Não tem jeito. A tendência do teatro contemporâneo é, cada vez mais, incorporar elementos e técnicas do audiovisual. Há quem faça isso de maneira mais discreta, limitando a tecnologia à construção cênica – as recentes óperas “Devoção”, da Fundação Clóvis Salgado, e “Hilda Furacão”, da Orquestra Ouro Preto, ilustram bem isso. E há também quem explore ao máximo todos os recursos disponíveis, como é o caso da peça “Nada vai dar certo”, em cartaz na Funarte até 26 de janeiro, com sessões de quarta-feira a domingo.
Com dramaturgia e direção de Lucas Fabrício, o elenco da montagem reúne 19 alunos do Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais, o T.U. da UFMG. A peça marca a formatura dos novos atores.
Baseada no filme “Bar Esperança – O último que fecha” (1983), de Hugo Carvana (1937-2014), “Nada vai dar certo” retrata os dilemas do casal Zeca e Ana. Ele, dramaturgo em declínio, busca um novo propósito; ela, renomada atriz de televisão, enfrenta os desafios de equilibrar carreira e vida pessoal.
O casal frequenta o Bar Esperança, caótico ponto de encontro de artistas, intelectuais e boêmios – turma com espaço relevante na trama protagonizada por Zeca (Hugo Carvana) e Ana (Marília Pêra).
“A gente procurou uma narrativa simples para que pudéssemos brincar com as formas de contar a história, fazendo o jogo entre teatro e audiovisual”, diz Lucas Fabrício. Além de assinar direção e dramaturgia da peça, ele é também professor do T.U.
“É um espetáculo multimídia. A tela fica o tempo inteiro como parte dele: em alguns momentos, exibe cenas filmadas; em outros, os atores contracenam com o personagem do vídeo”, explica o diretor.
“Há ainda projeções de cenários. Quando as cenas se passam no bar, a tela projeta imagens gravadas no Tim Bilhares”, diz Fabrício, referindo-se ao reduto de novos artistas de BH, localizado na Rua Carijós, no Centro.
O audiovisual está sob o comando de Jeff Ahzul e Well Amorim, que assinam a direção de fotografia, e Matheus Gepeto, assistente de direção, produção e montagem.
Uma das questões centrais do filme é o preconceito de artistas do teatro em relação à TV. “Televisão não é para aprofundar, é para massificar”, afirma Zeca. Na peça, esse atrito foi adaptado ao cenário contemporâneo.
“No início da montagem, partimos das seguintes questões: O que o teatro representa para a gente? Como disputar com os doramas, sucesso no mundo inteiro? De alguma maneira, estamos lidando com as mesmas questões com que Ana e Zeca lidavam lá na década de 1980”, avalia Lucas Fabrício.
“Justamente por isso, devemos estar sempre repensando o lugar do teatro, o que ele significa e como pode dialogar com este mundo cada vez mais virtual em que vivemos”, conclui o professor do T.U.
“NADA VAI DAR CERTO”
Dramaturgia e direção: Lucas Fabrício. Com formandos do Teatro Universitário da UFMG. Em cartaz de hoje (15/1) até 26 de janeiro. Sessões de quarta a domingo, às 20h, na Funarte (Rua Januária, 68, Centro). Entrada franca, mediante retirada de ingressos a partir das 19h. Mais informações no Instagram (@teatrouniversitario.ufmg).