Em Porto Alegre, o Teatro de Câmara Túlio Piva vai ser demolido, mas uma atriz se recusa a sair do prédio. Em Moscou, um homem que assistia a uma peça no Teatro de Dubrovka é sequestrado e mantido como refém no local. E, em Buenos Aires, um diretor de uma companhia de teatro de revista é preso depois de um golpe de Estado ocorrer no país.
Essas histórias compõem o espetáculo “O mundo está em chamas, o teatro também tem de estar”, da companhia belo-horizontina estreante Teatro Fumaça. Com texto de João Santos e Jean Gorziza, e direção do próprio Gorziza com Júlia Oliveira; a peça cumpre curta temporada no Teatro de Bolso do Sesc Palladium, desta sexta (13/12) a domingo.
Todos os fatos narrados realmente ocorreram. Pelo menos, em certa medida. Na capital gaúcha, o referido teatro fechou as portas, no entanto, não havia ninguém lá dentro. Em Moscou, não foi apenas um homem feito refém no Teatro de Dubrovka, e sim 700 pessoas que ficaram sob a mira de terroristas chechenos em 2002.
E, em Buenos Aires, quem sofreu as consequências do golpe militar na Argentina foram os brasileiros da Cia. Walter Pinto de teatro de revista, que cumpria temporada no país vizinho, no início da década de 1960.
Amplas questões
“A gente parte dessas três situações para debater o teatro. Tanto o ofício do teatro quanto ele como segmento artístico”, afirma João Santos. “Ao mesmo tempo que falamos do nosso ofício, falamos de questões mais amplas, como as relações sociais e políticas, golpes de Estado, guerras… Coisas que acontecem no mundo”, acrescenta.
“É como se o palco do teatro fosse o palco do mundo”, comenta Gorziza. “E a gente ressalta que o teatro não está imune ao que acontece no mundo”, acrescenta, lembrando do sugestivo título da peça.
“O mundo está em chamas, o teatro também tem de estar” coloca em cena três atores (Ítallo Vieira, João Santos e Domenica Morvillo) que se preparam para encenar, respectivamente, o homem mantido refém em Moscou, a mulher que se recusa a sair do teatro de bolso de Porto Alegre e o diretor sequestrado em Buenos Aires.
São histórias trágicas, mas que servem para reforçar a ideia de perseverança, de que, após a tempestade, vem a bonança. “Para além do teatro, a peça fala sobre a fé em persistir, em buscar novos caminhos e alternativas – até mesmo utópicas, por que não? – frente às contrariedades”, aponta Gorziza.
Os cinco integrantes da companhia Teatro Fumaça – Santos, Gorziza, Domenica Morvillo, Ítallo Vieira e Júlia Oliveira – se conheceram na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Alguns deles estavam na graduação enquanto outros cursavam mestrado em artes cênicas, há um ano.
Depois de se juntarem, inscreveram-se em edital norueguês no início deste ano e foram contemplados – vão estrear espetáculo sobre Ibsen em meados do ano que vem, iniciando, na sequência, turnê nacional e internacional.
“Costumo dizer que nós vivemos cinco anos em um”, brinca Gorziza. “Embora estejamos estreando nosso primeiro espetáculo agora, já estamos com um monte de projetos engatilhados. Todo mundo está se dedicando muito à companhia. Vejo potencial enorme nela”, afirma.
“O MUNDO ESTÁ EM CHAMAS, O TEATRO TAMBÉM TEM DE ESTAR”
Texto: João Santos e Jean Gorziza. Direção: Jean Gorziza e Júlia Oliveira. Elenco: Ítallo Vieira, João Santos e Domenica Morvillo. Nesta sexta e sábado (13 e 14/12), às 20h; e domingo, às 19h. No Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro). Ingressos à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria do teatro ou no site do Sympla Informações: (31) 3270-8100.
Outros espetáculos
>>> DOSE DUPLA NO GALPÃO
Em comemoração aos 10 anos da Plataforma Beijo, serão encenadas duas montagens no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Nesta sexta (13/12), às 19h30, será apresentada a peça "Espécie", que aborda questões identitárias da pós-modernidade; no sábado e no domingo, às 19h30, será encenada “Encanto dos insetos”, sobre temas de cura e cuidado em tempos de crise. Ingressos à venda por R$ 10 (preço único), no site do Sympla e na bilheteria. Pessoas trans não pagam.
>>> A BESTA FERA DOS CABELO NEGRO
Peça da Companhia Juntaostrem de Teatro reúne elementos do regionalismo mineiro para levar aos palcos uma homenagem à cultura do estado. Neste sábado (14/12), às 16h, no Centro Cultural Zilah Sposito (Rua Carnaúba, 186, Zilah Sposito). Entrada franca.
>>> 25º BAZAR DE HISTÓRIAS DA CIA PIERROT LUNAR
Programação conta com sessões de cinema, cenas curtas de teatro, música, dança, performance, mostra fotográfica, exposição de brechó e artesanato. Neste sábado (14/12), das 15h às 23h, no Espaço Aberto Pierrot Lunar (Rua Ipiranga, 137, Floresta). Entrada franca.