No longa

No longa "Baby", João Pedro Mariano interpreta Wellington, jovem abandonado pela família ao deixar centro de detenção em São Paulo

crédito: Cup Filmes/reprodução

 

 

Já se passaram oito meses desde a estreia de “Baby”, longa de Marcelo Caetano, na Semana da Crítica do Festival de Cannes, mas o ator João Pedro Mariano diz que ainda está “tentando processar” sua experiência francesa.

 


O choque é compreensível. Com apenas 21 anos, o mineiro de Guaxupé estreou em Cannes – e no cinema – como protagonista do longa que chega nesta quinta-feira (9/1) às salas de Belo Horizonte.

 

 


“Não tenho muita noção ainda do que é Cannes. Quando migrei do teatro para o cinema, passei por seleção de 2 mil garotos para conseguir o papel de Baby. Após as gravações, fiz minha primeira viagem internacional para divulgar o filme”, conta João Pedro.

 

“Cheguei a Cannes me perguntando o que estava fazendo no meio de todas aquelas pessoas vestindo Gucci e Louis Vuitton”, brinca.



 

João Pedro contracena com outro mineiro: Ricardo Teodoro, natural de São José da Safira, cidade do Vale do Rio Doce, que levou o prêmio de Ator Revelação na 63ª Semana da Crítica de Cannes, em maio.

 

 


A atuação de João Pedro como Wellington foi premiada no Festival do Rio, no Fest Aruanda, em João Pessoa (PB), e no Mix Brasil, em São Paulo.

 

 

 

 

O personagem recebe o apelido de “Baby” de Ronaldo, michê quarentão interpretado por Ricardo Teodoro. Os dois se conhecem em um cinema pornô, após Wellington deixar o centro de detenção juvenil em São Paulo e perceber que foi abandonado pela família.

 

Mãe, tias e avó

 

João Pedro Mariano conta que foi criado por três empregadas domésticas e uma lavadeira – respectivamente, tias, mãe e avó dele. Ingressou no teatro aos 10 anos, após ser diagnosticado com hiperatividade. Participou de eventos artísticos em cidades vizinhas a Guaxupé, como o Festival Internacional de Teatro de Guaranésia.

 

 

Ator João Pedro Mariano, ainda criança, vestido de caipira, com bigode e chapéu de palha

João Pedro Mariano: pequeno caipira, com direito a bigode e chapéu de palha

Instagram/reprodução

 


Aos 17 anos, o jovem ator trocou o interior de Minas pela capital paulista. Seu objetivo sempre foi se consagrar nos palcos. Dava pouca atenção ao cinema, recorda. “Dizia que não me via fazendo filmes ou novelas. Como ator, eu permaneceria no teatro.”

 

 


João Pedro foi morar com a tia em São Bernardo do Campo, enfrentando cinco horas diárias de deslocamento até o centro da capital paulista. Era bolsista da SP Escola de Teatro.

 

“Foi um período difícil. Sobrevivi com a bolsa de R$ 550. Acabei trabalhando com publicidade. Assim, pude investir em cursos de atuação focados no cinema. Resolvi me aventurar nesse universo, que, até então, afirmava não querer explorar”, comenta.

 

 


No último semestre no curso de teatro, João Pedro se deparou com a postagem de Marcelo Caetano, diretor de “Corpo elétrico” (2017), anunciando nas redes sociais que jovens atores poderiam lhe enviar material para audições do seu próximo filme.

 


“Não achei que conseguiria, porque 2 mil garotos estavam tentando o mesmo papel. Quando percebi, estava entre os quatro últimos atores avaliados”, conta.

 

Ao conseguir o papel, ele se mudou para o Centro de São Paulo. Segundo o ator, “Baby” é uma carta de amor à cidade, seria preciso conhecer profundamente as dinâmicas e características daquela metrópole para interpretar Wellington/Baby.

 

Ator João Pedro Mariano sorri e aponta para placa indicativa do Festival de Cannes, na França, em maio de 2024

João Pedro Mariano em Cannes, na França, em maio de 2024

Instagram/reprodução

 

A preparação levou meses. Durante esse período, Mariano frequentou a Fundação Casa, para conhecer o dia a dia do sistema socioeducativo que busca reintegrar menores infratores à sociedade. Também visitou casas de prostituição, fez aulas de boxe e de vogue – a dança da cultura ballroom, movimento de resistência de pessoas LGBTQIA+.


Sonhos

 

“Sou o primeiro da minha família a ter direito ao estudo. Quando criança, minha mãe queria ser atriz, mas, por questões financeiras, nunca pôde realizar esse sonho”, revela João Pedro Mariano. “Anos depois, quando cheguei a Cannes, ela me disse que sonhava com o dia em que eu receberia prestígio, porque, durante sua vida como doméstica, só recebeu ordens. Me ver em lugar de destaque a deixou muito feliz.”

 


No último sábado (4/1), dona Fabiana sentiu o gostinho dessa felicidade. O Cine 14 Bis, em Guaxupé, ficou lotado na sessão especial de pré-estreia de “Baby”, com a presença de seu filho ator.

 

 

Ator João Pedro Mariano sorri em frente à tela do cinema de Guaxupé, durante estreia do filme Baby, protagonizado por ele

João Pedro Mariano na pré-estreia de "Baby" em Guaxupé, cidade do Sul de Minas onde ele nasceu

Instagram/reprodução

 

Série do Prime

 

Enquanto colhe os frutos do novo filme, Mariano trabalha em novos projetos. Ele faz parte do elenco da série “Tremembé”, da Prime Video, sem data de estreia. Interpreta Duda, homem que se relacionou com Cristian Cravinhos, um dos assassinos do casal Richthofen, na penitenciária em São Paulo.

 

João Pedro também busca captar recursos para produzir um curta-metragem em homenagem à avó, Maria Aparecida, que trabalhou como lavadeira, foi diagnosticada com esquizofrenia e morreu devido à Doença de Chagas.


“Quero começar a produzir meus próprios projetos e experimentar a direção. Estou muito animado”, diz o jovem mineiro.


“BABY”


(Brasil, 2024, 107 min.) Direção: Marcelo Caetano. Com João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro e Bruna Linzmeyer. Estreia nesta quinta-feira (9/1) em BH, com sessões às 20h40, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, e às 18h40, no UNA Cine Belas Artes.


* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria