Em setembro, quando Valentina Herszage chegou a Veneza para participar do festival de cinema representando “Ainda estou aqui” – ela é a Veroca no longa de Walter Salles –, um filme passou por sua cabeça. Afinal, a atriz retornava ao evento após nove anos, quando recebeu o prêmio Bisatto D’oro da Crítica por “Mate-me, por favor” (2015), dirigido por Anita Rocha da Silveira, no qual estreava na telona.
A atriz carioca, de 26 anos, além de atuar no longa que representa o país no Oscar de Melhor Filme Internacional, está em cartaz nas salas brasileiras como Rebeca, protagonista de “As polacas”, de João Jardim. Em 2019, Valentina interpretou a jovem Hebe Camargo na série biográfica da Globoplay. Em 2017, integrou o elenco da novela “Pega pega”, da TV Globo.
Desde 2020, Valentina mantém impressionante regularidade no cinema, com ao menos um lançamento por ano. Estrelou “Homem Onça”, de Vinicius Reis, e “Álbum em família”, filme de Daniel Belmonte, ambos em 2020; foi protagonista em “Raquel 1:1” (2022), de Mariana Bastos; rodou “O mensageiro” (2023), de Lúcia Murat.
Em 2024, além de “Ainda estou aqui” e “As polacas”, integra o elenco de “Vidro fumê”, filme do cineasta português Pedro Varela, e participa de “Fim”, série do Globoplay inspirada no livro homônimo de Fernanda Torres.
Um currículo e tanto para alguém que até os 17 anos não planejava seguir a carreira de atriz. “Meus pais não são artistas. Minha mãe é psicanalista e meu pai tem agência de viagens”, conta Valentina. “Ambos sempre foram amantes das artes. Me levaram a museus, me incentivaram a ouvir música e, principalmente, assistir a filmes. Desde pequena, demonstrei muito interesse por esse universo.”
A família a matriculou em aulas de dança, sapateado, canto, teatro e circo. Mais tarde, Valentina passou cerca de 15 anos na Catsapá Escola de Música. “Mesmo assim, não alimentava sonho de ser atriz profissional”, recorda. “O que sentia era a necessidade de me expressar livremente, algo que ainda sinto hoje. Pode parecer ingenuidade, mas é isso que me faz feliz.”
Com a mesma facilidade com que expressa emoções, Valentina aprofunda-se nos detalhes para capturar a essência dos personagens. No caso de Hebe, evitou imitá-la ou buscar semelhanças físicas, focando na autenticidade e carisma da apresentadora. No caso de Veroca, imergiu no contexto da jovem de 17 anos que sonhava cursar sociologia, cujo pai foi morto pela ditadura militar.
“Diferente da Hebe, a Vera Paiva não é uma figura pública. Eu a conheci durante as gravações, mas não o suficiente para compreendê-la totalmente. Por isso, precisei me aprofundar no que significava ser jovem na década de 1970 e na importância daquela personagem no momento histórico retratado”, ressalta a atriz.
Na ficção, explica, o processo criativo é distinto. “A gente tem um texto que já nos aponta e nos revela muitas coisas. Aí, acho que nos cabe puxar os fios, entendendo os limites do personagem. Entender até onde a gente pode trazer uma graça para ele, onde ele se sente mais confortável e onde se sente mais instigado.”
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Foi assim com Rebeca de “As polacas”. Embora o argumento seja baseado em eventos reais – o tráfico de judias para o Brasil no início do século 20 –, a personagem é fictícia. Valentina utilizou elementos do roteiro para criar a mulher que evolui de estrangeira tímida e infantil para alguém sagaz e forte.
Com Susana Vieira e Cauã
Valentina já tem novo projeto confirmado para 2025. “Coisa de novela”, filme de Manuh Fontes, vai celebrar os 60 anos da Globo. A protagonista Susana Vieira interpreta uma senhora que sonha em participar de folhetins da TV. O elenco inclui Cauã Reymond.
“Fazer cinema nunca é demais para mim”, afirma Valentina Herszage. “Também gosto muito de televisão, que faz parte da nossa cultura e cria relação íntima com o público. Mas o que tenho muita vontade de fazer é começar a escrever e dirigir. Quero explorar outras posições na feitura de um filme, meu planos englobam muito isso”, revela.