Nome emblemático da dança brasileira, a bailarina, coreógrafa, pesquisadora e professora belo-horizontina Angel Vianna morreu aos 96 anos. A informação foi publicada neste domingo (1/12) nas redes sociais da Faculdade de Dança Angel Vianna. A causa da morte não foi informada.
“Com imenso pesar, comunicamos o falecimento da nossa querida mestra Angel Vianna. Com serenidade ela nos deixou repletos de sua luz e sabedoria”, afirma a postagem. A cerimônia de despedida ocorreu neste domingo, em São Paulo. A família promete divulgar em breve informações sobre missas de sétimo dia em São Paulo e Belo Horizonte.
A história da dança contemporânea brasileira se confunde com a trajetória de vida desta mineira, pesquisadora do movimento corporal ao lado do marido, o respeitado coréografo Klauss Vianna (1928-1992). Ele também era de BH, onde o casal iniciou sua trajetória artística.
Maria Ângela Abras estudou escultura na Escola de Belas-Artes, na capital mineira. Aprendeu com Franz Weissmann e com Alberto da Veiga Guignard. Tocava piano muito bem.
De BH para o Brasil
Angel contou ao Estado de Minas que desde criança gostou de arte. Filha de família de comerciantes, passou a estudar dança assim que deixou o ginásio. Dedicou-se ao balé clássico em 1948, foi aluna do coreógrafo Carlos Leite.
Do clássico, ela passou à dança moderna e contemporânea, abrindo caminho, ao lado de Klauss, para várias gerações de bailarinos.
Os dois se casaram em 1955. Dois anos depois, abriram uma escola em BH. Mudaram-se para Salvador, onde trabalharam com Rolf Gelewsky. Em 1964, estabeleceram-se no Rio de Janeiro.
Na capital fluminense, Angel atuou na academia de Tatiana Leskova, ajudou a criar o Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, o Teatro do Movimento e o Espaço Novo (que mais tarde se tornaria a escola batizada com seu nome), além do curso técnico de balé contemporâneo.
“Klauss foi um pioneiro na transposição da dança (movimento corporal) para a dramática da cena (a palavra na raiz do movimento), e, de certa maneira, mostrou que o teatro poderia dançar, soltar a voz junto com a sinuosidade do movimento”, explicou o crítico Macksen Luiz.
Corpo filósofo
A Metodologia Angel Vianna (MAV) se baseia no “corpo filósofo”, ou seja, o corpo como ativo produtor de conhecimento, agente em seu próprio fazer – e não simples ponto de partida, através de sensações ou experiências. O método é utilizado tanto por dançarinos e atores como por terapeutas.
“Eu e Klauss trabalhamos muito com atores. Na época, era tudo muito formal, rígido, as pessoas não paravam muito para perceber, sentir e escutar. Quando o pessoal de teatro vinha trabalhar com a gente, tinha uma descoberta muito grande do corpo, de anatomia, e isso dava muita liberdade para criar”, contou ela ao jornal O Globo, há oito anos.
“Não consigo ficar parada”, disse Angel em 2012 ao repórter Ailton Magioli, do EM. Com efeito: aos 83 anos, ela encenava experimento coreográfico ao lado de Maria Alice Poppe, que foi sua aluna, e de João Saldanha, nome respeitado da dança brasileira.
No Rio de Janeiro, a Faculdade de Dança Angel Vianna, criada em 2001, segue os ensinamentos de sua inspiradora.
O documentário “Angel Vianna: Voando com os pés no chão” (2019), de Cristina Leal, aborda a trajetória da coreógrafa, assim como o filme “Movimentos do invisível” (2020), de Letícia Monte e Flávia Guayer.
Angel e Klauss Vianna tiveram um filho, o coreógrafo Rainer Vianna (1958-1995), que morreu afogado no mar da Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, aos 37 anos.