Livre do pensamento hegemônico ou redutor, a produção cinematográfica realizada à margem dos grandes centros é rica, diversa e inventiva. Um pouco dessa pluralidade poderá ser conferida a partir desta quarta-feira (11/12), na 5ª Mostra Periferia Cinema do Mundo, que exibirá 19 filmes até domingo (15/12), no Cine Santa Tereza. Os curtas e longas-metragens foram produzidos entre 2023 e 2024 nas periferias de Belo Horizonte e região metropolitana.
A abertura será às 19h com o longa “O dia que te conheci”, de André Novais Oliveira. Com Grace Passô e Renato Novaes no elenco, conta a história do trabalhador que diariamente se desloca de Belo Horizonte para Betim, onde trabalha na biblioteca de uma escola pública. Constantemente atrasado, acordar cedo vai ficando cada vez mais difícil, até que ele conhece Luísa e tudo muda em sua vida.
Coordenadora do Cine Santa Tereza, Vanessa Santos explica que a seleção dos títulos segue a mesma linha curatorial da primeira edição. “A intenção é fazer uma espécie de mapeamento para termos ciência do que está sendo feito nesses territórios e traçar um panorama dessa produção”, diz. A mostra busca também dialogar com outros estados. Além da produção local, traz títulos de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
Outro filme selecionado é o documentário carioca “Favela do Papa”, longa de Marco Antônio Pereira que estará em cartaz no domingo (15/12), às 19h. “O expressivo, mesmo, da produção periférica são os curtas. Com eles, tentamos montar um conjunto revelador da diversidade em Belo Horizonte e na região metropolitana. Filmes trazem o Morro do Papagaio, Morro das Pedras e Cabana do Pai Tomás, há filmes de Contagem e de Betim”, diz Vanessa.
Ela destaca a seleção de obras realizadas no contexto de processos formativos, que evidencia a visão e a potência criativa de jovens sobre questões relacionadas aos próprios territórios e vivências.
Vanessa Santos cita oficinas ministradas por ONGs e entidades como Horizontes Periféricos, Projeto LABmais – Laboratório Sesc de Artes, Mídias, Tecnologias e Juventudes, Coletivo PPL e Projeto Campos Culturais.
“Queremos estabelecer um diálogo com essa produção, que não tem muita circulação. Voltar o olhar para os jovens, saber o que estão dizendo. Tem uma sessão de curtas com realizações coletivas feitas no contexto de projetos sociais. Esses filmes estarão concentrados no domingo. A ideia é colocar educadores e alunos de oficinas em diálogo com o público, no sentido de incentivar o que a gente pode entender como início de carreira de jovens realizadores”, destaca.
Vanessa Santos ressalta a diversidade de temáticas, gêneros e linguagens no âmbito da produção audiovisual periférica. Há produção expressiva de documentários, linguagem que permite filmar com poucos recursos e traz algo mais próximo da vida dos realizadores.
A coordenadora do Cine Santa Tereza ressalva, no entanto, que há produção notável de filmes de ficção. “Mesmo com poucos recursos, o pessoal se arrisca. Tem, inclusive, produções premiadas, como o 'Lapso', da Caroline Cavalcanti, que foi para Berlim, foi para Tiradentes, e é ficção. A periferia se aventura também pelo experimentalismo. Nesse campo, destaco o 'Europa – Me avise quando chegar', do Marco Antônio Pereira, que ganhou o FestCurtas e é um documentário experimental”, diz.
Cinema plural
Ainda que algumas questões perpassem esta produção audiovisual, como a violência, os dramas e dificuldades da juventude preta, Vanessa diz que é complicado falar em cinema periférico no singular.
“Ele é muito diverso, mostra a potência da criatividade dos sujeitos que estão produzindo. Claro, tem questões que habitam esses lugares, mas aí é cair num discurso hegemônico e simplista, o que não é legal. Mesmo temas mais presentes são abordados de maneiras muito variadas”, aponta.
De Contagem para o mundo
Desde a primeira edição, a Mostra Periferia Cinema do Mundo é aberta por trabalhos da produtora Filmes de Plástico, criada em Contagem pelos cineastas André Novais Oliveira, Gabriel Martins e Maurílio Martins e pelo produtor Thiago Macêdo Correia.
“A trajetória deles é exemplo da potência de filmes produzidos em territórios periféricos. O próprio nome da mostra tem a ver com isso. É Periferia Cinema do Mundo porque abarca temas que não se relacionam só com quem vive em regiões periféricas. São temas universais, que tratam de afetos, dificuldades e sonhos. As produções da Filmes de Plástico alçam voos dialogando com o público brasileiro e internacional pela maneira primorosa que elas têm de lidar com a vida”, diz Vanessa Santos.
5ª MOSTRA PERIFERIA CINEMA DO MUNDO
Exibição de 19 filmes. Desta quarta-feira (11/12) a domingo (15/12), com sessões às 16h30 e às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Entrada franca, com retirada de ingressos na plataforma Sympla e na bilheteria, 30 minutos antes de cada sessão. Programação completa no Instagram do Circuito Municipal de Cultura.