Nórdicos produzem séries policiais como ninguém, é fato. Mesmo na comédia e no drama eles garantem um tom gauche a narrativas simples, vide a sueca "Namorado de Natal" e a norueguesa "Noite de verão", ambas da Netflix. Pois a campeã do Top 10 Brasil da plataforma ao longo desta semana foi uma incursão ao gênero catástrofe (seara que os americanos dominam), “Inferno em La Palma”.
A minissérie da Noruega se ampara nos elementos que compõem qualquer produção do estilo – enredo apocalíptico, melodrama e sequências de ação – para acompanhar uma trágica temporada natalina de uma família escandinava. A série tem sido comentada também porque revive, com muito exagero, um drama recente ocorrido em La Palma, uma das ilhas nas Canárias.
Em 19 de setembro de 2021, o vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção, forçando a evacuação de 6 mil pessoas. O fenômeno natural fez com que a ilha espanhola expandisse quase 500 metros mar adentro com um delta de lava. Isto foi o que aconteceu.
Existe uma teoria real de que uma erupção poderia causar um tsunami que cruzaria o Atlântico, atingindo inclusive os Estados Unidos, causando uma tragédia em nível global. Só que esta teoria, datada de duas décadas, já foi amplamente questionada. E é nela que a série se baseia.
Dias quentes
A trama começa às vésperas do Natal. Como em todos os seis anos anteriores, o casal Fredrik (Anders Baasmo) e Jennifer (Ingrid Bolsø Berdal) procura os dias quentes do paraíso espanhol para passar as festividades. Hospedam-se no mesmo resort com os filhos Sara (Alma Günther) e Tobias (Bernard Storm Lager).
Neste ano, as coisas não estão fáceis. Jennifer se ressente com a mesmice de Fredrik. Já Sara, aos 17 anos, sofre sozinha a descoberta da sexualidade. Não há espaço para os problemas dela, já que a família fica por conta do garoto Tobias, que está no espectro autista.
Paralelamente, acompanhamos a jovem geóloga Marie Ekdal (Thea Sofie Loch Næss). Ela percebe que os instrumentos que colocou em uma caverna dentro da montanha pararam de enviar dados. Recruta Haukur (Ólafur Darri Ólafsson, o ator islandês da ótima série "Trapped"), um geólogo veterano para acompanhá-la até o local.
Quando eles chegam lá, percebem uma rachadura enorme no teto. Mais alguns estudos e não há dúvidas: uma erupção de grandes proporções está prestes a ocorrer e o tsunami vai varrer tudo do mapa.
Como em toda trama sobre catástrofes, o espectador já sabe que o pior vai acontecer. A questão aqui é saber como todos os dramas – e são muitos – serão resolvidos ao longo dos quatro capítulos. O primeiro episódio tem potencial, com uma introdução cheia de suspense em torno de um grupo de turistas num barco. Há também belas imagens da região e personagens factíveis.
A medida que a história se desenvolve começam os problemas, em especial com a geóloga Marie, ela mesma uma sobrevivente do tsunami da Tailândia, 20 anos atrás. De descobridora da tragédia iminente ela se torna vítima, numa sequência absurda em que vai para a cadeia. A família também se separa, e quando o caos é instaurado, as soluções encontradas são inverossímeis demais, beirando o ridículo. Isto faz com que a trama perca a força, fazendo de "Inferno em La Palma" mais uma produção genérica da Netflix
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“INFERNO EM LA PALMA”
• Minissérie em quatro episódios disponível na Netflix