Separados, Keira Knightley e Ben Whishaw são ótimos. Juntos, são maravilhosos. Tanto por isso, são a razão de ser de "Black Doves". A produção britânica da Netflix estreou há pouco na plataforma e, ao longo desta semana, só perdeu em audiência para "Senna". É diversão garantida e despretensiosa, dessas para assistir de uma sentada.
O cenário é a Londres pré-natalina. Helen Webb (Keira Knightley) é a mulher amorosa, inteligente e espirituosa de Wallace Webb (Andrew Buchan), ministro em ascensão do Partido Conservador. A família margarina se completa com os filhos, um lindo casal de gêmeos. Durante uma festa de fim de ano em que Helen, mais uma vez, se porta como a anfitriã perfeita, vem o baque.
Uma mulher, que não está na lista de convidados, se aproxima dos Webb. A tensão de Helen é latente e, rapidamente, ela a leva para uma conversa particular. A morte suspeita do embaixador chinês no Reino Unido e o desaparecimento da filha do diplomata suscitaram uma crise entre os dois países. Na esteira desta morte, houve outras três. Uma delas do funcionário público Jason (Andrew Koji).
A crise diplomática entre Reino Unido e China já vinha sido discutida entre os Webb. O que Helen não sabia era dos outros assassinatos. Isto é revelado por Reed (Sarah Lancaster). A penetra da festa é, na verdade, a chefe de Helen na Black Doves, uma agência privada de inteligência que serve a quem paga mais. Resumindo: a doce Helen é uma espiã, e o tal Jason, baleado numa praça pública, seu amante.
Exílio voluntário
Helen não é só uma agente experiente, é a mulher de um político com sérias chances de se tornar primeiro-ministro. Ciente de que a morte de Jason pode levar a espiã a más decisões que atinjam a própria agência, Reed convoca um parceiro antigo de Helen, Sam (Ben Whishaw).
Este retorna a Londres depois de um exílio voluntário de sete anos em Roma. Havia deixado para trás um namorado e uma dívida não paga com uma organização criminosa.
A trama está armada com uma boa dose de drama, que vai se diluindo em meio a tiradas sarcásticas, perseguições, muitas mortes (mas a violência nunca é explícita) e um monte de personagens bizarros de sindicatos do crime que aparecem a cada nova sequência. É coisa demais acontecendo: histórias de amor, de traição, violência, festas natalinas.
Mesmo que em dado momento a narrativa se perca, o que mantém o espectador colado em "Black Doves" é a dobradinha Keira/Whishaw. Em meio a existências farsescas frente ao mundo real, eles sobrevivem neste jogo de espiões porque confiam um no outro.
Há um senso de responsabilidade unindo os personagens, que se destaca tanto nas cenas de ação quanto em longas conversas travadas nos carros – eventualmente, um deles está encharcado de sangue. É engraçado, por vezes tocante.
"Black Doves" foi criada por Joe Barton, que ganhou prestígio com a série "Giri/Haji" (2019, também da Netflix), produção em inglês e japonês que acompanha um detetive nipônico que chega a Londres.
O brasileiro Alex Gabassi, que dirigiu "The crown", assina três dos seis episódios de "Black Doves". A trama tem um final fechado, mas uma segunda temporada já foi encomendada. A química entre os dois protagonistas merece ser ainda mais aproveitada. n
“BLACK DOVES”
• Série em seis episódios, disponível na Netflix.