Nelson Cruz buscou poesia no amontoado caótico das coisas destinadas ao lixo -  (crédito: Acervo pessoal)

Nelson Cruz buscou poesia no amontoado caótico das coisas destinadas ao lixo

crédito: Acervo pessoal

 

 

“Mestre da difícil arte de reconciliar letra e imagem”. Esta é a definição do poeta Ricardo Aleixo para Nelson Cruz, ao apresentar o novo livro do escritor e ilustrador mineiro. O título é longo: “Deztroços ou Objetos reciclados, organizados em elegia literovisual e fidedigna quinquilharia crítica” (Editora Maralto).

 

 


A publicação reúne fotografias de 20 livros-objetos criados por Cruz a partir da reutilização de materiais descartados. Cada peça é única, confeccionada com elementos que voltam à vida pelas mãos do artista.

 

 

 


Neste sábado (7/12), na Livraria Quixote, o lançamento contará com a participação da esposa de Nelson, a artista e ilustradora Marilda Castanha, que autografa “Entre tantos” e a edição ilustrada de “Profissões para mulheres”, de Virginia Woolf, traduzida por Adriana Lisboa.

 

 

Espinha de peixe e parafusos fazem parte do livro-objeto de Nelson Cruz que faz parte da obra Deztroços

Espinha de peixe "dialoga" com pedaços de parafuso no livro-objeto de Nelson Cruz

Pith Haiducki/reprodução

 

 


A ideia de “Deztroços” surgiu em 2022, após a chegada de uma compra online. Em momento de epifania, Nelson passou a refletir sobre o impacto ambiental do consumo e acúmulo de embalagens. O que mais o incomodou eram os plásticos que revestiam quase todos os produtos adquiridos por ele. Inquieto, guardou as embalagens que chegavam em sua casa – não apenas as suas, mas também as dos filhos.

 

 


Em certo momento, Nelson começou a aproximar os objetos, buscando dar significado ao que inicialmente parecia um amontoado caótico. As primeiras criações foram surgindo como assemblages.

 

“Nós usamos esta palavra artisticamente, mas ela nada mais é que montagem”, explica Nelson. O processo foi inicialmente intuitivo, sem pretensão de ser transformado em livro.

 

“As coisas ao meu redor começam a cobrar uma postura: ‘O que você vai fazer comigo agora?’. Era como se os objetos dissessem: ‘Estou aqui e preciso ter vida própria!’. Então, comecei a combinar os objetos de forma a criar algo artístico, que tivesse razão de existir enquanto obra de arte”, conta Cruz. Vencedor de seis prêmios Jabuti, o mineiro é artista plástico, chargista, escritor e ilustrador.

 

 

Livro-objeto de Nelson Cruz tem pequena escultura de homem, quebrada, dentro de fechadura velha. Ele faz parte da obra Deztroços

O pequeno homem de cerâmica encontra abrigo junto da velha fechadura enferrujada

Pith Haiducki/reprodução

 


As montagens foram influenciadas pela poesia de Torquato Neto (1944-1972). “Fiquei encantado com a maneira como Torquato utiliza variações e não se fixa em algo muito palpável. Ele pega todos os elementos e joga no poema. Esse princípio guiou minha criação”, diz.

 


Com base nisso, o artista compôs 20 objetos, utilizando materiais comuns no universo da reciclagem – madeira, arame, barbante e plástico –, mas também itens inusitados, como espinhas de peixe, ratoeira, trinco de janela e ralo de pia. “Abandonei o material artístico convencional, utilizei o caos como matéria-prima”, afirma.

 


Concluídas as montagens, Nelson se deparou com nova questão: o que fazer com aquelas peças? “Eram objetos que diziam mais sobre mim, enquanto pessoa preocupada com o lixo que produzimos. Me convenci de que os objetos tinham uma razão plástica de existir. Publicar um livro faria mais sentido do que organizar uma exposição”, explica.

 


 
Fotografadas por Pith Haiducki, as obras foram nomeadas “Objeto 1”, “Objeto 2”, “Objeto 3” e assim por diante. Inspirado em Torquato, para cada uma delas Nelson escreveu um poema curto, com três ou quatro versos.

 


“Já faz algum tempo que, em um livro ou outro, venho combinando desenho com objetos. Mas neste eu radicalizei. Por isso o título é escrito com Z. Ele já inicia com a ideia de caos”, explica Nelson Cruz.

 

 


“Procuro manter a conversa com o leitor, por meio das montagens, para que ele tenha deleite visual e, ao mesmo tempo, compreenda a representação do caos que observei naqueles objetos”, conclui.

 


“DEZTROÇOS”


• Livro de Nelson Cruz
• Editora Maralto
• 128 páginas
• R$ 79,90
• Lançamento neste sábado (7/12), às 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)

 

 

OUTRO LANÇAMENTO



NA AML


A Academia Mineira de Letras (AML) promove a segunda edição do projeto Lançamento Coletivo, neste sábado (7/12), das 10h às 13h. Dez autores do estado trazem a público livros publicados entre 2022 e 2024. Entre eles está Maria Lúcia Alvim (1932-2021), com o lançamento póstumo de sua poesia reunida, organizada pela editora Relicário. Com entrada franca, o evento será realizado na Rua da Bahia 1.466, Lourdes.