"Quando li o roteiro, a impressão que tive foi a de que trabalhei para chegar àquele papel", afirma o ator Adam Scott, que interpreta Mark S. na produção

crédito: appletv/divulgação

 

Não é fácil entrar na Lumon. Há muitas perguntas sem resposta no ambiente asséptico em que as pessoas parecem agir como robôs. Mas, uma vez passado o estranhamento – o primeiro episódio é difícil e lento –, o espectador se vê preso na ratoeira de portas brancas. Que é como se sentem Mark S. e seus colegas na corporação que compõe o cenário de “Ruptura”.

 


Quase três anos depois da estreia, a segunda temporada entra no ar. Se “Ted Lasso” é a principal série de comédia do Apple TV+, “Ruptura”, que retorna à plataforma na próxima sexta-feira (17/1), é sua mais importante produção dramática.

 


Drama com uma pegada de ficção científica e muita ironia sobre uma grande empresa em que um grupo de funcionários passa por um procedimento que divide suas lembranças entre o trabalho lá dentro e a vida do lado de fora, é viciante. É um quebra-cabeças de resolução complicada. O fim do primeiro ano deixou muita gente de cabelo em pé com as revelações sobre os protagonistas, Mark S. (Adam Scott) e Helly R. (Britt Lower)

 


Respostas

As respostas começam a ser dadas aos poucos, em 10 episódios, lançados semanalmente. “Ruptura” é daquelas histórias sobre as quais se deve falar pouco, para não estragar. O que fica claro já no início da nova temporada é que, na continuação, conviveremos mais com os duplos dos personagens, os “innies” (a pessoa que só existe na empresa, após passar pelo elevador que leva aos subterrâneos da Lumon) e “outies” (a pessoa fora dela, com sua vida plena e sem nenhum conhecimento do que ocorreu no trabalho).

 


“Não foi fácil”, afirma ao Estado de Minas Dan Erickson, o criador da série. “Fizemos malabarismos porque ficamos praticamente com o dobro de personagens, pois para cada ‘innie’, agora também vemos o que eles estão fazendo do lado de fora.”

 


A produção ainda sofreu com as duas greves (roteiristas e atores) de Hollywood em 2023, daí o hiato de quase três anos entre as temporadas. “Começamos a filmar em outubro de 2022 e terminamos em maio de 2024, com uma pausa no meio, quando fiquei montando os episódios (já rodados)”, afirma Ben Stiller, produtor-executivo e diretor de cinco dos novos episódios.

 


“Quando estreamos, não sabíamos se gostariam da série. (Diante do sucesso) A ideia foi não fazer o mesmo na segunda temporada, mas desenvolver a trama fora de uma zona de conforto. Como no final do primeiro ano mostramos os ‘innies’ no mundo exterior, foi importante expandir a história”, continua Stiller.
Aos 51 anos de idade e 30 de carreira, a maior parte passada em comédias, Adam Scott afirma que Mark S. é um ponto de virada. “Quando li o roteiro, a impressão que tive foi a de que trabalhei para chegar àquele papel. É o tipo de personagem que sempre busquei.”

 


Scott diz que levou um tempo para descobrir as diferenças entre Mark S. (o ‘innie’) e Mark Scout (o ‘outie’). “No começo da série, era importante que ambos parecessem parte do mesmo cara, em vez de dois personagens completamente diferentes”, comenta.

 


“O que nos ajudou a descobrir (as nuances de cada um) foi a troca no elevador. Ben tinha um pequeno conjunto de elevadores que mantinha disponível para que pudéssemos experimentar. Tentamos um monte de coisas antes de usarmos o (recurso) que está na série. Então, foi a mudança no elevador que realmente ajudou a definir os personagens”, diz.

 


Elenco

O sucesso de “Ruptura” não se deve somente à engenhosidade da trama. O elenco ainda traz nomes como Patricia Arquette (excepcional no papel da chefe Harmony Cobel), John Turturro (como Irving, colega de Mark, ainda mais desesperado na nova temporada) e Zack Cherry (Dylan, também funcionário da Lumon, o escape cômico da produção).

 


Em 2016, quando Erickson enviou o piloto da história para a Red Hour, produtora de Stiller, este último se encantou pelo roteiro. “Era um grande mote para uma ficção científica, só que não há realmente ficção científica na série. O que existe é uma ideia por trás, de o que aconteceria com você se tivesse um chip na cabeça que desliga parte de seu cérebro quando é acionado. Tudo o que acontece nos subterrâneos da Lumon é real, só que ninguém se lembra. Por isto acho fascinante, crível”, afirma Stiller.

 

 


“Ruptura” não é uma produção para gostos palatáveis. “Espero que tenhamos feito nosso trabalho direito, ou seja, que tenhamos criado uma série que desafie as pessoas. É uma história narrativamente complexa em que você tem que prestar atenção”, diz Erickson.

 


“Muitas vezes, estou assistindo a um programa e também ao telefone. Isto é tão superficial. Então queríamos fazer algo para que o público ficasse atento. Pois, se ficar, ele será recompensado. Algumas pessoas me falaram que levaram uma ou duas tentativas para ‘entrar’ na série. Mas uma vez que o fizeram, elas estavam dentro”, prossegue.

 


Muito da graça de “Ruptura” está na maneira cáustica com que a trama critica as grandes corporações. E a série é produzida por uma big tech. Erickson teve receio quando foi apresentar o conceito para a Apple. “Criei tudo muito antes da parceria, mas me perguntei se estariam abertos a uma história como essa, já que são uma empresa global. Fiquei surpreso e impressionado porque não houve nenhum momento em que me disseram ‘Você não pode fazer isto’. Tenho que dar este crédito”, afirma. 

 

“RUPTURA”
A segunda temporada, com 10 episódios, estreia na próxima sexta-feira (17/1), no Apple TV+. Um episódio por semana, até 21/3.