Foto da despedida da turma do 3º clássico do Colégio Marconi, na escadaria do colégio, em 7 de dezembro de 1960. Luiz Vilela, agachado, é o segundo da esquerda para a direita
 -  (crédito: Acervo pessoal)

Foto da despedida da turma do 3º clássico do Colégio Marconi, na escadaria do colégio, em 7 de dezembro de 1960. Luiz Vilela, agachado, é o segundo da esquerda para a direita

crédito: Acervo pessoal

 

 

Mineiro de Ituiutaba, onde até hoje reside, o escritor Luiz Vilela reencontra a Belo Horizonte de sua adolescência no livro “Colégio Marconi”. Integrante da coleção “BH. A cidade de cada um”, a publicação sobre a escola tradicional do Bairro Santo Agostinho ganha lançamento nesta terça-feira (10/12), no Teatro Francisco Nunes, na comemoração dos 20 anos do projeto editorial idealizado pelos jornalistas José Eduardo Gonçalves e Silvia Rubião.

 

 


Vilela estudou no Colégio Marconi no final dos anos 1950. Tinha 15 anos quando se mudou para a capital mineira e é por meio das lembranças dessa fase da vida que narra a história do educandário. “Se alguma influência teve o colégio em minha formação, foi na liberdade”, conta ao Estado de Minas o autor de obras marcantes da literatura brasileira da segunda metade do século 20, a exemplo de “Tremor de terra” e “Os novos”.

 

 

 


O escritor não estará no lançamento desta terça-feira, mas a celebração das duas décadas da coleção terá a presença de alguns dos autores e autoras dos 39 títulos publicados (cada título custa R$ 40). Leia, a seguir, a entrevista de Luiz Vilela.

 


Como a história do Colégio Marconi é também a história de sua adolescência?


É também a história de minha adolescência, mas em parte, é claro. O livro conta a minha ida para Belo Horizonte, aos 15 anos, na continuação de meus estudos, e o que vi e vivi no colégio durante os três anos do curso clássico.

 

A história é, ainda, a história de sua família, especialmente a de seu pai?


Em termos, sim, história de minha família, já que nela aparecem, como não podia deixar de ser, meu pai, minha mãe e meus irmãos. Com relação à família, lembro aqui, a quem interessar possa, que há mais tempo publiquei neste jornal um texto sobre meu pai, “Palavras”, e, depois, um sobre minha mãe, “Aos 104 anos”. Os dois textos, com outros de não ficção, publicados ou inéditos, estarão reunidos num livro que pretendo oportunamente publicar, “Escritos diversos”. Ainda a respeito da família, um de meus projetos é a publicação de um livro com as cartas que minha mãe me escreveu. São 44 cartas, escritas de 1960 a 1969 e enviadas para as cidades onde morei ou onde fiquei por mais tempo: Belo Horizonte, São Paulo, Iowa City e Barcelona.

 

 

Como o fato de ter estudado em colégio fundado por integralistas influenciou a sua formação?
O colégio foi fundado em 1937. Como era ele naquele tempo, não sei, mas, quando nele fui estudar, em 1958, não havia lá nada de integralismo, nem de qualquer outra doutrina política ou religiosa. O que havia era uma total liberdade. E então, se alguma influência teve o colégio em minha formação, foi por essa liberdade.

 

O que guardou para sempre do que aprendeu com professores como Marcel Debrot?
No caso de Debrot, e para ficar naquela época, eu, que gostava muito da literatura francesa e já andava lendo no original autores contemporâneos como Gide, Malraux, Sartre e Camus, com o que aprendi de francês nas aulas dele, passei a gostar mais ainda.

 

 

Escritor mineiro Luiz Vilela, de braços cruzados, olha para a câmera e sorri

Luiz Vilela planeja publicar livro com as cartas que recebeu da mãe de 1960 a 1969, quando morou em BH, São Paulo, Iowa e Barcelona

Jackson Romanelli/divulgação

 

 

Você lembra no livro um episódio no qual uma de suas redações ganhou a nota 10 e foi qualificada pelo professor de português Antonio Salles Filho como “um colosso”. Como esse fato marcou a sua trajetória de escritor?


Como já contei em outras ocasiões, eu comecei a escrever aos 13 anos. Receber aos 15 um elogio desses, ao vivo, foi para mim muito importante, assim como antes, aos 14, no ginásio, o comentário, por escrito, do Padre Luciano, “você tem pinta de bom escritor”. Como digo lá no livro, considero um como o que de mais importante aconteceu no clássico, e o outro como o que de mais importante aconteceu no ginásio. E ambos como duas das coisas mais importantes de toda a minha vida.

 

 

Seu professor de filosofia, Arthur Versiani Velloso, ganha espaço generoso no livro. O que o fez ser tão especial para você e para outros escritores, como Cyro dos Anjos e Autran Dourado?
Depois de tudo o que eu disse no livro, o que mais dizer? Talvez, simplesmente, que o professor Velloso foi uma das pessoas mais interessantes que eu já conheci.

 

Você revela, no livro, que ao menos dois de seus contos recriam fatos ocorridos em sua época de estudante do Marconi. Suas histórias nascem de suas lembranças ou também do que observa na vida de outras pessoas?
Minhas histórias nascem do que lembro, do que observo e de tudo o mais. A propósito, ao encerrar esta entrevista, informo que vem aí, em 2025, mais uma nova história minha, uma história longa. É um romance, cujo título aqui divulgo pela primeira vez: “Bicho vagabundo”.

 


“COLÉGIO MARCONI”


Lançamento do livro de Luiz Vilela e comemoração de 20 anos da coleção “BH. A cidade de cada um”. Nesta terça-feira (10/12), às 18h30, no Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal (Av. Afonso Pena, 1.321, Centro). Cada exemplar da coleção estará à venda por R$ 40.