O título da exposição “Lavra Márcio Sampaio: Do todo, uma parte” diz muito do que o público poderá ver a partir desta quarta-feira (18/12), na Galeria do Centro Cultural Unimed-BH Minas. O “todo”se refere aos 65 anos de intensa produção de Márcio Sampaio na seara das artes visuais, da poesia, da crítica e da escrita. A “parte” é uma tentativa de síntese desse percurso, feita pelo curador da mostra, Marconi Drummond.

 




Drummond diz que, diante de uma produção tão vasta, que engloba diversos suportes, técnicas e linguagens, a seleção acabou redundando em um lote expressivo, de mais de 300 itens. Trata-se de uma exposição panorâmica, com início na década de 1960, quando Sampaio começa a se dedicar à poesia, ao jornalismo e à crítica de arte, além do trabalho como artista visual, e chega até os dias atuais.

 


“Diante de um artista polissêmico, com uma atuação tão diversa, tão múltipla, que trabalha com tantas linguagens, escolhemos uma parte da produção. Ele tem uma trajetória muito importante como artista visual, poeta, escritor, crítico, curador. Todas essas frentes estão contempladas na exposição”, afirma o curador.

 


“Trazemos reflexões do Márcio curador, escritor, e trazemos muito da literatura, da poesia produzida por ele. O conjunto não privilegia nenhuma vertente”, diz. Se não há uma linguagem que seja protagonista da exposição, o que se eleva, segundo Drummond, é a congruência da escrita com as artes visuais, da palavra com a imagem.

 


A “lavra” que precede o nome do artista no título da exposição também é elucidativa do que foi o trabalho de curadoria, segundo Drummond. Ele diz que reunir uma seleção de fato representativa da trajetória de Sampaio demandou mais de um ano de dedicação. “Foi um trabalho de garimpar, por isso a lavra, entendida no sentido da invenção e também da prospecção apurada. Tivemos que fazer um inventário mesmo da obra dele, buscar as instituições que possuíam acervos do Márcio.”

 


Pinturas e desenhos

A Fundação Bienal, o Museu Mineiro, o Centro de Documentação do Museu de Arte da Pampulha e o próprio acervo particular do artista foram algumas dessas fontes. “Tem um lote expressivo de pinturas e de desenhos – que são viscerais, muito importantes e, inclusive, estiveram presentes na 9ª Bienal de São Paulo, nos anos 1960 – e, além disso, a gente dedica um espaço generoso à parte de arquivo”, aponta.

 


Conforme observa Drummond, “ele também foi um arquivista, guardou a memória das artes visuais de Minas Gerais e até brasileira desde os anos 1960; isso foi colecionado por ele. A expografia privilegia esse cunho arquivístico, com um agrupamento de mesas onde está depositado esse grande arquivo. É uma mostra que traz muito do pensamento dele como estudioso, como crítico”, ressalta.

 


Sampaio diz que conversou o tempo todo com o curador, mas observa que a feição da mostra pode ser toda creditada a Drummond. “Ele pesquisou minha obra, todos os tipos de coisas que fiz, e foi conformando essa exposição. Marconi tinha feito outra curadoria da minha obra, em 2005 (na mostra “Declaração de bens”, na Grande Galeria do Palácio das Artes, retrospectiva de 50 anos de sua carreira), e agora quis dar uma ideia maior da minha participação na área da literatura de vanguarda.”

 


Ele diz ter ficado muito satisfeito com o resultado. “Marconi fez uma síntese muito boa, de modo que as pessoas possam entender um pouco do que fiz nesses 65 anos.” Sampaio chama a atenção para um outro aspecto da mostra, ao dizer que gostaria que as pessoas saíssem da galeria não só reflexivas, mas também alegres.

 


A graça e a ironia são marcas presentes em sua produção. “Sempre trabalhei com um pouco de humor, nas pinturas, nos desenhos e, principalmente, nos objetos e instalações. Tem obras que mostram uma coisa menos sisuda. A arte contemporânea costuma ser meio hermética e cheia de proposições que a gente não entende. Esse tom de humor está presente mesmo em obras politicamente mais fortes, mais pesadas, que, no entanto, são perpassadas por uma ideia menos dramática”, diz.

 


Outro pilar da exposição são os poemas-objetos, que representaram um “pulo” em sua carreira, a partir da articulação entre texto e imagem. Sampaio começou a trabalhar a palavra com a imagem nos primeiros anos da década de 1960, com a virada da poesia concreta e neoconcreta. “Eram influências que a gente acabava tendo. Sempre trabalhei muito a palavra, não só como texto, mas como jogo, num tempo em que não existia nem xerox, era na base do recortar e colar. Trabalhei um pouco com publicidade, o que deu suporte”, afirma.

 

 

“LAVRA MÁRCIO SAMPAIO: DO TODO, UMA PARTE”
Exposição em cartaz a partir desta quarta-feira (18/12) até o dia 9 de março de 2025, na Galeria do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca.

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