O Grupo Corpo esteve em cartaz em Belo Horizonte, em setembro passado, com os espetáculos “O corpo” (2000), que tem trilha sonora de Arnaldo Antunes, e “Benguelê” (1998), cuja música leva a assinatura de João Bosco. A partir desta quinta-feira (5/11), a companhia de dança mineira volta ao cartaz na cidade, com sua tradicional temporada popular, com apresentações até o próximo domingo (8/12), no Cine Theatro Brasil Vallourec.
O programa traz novamente “Benguelê”, desta vez em dobradinha com “Gil refazendo” (2022). O coreógrafo Rodrigo Pederneiras diz que o repeteco do espetáculo com trilha de João Bosco se justifica porque o público da temporada popular é diferente. “Aquelas apresentações de setembro foram dentro do que consideramos nossa temporada anual, regular, e pela nossa experiência sabemos que essa temporada popular atrai um outro tipo de plateia”, diz.
Ele classifica “Benguelê” como um espetáculo que “é chão de terra batida”, com elementos do congado e referências a nomes como Pixinguinha e Clementina de Jesus, bem como às danças do interior e às festas populares.
Trata-se de um espetáculo fortemente ancorado na cultura africana. Já a coreografia criada a partir da trilha sonora composta por Gilberto Gil é, de acordo com Pederneiras, um pouco mais urbana, menos calcada na ancestralidade, mais voltada para o futuro.
“Quis fazer uma coisa como se fosse uma construção, como se nós, o país, estivéssemos construindo alguma situação que vá fazer com que a vida melhore. Uma coisa que acho muito importante atualmente é a ideia de união, de um grupo coeso em torno de um sentimento, de um caminhar na direção de algo que seja mais produtivo e que torne a vida mais legal”, diz. Ele recorda que essa foi a conversa em pauta quando o espetáculo foi efetivamente refeito.
Repertório
Dentro do vasto repertório do Grupo Corpo, “Gil refazendo” guarda essa particularidade, de ser um espetáculo que virou outro. A trilha sonora encomendada cantor e compositor baiano chegou às mãos do diretor artístico da companhia, Paulo Pederneiras, e de Rodrigo Pederneiras em 2019. Ele, então, concebeu a coreografia como uma homenagem, batizada apenas como “Gil”. O espetáculo estreou em agosto daquele ano, em São Paulo, e cumpriu uma temporada em Belo Horizonte, em setembro.
A chegada da pandemia, no entanto, abortou a trajetória que “Gil” vinha cumprindo. Foi quando Pederneiras achou por bem recriar aquela coreografia. “Refiz todo o balé, mantive só duas cenas”, diz. “Com relação a 'Gil', como era uma homenagem, foi difícil achar uma veia, um caminho. Mesmo com o espetáculo tendo estreado, hoje eu entendo que não achei esse caminho. A gente errou a direção. Para 'Gil refazendo', a gente sentou, conversou e deu um direcionamento mais concreto para a obra”, afirma.
História de verdade
No próximo ano, o Grupo Corpo completa cinco décadas de trajetória na condição de uma das mais prestigiadas companhias de dança brasileiras, reconhecida mundialmente, e que já estabeleceu parcerias com alguns dos maiores compositores do país. Rodrigo Pederneiras diz que não costuma ficar olhando para trás, mas tem consciência de que construiu uma “história de verdade”, de uma companhia de dança contemporânea que faz 50 anos e continua produzindo. “Isso, no mundo, quase não existe”, comenta.
Criando coreografias para o Grupo Corpo desde 1978, ele considera que o momento seja propício para mudanças. “Uma coisa que vejo que é legal agora é que está na hora de eu começar a me afastar um pouco. Trouxemos a Cassi Abranches para trabalhar junto; Gabriel Pederneiras, meu filho, também está aqui, assumindo postos. É a coisa de dar uma renovada mesmo. Eu faço 70 anos em janeiro, então não dá para exigir muito mais dessa cabeça cansada e pelada”, brinca.
GRUPO CORPO
Temporada popular, com as coreografias “Gil refazendo” e “Benguelê”, a partir desta quinta-feira (5/12) até o próximo sábado (7/12), às 20h, e no domingo (8/12), às 18h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro – 31. 3201-5211). Ingressos a R$ 39,80 (inteira) e R$ 19,90 (meia), à venda na bilheteria do teatro e pelo site Eventim. Classificação indicativa: livre.