Toninho Horta não se recorda da última vez em que subiu ao palco sem sua guitarra. “Só mesmo quando dava alguma canja nos shows de outros artistas”, comenta com seu bom humor habitual. Mas neste sábado (7/12), o guitarrista, considerado um dos cinco melhores do mundo pela revista britânica Melody Maker, fará algo diferente: apresentará um show apenas cantando, na abertura da turnê comemorativa dos 45 anos do álbum “Terra dos pássaros”. O evento acontece às 20h, no Sesc Palladium.
A alteração no formato da apresentação foi necessária devido a um acidente sofrido pelo músico na semana passada, durante sua primeira turnê internacional como artista solo. Toninho estava na Inglaterra, pronto para embarcar em um trem de Londres para Liverpool, quando caiu de uma escada rolante na estação. “Na correria, para não perder o trem, carregando várias malas pesadas, entrei errado na escada e despenquei lá de cima. Por sorte, caí sobre a mala, senão o estrago teria sido maior”, relata.
Mesmo minimizando a situação, os danos foram significativos. Toninho quebrou o pulso e três costelas, além de ter ficado com marcas do degrau dentado da escada na perna esquerda. Ele precisará passar por uma cirurgia no braço nas próximas semanas. “Do lado esquerdo do meu corpo, só o coração está funcionando”, brinca. “Fraturei o rádio e a ulna, os ossos que conectam o antebraço à mão. Apesar de conseguir mexer os dedos, não consigo girar o braço, o que me impede de tocar”, explica.
Novo arranjo
Para o show, pequenos ajustes foram feitos na banda. O violonista Tattá Spalla assumirá as bases de violão, enquanto Beto Lopes ficará responsável pelos solos, tradicionalmente executados por Toninho. O argentino Lizandro Massa cuidará dos teclados e piano, e Cyrano Almeida comandará as percussões. O show também contará com participações especiais de Joyce Moreno, Robertinho Silva, Nivaldo Ornelas, Wagner Tiso e Lena Horta.
A ideia da turnê surgiu durante uma entrevista concedida ao jornalista Fábio Corrêa, do Estado de Minas, em setembro deste ano. “Quando ele me procurou para fazer uma matéria sobre os 45 anos do álbum, percebi que seria importante realizar um show comemorativo. Então comecei a ensaiar as músicas para que, ao vivo, elas soassem o mais próximo possível das gravações originais”, explica.
O espetáculo será dividido em duas partes. Na primeira, Toninho seguirá a ordem do álbum “Terra dos pássaros”, começando com “Céu de Brasília” e passando por faixas como "Diana", "Dona Olímpia", "Viver de amor" e "Pedra da lua", encerrando com "No carnaval". Na segunda, serão interpretadas composições populares do músico lançadas após o disco, como “Manuel, o audaz” e “Durango Kid”.
Elis, Edu e Gal
"Terra dos pássaros" foi um marco na carreira de Toninho, consolidando-o como artista solo. Até então, ele havia tocado com nomes como Elis Regina, Edu Lobo e Gal Costa, além de integrar o Clube da Esquina. O álbum destacou seu estilo único, com acordes dissonantes e harmonias inspiradas no jazz moderno, apresentando aos brasileiros o que ficou conhecido como “jeito Toninho Horta de tocar guitarra”.
“Revisitar essas músicas é como viajar no tempo. Foi como me ver novamente nos anos 70 e 80, tocando com os mesmos arranjos e ritmos”, afirma. “Embora algumas canções se tornem repetitivas com o tempo, este show será fiel ao álbum. É claro que não será idêntico, porque somos seres humanos. Mas faremos o mais parecido possível."
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Além de cantar, Toninho aproveitará momentos entre as músicas para compartilhar histórias e curiosidades sobre o processo de composição e gravação do disco. Ele lembra com carinho que a produção só foi possível graças à generosidade de Milton Nascimento. Em 1976, enquanto acompanhava Bituca na gravação do álbum “Milton” em Los Angeles, sobraram fitas e tempo de estúdio, que Milton cedeu para que Toninho produzisse seu primeiro trabalho solo – Bituca, cumpre dizer, participou da faixa de abertura, “Céu de Brasília”, composta em parceria com Fernando Brant.
“Claro que não vou ficar falando o show inteiro”, brinca Toninho. “Só em momentos oportunos, para não prejudicar o ritmo da apresentação”, conclui.