moana não é a primeira princesa não branca coroada pela Disney. Antes, houve a negra Tiana de “A princesa e o sapo”. Mas ela não ficou tão popular, seja graças à baixa bilheteria do filme, que falhou em tentar retomar o traço das animações antigas em meio à ascensão do 3D, seja porque Tiana aparece mais como sapo do que como humana, ou por puro preconceito do público.

 


Nos anos 1990, o estúdio apostou nas indígenas Pocahontas e na chinesa Mulan. Porém, ambas receberam críticas por apresentarem suas culturas a partir de estereótipos.

 


Moana foi quem melhor rompeu barreiras, em termos de cultura e de negócios, para mergulhar a Disney na onda de diversidade.

 

 


No mesmo ano do primeiro “Moana”, o estúdio apostou em “Zootopia”, que discute racismo entre bichos, e anos depois lançou “Encanto”, com os dramas de uma família colombiana. Ambos levaram o Oscar de Melhor Animação.

 


Por outro lado, “Raya e o último dragão”, protagonizado pela princesa inspirada em povos do Sudeste Asiático, e “Wish”, que sagrou os 100 anos do estúdio com a heroína de pele escura, ficaram esquecidos pelo público.

 

 

Live-actions

 


Houve, ainda, a alta da maré de live-actions calcados no identitarismo. O “Aladdin” de 2019 e “Mulan” de 2020, com gente de carne e osso, tentaram corrigir os erros das animações. Depois a Disney escalou uma atriz negra para viver a Pequena Sereia.

 


Não à toa, “Moana” surfará nessa onda do live-action daqui a dois anos, com o musculoso Dwayne Johnson no papel do semideus Maui.

 

 


O estúdio, aliás, contratou consultores para tramas de fora do eixo Estados Unidos-Europa. “Moana” foi supervisionada pelo Oceanic Cultural Trust, com antropólogos, historiadores e linguistas especialistas na vida dos moradores das Ilhas Polinésias.

 


Sucesso de bilheteria, o primeiro “Moana” somou US$ 650 milhões. A continuação chega agora com boas expectativas. A pré-estreia já somou US$ 13,8 milhões. (Guilherme Luís/Folhapress)

 


“MOANA 2”


EUA e Canadá, 2024. Direção de David G. Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller. Animação em cartaz em BH nas salas das redes Cinemark, Cineart e Cinesercla.

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