A paisagem da Praça da Liberdade integra a série mais recente de pinturas de Carlos Bracher em homenagem a Belo Horizonte -  (crédito: Cristiano Quintino / divulgação)

A paisagem da Praça da Liberdade integra a série mais recente de pinturas de Carlos Bracher em homenagem a Belo Horizonte

crédito: Cristiano Quintino / divulgação

 


“Belo Horizonte é a cidade do encantamento, da família, porque sempre representou, para mim, a volta ao mundo familiar”, diz o pintor Carlos Bracher, sem disfarçar a emoção, com a voz embargada. A relação do artista, natural de Juiz de Fora, com a capital mineira é o motor da exposição “Belo Bracher Horizonte”, que será inaugurada nesta quinta-feira (12/12), na Casa Fiat de Cultura, reunindo 60 obras. A maior parte é inédita, foi produzida este ano, especialmente para a mostra.

 


A série temática – a sexta da trajetória de Bracher, que já teve como temas Van Gogh, Brasília e Aleijadinho – traz pinturas em óleo sobre tela, aquarelas e desenhos a carvão. As imagens mostram as paisagens, a arquitetura e as personalidades que ajudaram a construir a identidade cultural de BH. Com curadoria de Fani Bracher, esposa do artista, a mostra é dividida em sete núcleos temáticos e celebra o aniversário de 127 anos da cidade.

 


O conjunto cobre um arco temporal que vai desde o primeiro quadro que Bracher pintou de Belo Horizonte, em 1963, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, até os dois mais recentes – da Praça da Liberdade e do Museu Abílio Barreto. Um dos destaques é o quadro “Paixão segundo São João”, apresentado à parte, fora dos núcleos, que foi feito ao vivo, em abril deste ano, enquanto o Coral Lírico de Minas Gerais e a Orquestra Sesiminas executavam a célebre obra de Johann Sebastian Bach.

 


Ouro Preto

Bracher, que vive em Ouro Preto desde 1971, conta que seu avô paterno se mudou de São Paulo, sua cidade natal, com toda a família para Belo Horizonte em 1927. A mãe nasceu em Diamantina, mas foi criada na capital mineira. “Na juventude, meus pais se conheceram e se casaram em Belo Horizonte, tiveram quatro filhos – Décio, Celina, Paulo e Nívea. Em 1940, meu pai, engenheiro químico, foi chamado para trabalhar em Juiz de Fora e partiu levando a família. Nasci em dezembro daquele ano”, conta o artista.

 


A partir do início daquela década, começa uma história muito “profunda” em sua vida, no que diz respeito à relação que estabeleceu com BH. “Sempre nas férias escolares, o destino era a capital, para visitarmos nossos avós, tios e primos”, conta, destacando que os tios por parte de pai eram todos músicos e um deles, Frederico Bracher, era também pintor. “Por meio dele, esse lado da pintura começou a se manifestar em mim e em meus irmãos”, diz.

 


Belo Horizonte foi seu ambiente de desenvolvimento humano e artístico. A exposição na Casa Fiat se configura como um resgate. “Esse amor familiar foi muito forte na minha adolescência, na minha formação. Estou com 84 anos e sempre pensei que, um dia, tinha que fazer uma série homenageando Belo Horizonte e meus amados parentes, a quem eu, basicamente, devo tudo. Fazer essa série era uma necessidade metafísica.”

 


Retratos

Ele aponta que a série “é uma forma de tentar abarcar esses universos imemoriais de mim”. Além da tela datada de 1963 e da “Paixão segundo São João”, outro destaque da mostra é o núcleo dos retratos, que traz figuras como Milton Nascimento, Otto Lara Resende, Amílcar de Castro, Ailton Krenak e José Alberto Nemer, entre outros, aos olhos de Bracher.

 

Músicos da banda mineira Pato Fu pintados pelo artista Carlos Bracher

Retrato do Pato Fu faz parte da exposição que ficará em cartaz na Casa Fiat

Cristiano Quintino / divulgação


Esse núcleo é o que mais traz obras criadas em momentos distintos, de Affonso Ávila em 1975 a Pedro Paulo Cava e Krenak no ano passado. “Sempre pintei retratos, gosto muito, e sempre escolhi os retratados movido pela admiração. A vida é um processo que vai se desenrolando no convívio, nas trocas, nos sentidos, nas experiências. Vamos incorporando valores dessas pessoas. Essas coisas me tocam muito. A pintura é meu ato de gratidão”, afirma.

 


Além dos quadros de personalidades admiradas por Bracher, a exposição traz estandartes que retratam a banda mineira Pato Fu, o Grupo Galpão e o Grupo Corpo – representando sua conexão com a música, o teatro e a dança; e também os símbolos consagrados da paisagem urbana, como o viaduto Santa Tereza, a Praça da Estação e a Avenida Afonso Pena. O projeto de “Belo Bracher Horizonte” prevê algumas ações conexas.

 


Na abertura, ele vai realizar, a partir das 17h30 de hoje, uma pintura ao vivo de Maurício Tizumba. O artista diz que, diferentemente de todas as outras figuras que já pintou, não conhecia Tizumba. “Mas já fiquei fã antes de conhecer. Quando vi que ele é essa maravilha estética, pensei que é um quadro que já está pronto antes de eu começar. Já pintei mais de 300 retratos, mas Tizumba é provavelmente o modelo mais extraordinário que já tive.”

 

 


“BELO BRACHER HORIZONTE”
Individual de Carlos Bracher, em cartaz a partir desta quinta (12/12) até 9 de fevereiro de 2025, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários). Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca. Às 17h30 de hoje, Bracher realiza a pintura ao vivo de um retrato de Maurício Tizumba.