A obra

A obra "Photosphere", do artista Vigas, criada com o uso de dados sobre a atividade solar, abre a exposição em cartaz em BH a partir de hoje

crédito: Jair Amaral/eEM/D.A.Press

 

Um círculo de MDF com dois metros de diâmetro, uma fita de LED e um projetor laser. “Photosphere”, obra que abre a exposição “Luz Æterna – Ensaio sobre o Sol”, em cartaz a partir desta quarta-feira (11/12), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte, foi criada com materiais quase ordinários.

 


O que os olhos não veem é a tecnologia por trás da obra do artista Vigas, bem como a pesquisa empreendida para que o resultado arrebate o espectador. Durante cinco minutos, ficamos mesmerizados pelas imagens e pelos sons da instalação, que emula a fotosfera, ou seja, a camada visível do Sol.

 

 

Esta obra compõe, com outras seis, a primeira mostra do CCBB-BH dedicada à chamada arte das novas mídias. Concebida e realizada pelo Aya, estúdio paulistano criado há cinco anos por Antonio Curti, que assina a curadoria, e por Felipe Sztutman, que faz a direção da exposição, “Luz Æterna” apresenta grandes instalações (seis delas criadas especialmente para a mostra) que tratam de arte e tecnologia.

 


Público surpreendente

A dupla já é conhecida em Belo Horizonte. O Aya assinou a mostra “Oceanvs”, que levou 90 mil pessoas à Casa Fiat, entre setembro e novembro de 2023 – recorde de público que surpreendeu os próprios artistas. “Uma parte do trabalho ainda é na frente do computador, mas ele se transforma em um ambiente imersivo, onde físico e digital se relacionam de forma muito próxima. A ideia é trazer o mundo virtual para o real”, afirma Sztutman sobre os projetos desenvolvidos pelo estúdio.

 


Todas as instalações de “Luz Æterna” são assinadas por artistas brasileiros – coletivos ou individuais. “O Sol teve dois momentos cruciais no desenvolvimento da humanidade. O primeiro foi o domínio do fogo. E o segundo foi sua réplica com a luz artificial, com a energia elétrica. Ou seja, a gente consegue ter o Sol dentro de nossas casas”, afirma Curtis.

 


“Além disso, todo mundo vê o Sol, sente, conhece, tem uma afinidade. É um tema com que todos se relacionam”, acrescenta, a respeito do conceito curatorial. E a ideia é apresentar trabalhos acessíveis ao grande público. “A tecnologia entra como ferramenta. É um meio, não um fim”, diz Sztutman.

 


Voltando a “Photosphere”, Curtis explica como foram produzidas as imagens e sons. “É uma obra que trabalha com um dos subtemas das novas mídias, que é a arte de dados. Para criá-la, o artista capturou, de diversas APIs (sigla para Interface de Programação de Aplicação, que são mecanismos que permitem que dois componentes de software se comuniquem) abertas, seja da NASA e de outros institutos, dados sobre a atividade solar. Ele transformou essas informações em conteúdo.”

 


Pode ser complicado entender a teoria, mas, na prática, funciona. E encanta o espectador, que não precisa compreender muito de dados e programação para se relacionar com a obra. Como toda mostra de arte imersiva, a relação com o público se completa nas imagens que vão sendo publicadas nas redes sociais. Antes de chegar a BH, a exposição foi exibida nas unidades do CCBB de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, totalizando 325 mil visitantes.

 


Placas de LED

Cada uma das instalações ocupa um espaço do terceiro andar do prédio na Praça da Liberdade. “Céu zero”, de Matheus Leston, foi criada a partir de 32 placas de LED. Na sala escura, o som é muito alto – e ele acompanha as imagens formadas ao longo da obra.

 


“Acho que os outros trabalhos têm uma relação mais clara com o Sol. Eu me inspirei na ideia do horizonte, porque, mesmo que o céu pareça plano (ao olho nu), ele é profundo. Então quis trabalhar com a ideia de luz com profundidade”, conta Leston. Um programa de computador vai gerando as imagens e os sons, que vão sempre mudando.

 


Única artista da exposição, a pernambucana Ero criou a instalação “Fluido solar”, que trata do Sol como energia vital. Uma grande tela foi montada em cima de raízes que simbolizam a conexão da natureza com a tecnologia. O espectador deve se posicionar diante desta tela, que durante 90 segundos vai fazer uma leitura da luz de cada pessoa – grosso modo, seria como uma selfie da energia vital de cada um.

 


“Gênesis”, instalação que fecha a exposição, foi criada pelo Aya. Em uma sala com capacidade para 40 pessoas, o público acompanha a trajetória do Sol – de sua origem até o seu papel no mundo contemporâneo. A projeção, de 11 minutos, domina todas as paredes e o piso da sala. Ainda que as imagens remetam à natureza, tudo o que é visto ali foi criado digitalmente.

 


“É difícil construir no computador uma imagem e saber como exatamente ela vai ficar num ambiente com paredes de 3 metros de altura e piso de 6X9 metros”, comenta Sztutman. “Para que a gente consiga antever o resultado que será apresentado no ambiente, o laboratório tem a metade de uma sala de cinema (espaço que é utilizado para fazer os devidos testes).”

 


Para a criação das imagens, ele conta, foram utilizadas várias ferramentas de vídeo. As imagens de “Gênesis” são exibidas por meio de 10 projetores. “Quanto menos eles aparecerem, melhor”, comenta Sztutman.

 

“LUZ ÆTERNA – ENSAIO SOBRE O SOL”
Exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Abertura nesta quarta (11/12), às 10h. Visitação de quarta a segunda, das 10h às 22h. Até 10 de fevereiro. Entrada franca. Ingressos disponíveis na bilheteria e no site do CCBB.