“Sempre que vou a espaços expositivos, fico imaginando a galeria como uma sala vazia. É um esforço mental enorme, porque geralmente exposições que estão vazias não permitem o nosso acesso. Então, tento imaginar como espaços cheios seriam vazios e como seria se eu morasse ali”, comenta a artista plástica Cláudia França.
Com essa curiosa relação entre os espaços doméstico e do trabalho, a belo-horizontina explica a inspiração da mostra individual “Em casa”, que ficará em cartaz até 30 de janeiro na Galeria do Térreo do Centro Cultural UFMG.
A exposição marca a volta de Cláudia ao centro cultural após “Espelhos”, mostra de 1997 em que obras tridimensionais exploravam contrastes entre ferro e tecido, além de outros materiais.
“Em casa” propõe uma análise sobre a fluidez dos cômodos nas residências contemporâneas, com reflexões sobre como transformações tecnológicas alteraram as funções originais de cada espaço. O ato de ver televisão, por exemplo, pode ser realizado em quartos, cozinhas e até banheiros, em vez das tradicionais salas de estar de antigamente.
A artista convida o público a refletir também sobre a flexibilidade que transformou a ideia de lar. Antes lugar de refúgio e conforto, ele se transforma em espaço cada vez mais relacionado ao trabalho.
“A gente não tem mais a noção rígida de espaços muito bem definidos, como antigamente. Hoje, a própria arquitetura abre as cozinhas para que você possa conversar com as visitas perto do sofá, por exemplo. Isso facilita que você mova as estações de trabalho, montando a mesa para trabalhar na copa, no quarto ou em qualquer lugar onde houver boa internet”, pontua.
Reinterpretações
Cláudia criou instalações, transformando cada um dos cinco setores da galeria em um cômodo – da calçada à sala. Em cada cômodo, a artista insere elementos que remetem a móveis de residências comuns. No entanto, eles surgem tanto em sua forma doméstica original quanto reinterpretados por abordagens artísticas que provocam estranhamento e reflexão.
“O espectador sente um desconforto, porque reconhece os objetos, mas eles estão dispostos de maneira não usual. Montamos uma cadeira sem o encosto, à qual agregamos pedaços de madeira para ela poder se estender até o teto. Depois fizemos uma composição com cabides e bengala”, detalha Cláudia.
Muitos artefatos dessa casa temporária não são inéditos. Alguns integraram outras exposições, dentro da proposta de reaproveitamento que confere novas memórias às produções da artista.
Por coincidência, outros objetos foram retirados diretamente da própria casa de Cláudia França, artefatos que ela utilizou em diferentes contextos.
Reforçando o aspecto do trabalho, as paredes da exposição trazem um grande calendário. Diferentemente das agendas convencionais, as datas da cada um dos blocos são substituídas por verbos, instigando o público a pensar sobre ações e interações no espaço.
“EM CASA”
Exposição de Cláudia França. Abertura nesta sexta-feira (13/12), às 19h, na Galeria do Térreo do Centro Cultural UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro). Até 30 de janeiro. Visitação de terça a sexta, das 9h às 20h; sábado e domingo, das 9h às 17h. Entrada franca.
OUTRAS ATRAÇÕES CULTURAIS
>>> VIVA GONZAGÃO!
Nesta sexta-feira (13/12), o grupo Forrofônico homenageia Luiz Gonzaga, que completaria 112 anos hoje. O show está marcado para as 20h, no In Casa Pub (Av. Brigadeiro Eduardo Gomes, 349, Dom Bosco). A banda reúne Greice Ornelas (voz), Rodrigo Zolet (acordeom) e Enéias Xavier (contrabaixo). Convidados: Bianca Lauar e Nara França. Ingressos: R$ 30, à venda na plataforma Sympla.
>>> RAP NO VIADUTO
O Viaduto Santa Tereza, no Centro, recebe neste sábado (14/12), das 14h às 21h, a final do Circuito Hip-Hop, com premiação de R$ 3 mil para o vencedor. O evento contará com batalhas de MCs, danças urbanas e show de MAC Julia. A celebração marca os 95 anos do viaduto, com entrada franca.
>>> CONCERTO NO CCBB
O Trio Benzin se apresenta neste sábado (14/12), às 18h, no CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Formado por Paola Andrade (pandeiro), Leo Borges (clarineta) e Giovana Sobrinho (violão), o grupo recebe o guitarrista Arthur Guimarães para explorar a obra de Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga, entre outros autores. Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria