Rio de Janeiro – Foi preciso muita agilidade para pôr no palco o pocket show de “Chatô e os Diários Associados – 100 anos de uma paixão”, musical que vai estrear em março no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.

 

 


Em cinco dias de ensaios, que levaram oito horas por dia, o elenco decorou 40 páginas do texto e 17 canções. A partitura também foi criada em cinco dias.

 


Valeu a pena. O público, que lotou o Teatro Copacabana Palace na segunda-feira (16/12) à noite, aplaudiu com entusiasmo cenas que retratam, com bom humor e canções queridas do imaginário nacional, parte de história de Assis Chateaubriand, o “Chatô” (1892-1968).

 

 



 


Pioneiro, o empresário paraibano fundou os Diários e Emissoras Associados, império brasileiro de comunicação erguido no século 20, que completa 100 anos agora. Pertencem ao grupo os jornais Estado de Minas, Aqui e Correio Braziliense, a TV Alterosa, a Rádio Tupi e o Portal Uai.

 


O musical vai contar a história de Assis Chateaubriand, mas é impossível separá-lo das trajetórias de Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Linda Batista, Aracy de Almeida e Virgina Lane, entre outras estrelas da era de ouro do rádio brasileiro.

 


Ao ser contratada por Assis Chateaubriand para a Rádio Tupi com o maior salário do Brasil, Carmen Miranda protagoniza um dos episódios mais divertidos do espetáculo.

 

 

Stepan Nercessian faz o papel de Assis Chateaubriand, que volta à vida no musical que vai estrear em março de 2025, no Rio de Janeiro

Patrícia Lerra/divulgação

 


No pocket show, foram apresentadas apenas 17 canções da montagem. “Vimos um resumo do resumo”, explicou o diretor musical Guto Graça Mello, lembrando que serão mais de duas horas de espetáculo, com repertório bem maior.

 


“O universo que cerca Chateaubriand e os Diários Associados é riquíssimo. Exploramos uma unha do que é isso, mesmo assim nos divertimos bastante. Estou doido para chegar janeiro e começarmos a ensaiar”, comentou o ator e cantor Cláudio Lins, que faz o papel do jornalista Fabiano.

 

 


Filho da atriz e cantora Lucinha Lins e do compositor Ivan Lins, Cláudio, de 52 anos, atuou em “Ópera do malandro”, “Elis, a musical” e “Rock in Rio – O musical”, entre outros espetáculos.

 

Sylvia Massari: "Será um grande espetáculo"

 


A atriz Sylvia Massari, de 77 anos, é uma das grandes referências dos palcos no Brasil. Ela faz o papel de Janete, secretária de Chateaubriand.

 


Ao longo de quase meio século de carreira, Sylvia participou de montagens de grande sucesso, como “Estrela Dalva” e “Evita”.

 


De acordo com ela, “100 anos de uma paixão” será um grande espetáculo. “Pelas músicas, vai atrair o público que conheceu a era do rádio”, previu, contando que as apresentações terão horários mais cedo, facilitando o acesso do público. “Virão as velhinhas da van”, brincou, referindo-se às caravanas de senhoras que costumam frequentar os teatros cariocas.

 

Sylvia Massari (de saia branca de bolinhas pretas) sobe ao palco aos 77 anos para interpretar Janete, secretária de Assis Chateaubriand

Patrícia Lerra/divulgação

 


De cara, Stepan Nercessian conquistou a plateia do pocket show com o seu Chatô. “Foi pouco tempo de ensaio. Nesta primeira apresentação para o público, ficamos meio perdidos”, comentou o ator, mais relaxado após a reação positiva da plateia.

 


“Tenho de aprofundar mais a composição do personagem. Partes do texto que ainda vão entrar darão mais consistência a ele. Fiz um Chatô alegre”, explicou.

 


Nercessian lamentou o fato de não ter acesso ao registro da voz de Assis Chateaubriand. “Por incrível que pareça, não consegui a voz dele, um cara dono de rádio e televisão. Olhamos em tudo quanto é lugar, no YouTube, mas não achamos. A voz que está aí é a voz que saiu de mim”.

 


Escrita por Fernando Morais e pelo dramaturgo Eduardo Bakr, a história começa quando Fabiano (Cláudio Lins), jornalista desempregado e youtuber, tenta salvar o busto de Chatô de mais um ataque de vândalos, que levam a caneta da estátua. Assis Chateaubriand ganha vida e convida o jornalista para escrever sua biografia.

 

Fernando Morais revê Assis Chateaubriand

 


Fernando Morais comemorou seu reencontro com Chateaubriand. O jornalista e escritor mineiro é autor de “Chatô – O rei do Brasil” (Companhia das Letras), biografia lançada em 1994.

 


“Passei oito anos da minha vida bisbilhotando a vida dele, falando com gente no Brasil, na Inglaterra e em lugares por onde ele passou. É uma alegria estar aqui e poder contribuir. Os brasileiros, principalmente a meninada, não sabem da importância de Chatô para a música brasileira e para a cultura do país”, afirmou o jornalista e escritor, após assistir ao pocket show.

 


Fernando citou o Museu de Arte de São Paulo (Masp) como um dos grandes legados de seu biografado. Diz que “não tem fim” o que Assis Chateaubriand estimulou, produziu, criou e patrocinou na cultura brasileira.

 


“As pessoas se lembram mais de Chatô como o grande dono do império Associados, mas não se lembram de coisas maravilhosas como a relação dele com a música brasileira”, observou o escritor e jornalista.

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