Rio de Janeiro – Foi preciso muita agilidade para pôr no palco o pocket show de “Chatô e os Diários Associados – 100 anos de uma paixão”, musical que vai estrear em março no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Em cinco dias de ensaios, que levaram oito horas por dia, o elenco decorou 40 páginas do texto e 17 canções. A partitura também foi criada em cinco dias.
Valeu a pena. O público, que lotou o Teatro Copacabana Palace na segunda-feira (16/12) à noite, aplaudiu com entusiasmo cenas que retratam, com bom humor e canções queridas do imaginário nacional, parte de história de Assis Chateaubriand, o “Chatô” (1892-1968).
Pioneiro, o empresário paraibano fundou os Diários e Emissoras Associados, império brasileiro de comunicação erguido no século 20, que completa 100 anos agora. Pertencem ao grupo os jornais Estado de Minas, Aqui e Correio Braziliense, a TV Alterosa, a Rádio Tupi e o Portal Uai.
O musical vai contar a história de Assis Chateaubriand, mas é impossível separá-lo das trajetórias de Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Linda Batista, Aracy de Almeida e Virgina Lane, entre outras estrelas da era de ouro do rádio brasileiro.
Ao ser contratada por Assis Chateaubriand para a Rádio Tupi com o maior salário do Brasil, Carmen Miranda protagoniza um dos episódios mais divertidos do espetáculo.
No pocket show, foram apresentadas apenas 17 canções da montagem. “Vimos um resumo do resumo”, explicou o diretor musical Guto Graça Mello, lembrando que serão mais de duas horas de espetáculo, com repertório bem maior.
“O universo que cerca Chateaubriand e os Diários Associados é riquíssimo. Exploramos uma unha do que é isso, mesmo assim nos divertimos bastante. Estou doido para chegar janeiro e começarmos a ensaiar”, comentou o ator e cantor Cláudio Lins, que faz o papel do jornalista Fabiano.
Filho da atriz e cantora Lucinha Lins e do compositor Ivan Lins, Cláudio, de 52 anos, atuou em “Ópera do malandro”, “Elis, a musical” e “Rock in Rio – O musical”, entre outros espetáculos.
Sylvia Massari: "Será um grande espetáculo"
A atriz Sylvia Massari, de 77 anos, é uma das grandes referências dos palcos no Brasil. Ela faz o papel de Janete, secretária de Chateaubriand.
Ao longo de quase meio século de carreira, Sylvia participou de montagens de grande sucesso, como “Estrela Dalva” e “Evita”.
De acordo com ela, “100 anos de uma paixão” será um grande espetáculo. “Pelas músicas, vai atrair o público que conheceu a era do rádio”, previu, contando que as apresentações terão horários mais cedo, facilitando o acesso do público. “Virão as velhinhas da van”, brincou, referindo-se às caravanas de senhoras que costumam frequentar os teatros cariocas.
De cara, Stepan Nercessian conquistou a plateia do pocket show com o seu Chatô. “Foi pouco tempo de ensaio. Nesta primeira apresentação para o público, ficamos meio perdidos”, comentou o ator, mais relaxado após a reação positiva da plateia.
“Tenho de aprofundar mais a composição do personagem. Partes do texto que ainda vão entrar darão mais consistência a ele. Fiz um Chatô alegre”, explicou.
Nercessian lamentou o fato de não ter acesso ao registro da voz de Assis Chateaubriand. “Por incrível que pareça, não consegui a voz dele, um cara dono de rádio e televisão. Olhamos em tudo quanto é lugar, no YouTube, mas não achamos. A voz que está aí é a voz que saiu de mim”.
Escrita por Fernando Morais e pelo dramaturgo Eduardo Bakr, a história começa quando Fabiano (Cláudio Lins), jornalista desempregado e youtuber, tenta salvar o busto de Chatô de mais um ataque de vândalos, que levam a caneta da estátua. Assis Chateaubriand ganha vida e convida o jornalista para escrever sua biografia.
Fernando Morais revê Assis Chateaubriand
Fernando Morais comemorou seu reencontro com Chateaubriand. O jornalista e escritor mineiro é autor de “Chatô – O rei do Brasil” (Companhia das Letras), biografia lançada em 1994.
“Passei oito anos da minha vida bisbilhotando a vida dele, falando com gente no Brasil, na Inglaterra e em lugares por onde ele passou. É uma alegria estar aqui e poder contribuir. Os brasileiros, principalmente a meninada, não sabem da importância de Chatô para a música brasileira e para a cultura do país”, afirmou o jornalista e escritor, após assistir ao pocket show.
Fernando citou o Museu de Arte de São Paulo (Masp) como um dos grandes legados de seu biografado. Diz que “não tem fim” o que Assis Chateaubriand estimulou, produziu, criou e patrocinou na cultura brasileira.
“As pessoas se lembram mais de Chatô como o grande dono do império Associados, mas não se lembram de coisas maravilhosas como a relação dele com a música brasileira”, observou o escritor e jornalista.