Em 2018, a Orquestra Ouro Preto inovou ao transformar um livro – “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry – em espetáculo cênico e musical voltado para o público infantojuvenil. O êxito da experiência levou o grupo comandado pelo maestro Rodrigo Toffolo à segunda investida nessa seara, em 2021, com “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Passados três anos, é a vez de “A metamorfose”, novela de Franz Kafka, ser levada para o palco, em única apresentação neste sábado (23/11), às 20h, no Sesc Palladium.

 

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A orquestra divide a cena com atores e coro infantil, que também atua como personagem da história. O texto adaptado chega ao público por meio da trilha sonora original, que, no caso dos dois primeiros espetáculos, foi composta por Tim Rescala. Para “A metamorfose”, Toffolo convidou John Ulhoa e Richard Neves, da banda Pato Fu, para criar as canções do concerto, que o maestro define como cantata cênica.

 

 

“É um espetáculo para três atores – Marcelo Veronez, Ana Cristina e Jhê –, coro infantil e orquestra. A história se desenvolve por meio desses três atores, que se revezam como o narrador, Gregor Samsa (protagonista que se metamorfoseia em monstruosa barata), o pai, a mãe e a irmã. O coro também atua como um personagem, ora como Gregor, ora como espectador”, explica o maestro.

 

 


 

A proposta é despertar a curiosidade do público infantojuvenil para a literatura. No caso de “A metamorfose”, o coro é formado por 42 crianças e adolescentes de Brumadinho (MG), Serra (ES), Corumbá (MS) e Belém (PA), polos do projeto Vale Música – o espetáculo é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale. A apresentação será transmitida ao vivo pelo canal da Orquestra Ouro Preto no YouTube.

 

Muito além da barata

 

Com base na experiência de “O pequeno príncipe” e “Fernão Capelo Gaivota”, Toffolo fez a adaptação do texto de Kafka. “Tem a questão do personagem que vira barata, o que por si só potencialmente já chama a atenção do público, mas a ideia foi ir além disso. A adaptação aborda a história da família que tem de lidar com mudança tão brusca de seus membros, além de chamar a atenção para profissões curiosas, pois Gregor é caixeiro viajante”, diz.

 

 

De acordo com o maestro, a história de Kafka tem uma camada de mistério, que foi mantida no espetáculo. “A metamorfose” não é livro infantojuvenil, mas Toffolo considera possível trabalhar com a obra de forma a instigar a imaginação e a curiosidade de crianças e adolescentes. Ele deixou o que julgou mais denso de fora, mas pondera que a criança, mesmo em idade mais tenra, pode ler a novela com os pais, por exemplo.

 

 

“É um livro para ser retomado ao longo da vida. Cada vez que você retoma, a profundidade vai aumentando. Com 'O pequeno príncipe' também é assim. Com o passar do tempo, você vai pescando aquilo que sua maturidade permite. A ideia é mexer com o imaginário do público através do encontro da literatura com a música. Uma pessoa se transformar numa criatura meio repugnante captura a atenção dos meninos”, destaca.

 

Parceria antiga com Pato Fu

 

Sobre a escolha de John Ulhoa e Richard Neves para compor a trilha, o maestro lembra o fato de Pato Fu e Orquestra Ouro Preto terem desenvolvido projetos juntos – inclusive um álbum. Outra razão é o trânsito da banda entre o público infantojuvenil, desde o lançamento do primeiro volume do álbum “Música de brinquedo”, passando por colaborações com o Grupo Giramundo.

 

“Quando comecei a pensar em 'A metamorfose', achei que tinha a cara do John, por conter certa irreverência, um certo humor sempre presente no trabalho do Pato Fu. Não poderia estar mais certo. As canções do espetáculo têm muito o bom humor que os caracteriza, a coisa engraçada que o Pato Fu sempre teve. Acaba tendo, também, a cara da Orquestra Ouro Preto, com o traço de ousadia que carregamos”, comenta.

 

Expansão e limite

 

John Ulhoa revela que, ao compor a trilha, não se preocupou em se dirigir estritamente ao público infantojuvenil. Para ele, trabalhar com essa faixa etária representa, ao mesmo tempo, expansão de possibilidades e limite do que pode ser dito. “É contraditório, mas inspirador”, diz.

 

“O caminho é produzir coisas que sejam interessantes. Em primeiro lugar, para mim mesmo, para o Richard, para o maestro e para a orquestra. Assim, a gente oferece para as crianças e adolescentes algo que vai um pouco além do que seria o esperado num espetáculo infantojuvenil”, acrescenta.

 

De acordo com o guitarrista e compositor, as canções se filiam a diversos estilos e, dessa forma, passeiam pelo tema de cada cena.

 

“A METAMORFOSE”


Cantata cênica da Orquestra Ouro Preto inspirada na novela de Franz Kafka. Com Marcelo Veronez, Ana Cristina, Jhê e coro formado por crianças do projeto Vale Música. Estreia neste sábado (30/11), às 20h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma Sympla.

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