A saga bíblica de Davi contra Golias define bem a luta do belo-horizontino Toninho Geraes, que levou a megaestrela britânica Adele à Justiça, acusando-a de plagiar o samba “Mulheres” na canção “Million years ago” (2015).

 

 


Terminou sem acordo a audiência de conciliação realizada na última quinta-feira (19/12), na capital fluminense. Este mês, o juiz Victor Agustin Jaccoud Diz Torres, da 6ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, determinou a retirada da canção de Adele do streaming, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.

 



 

Toninho processa a cantora, a Sony Music Brasil, a Universal Music Brasil, o Beggars Group e Greg Kurstin, produtor e compositor de “Million years ago”. Reivindica R$ 1 milhão em danos morais, além de direitos autorais e a coautoria desta canção.

 

 

O sambista conta que há cinco advogados no caso – dois dele, dois da Universal e um da Sony. “O advogado da Sony alegou que a gravadora não tem nada a ver com o caso, somente compareceu à audiência porque foi intimado. Acontece que na hora de apresentar as procurações, faltava uma assinatura, não me lembro se da Adele ou do Greg Kurstin. O juiz até perguntou, em tom mais áspero: 'Como vocês vêm à audiência de conciliação se não têm procuração de uma das partes envolvidas?'”, revela.

 

“Acho que foi uma tremenda cortina de fumaça (da defesa de Adele na audiência) para conhecer a estratégia que iríamos usar ou simplesmente para ganhar tempo. O acordo não aconteceu, porque tudo o que a gente falava, não vou citar valores, diziam que não haveria contraproposta, pois estava muito além do que tinham autorização para negociar”, relata.

 

 

O compositor vive grande tensão nesta véspera de Natal. Conta que está “abalado emocionalmente” há dias. “Fui dormir na quarta-feira à noite (18/12) pensando: graças a Deus, amanhã tudo isso acaba. É um estresse psicológico grande, porque quando saio, as pessoas, os amigos ficam o tempo todo me perguntando sobre o assunto”, diz.


“É muito pesado. Caso tivesse noção de que passaria por tudo isso, não teria entrado com a ação. Se tivesse mesmo noção do quanto é sofrido estar no olho do furacão, teria desistido. É Davi contra Golias. O pessoal de gravadora, não digo a Adele, não é fácil”, desabafa.

 

Adele com o produtor Greg Kurstin, que compôs "Million years ago" e é acusado por Toninho Geraes de plagiar "Mulheres"

Valerie Macon/AFP/12/2/2017

 


De acordo com ele, há também conflito de interesses. “Como pode a Universal, que tem a edição da música 'Mulheres', ficar do lado da Adele? Adele é poderosa. Então, eles jamais ficariam a favor de um artista que não tem a mesma expressão dela”, afirma.

 


“Eles jamais poderiam fazer laudo tentando me desmentir, pegando uma pessoa incapaz, um músico que nem é maestro, para criar uma opinião factoide”, reclama. “Não pegaram maestro para fazer análise profunda sobre o que é plágio. Pegaram, sim, alguém que não tem capacidade para criar laudo algum. Logo na primeira vez que ouvi 'Million years ago', vi, com clareza que era plágio, caso contrário não teria movido processo”, desabafa.

 

“Meus advogados são músicos. Vão ganhar se eu receber indenização. Caso não tenha indenização, eles não receberão nada. Você acha que se não fosse plágio colocariam o nome e o tempo deles nisso? Não tem dinheiro no mundo que pague esse desgaste”, garante.

 

 


De acordo com o sambista, ficou acertado que Maria Alice Volpe, professora de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai analisar as duas canções para determinar se houve plágio ou não. O laudo dela está previsto para janeiro de 2025.

 

 

 

 

A Universal Music apresentou recurso para derrubar a liminar obtida por Toninho Geraes, que proíbe a execução de “Million years ago”, de Adele. A empresa afirma que esta canção e “Mulheres” utilizam um “clichê musical”, o que não configura violação de direitos autorais.

 

De acordo com a Universal, a semelhança entre as duas canções se deve à “Progressão de Acordes Pelo Círculo de Quintas”.

 

Defesa vê "decisão histórica"

 


A defesa de Toninho Geraes alega que a canção de Adele se parece com a versão mais lenta de “Mulheres” cantada por Simone. A música se tornou conhecida na voz de Martinho da Vila, em 1995. O compositor Greg Kurstin seria estudioso de música brasileira, afirmou Fredímio Trotta, advogado do compositor mineiro, em entrevista ao site G1.

 

 

 


Para ele, a decisão do juiz de excluir a canção da estrela do streaming é “histórica” para a música brasileira. “Vale para 181 países, assim como o Brasil, que são signatários da Convenção de Berna, tratado internacional celebrado globalmente para garantir a proteção das obras originais artísticas, literárias e científicas, à qual o nosso país aderiu recentemente”, declarou Trotta.

 

Samba de Natal

 

Neste Natal, o “Davi” do samba vai a outra luta – desta vez, no palco e sem estresse. Toninho Geraes será a atração desta quarta-feira (25/12) no Renascença Clube, no Andaraí (RJ), berço do aclamado projeto Samba do Trabalhador, que faz amanhã sua edição natalina. A roda começa às 16h e tem entrada gratuita até as 18h.

 

 


Este ano, o Toninho lançou o álbum “O amor dos poetas” (Mills Records). “Tenho a ideia de fazer outro em 2025, mas até lá vou continuar divulgando esse trabalho. O clipe da faixa 'Seu Zé' já está com mais de 1 milhão de visualizações no YouTube”, informa.

 


“O disco traz 12 músicas e está lindo, tem a regravação de 'Sozinho', do Peninha, em ritmo de samba. Traz também a participação do falecido Anderson Leonardo, do Molejo, em 'Mariazinha'. A produção é de Alessandro Cardoso. Estamos pensando em fazer um vinil”, conclui o sambista mineiro.



 

 

 

 


 

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