MÚSICA

Tátio Abreu lança hoje "Contrabandeado", seu primeiro álbum

O músico mineiro  coloca a MPB e a música eletrônica juntas, ao lado de sintetizadores, teclas e ruídos, no disco que chega às plataformas nesta quarta (29/1)

Publicidade

Mais lidas

Contrabando. Substantivo masculino oriundo do italiano “contrabbando”, que se refere à importação ou exportação clandestina de mercadorias, sem pagar os devidos tributos. Pode ser também qualquer tipo de comércio que se faz contrariamente aos princípios legais que regem um país. Ou simplesmente um ato que se pratica às escondidas, conforme definem os dicionários.


Foi a última definição que fisgou o cantor e compositor Tátio Abreu quando precisou escolher o nome de seu disco de estreia, “Contrabandeado”, que chega às plataformas digitais nesta quarta-feira (29/1). Preparado “a fogo baixo”, conforme diz – foram três anos de produção –, o álbum reúne nove faixas que o belo-horizontino de 29 anos peneirou entre composições feitas na última década.


“É um nome meio forte, né?”, diz ele. “Mas não é um contrabando no sentido mercadológico, e sim um contrabando de ideias, sentimentos e emoções. É uma forma de repassar informações e emoções sem recorrer ao fluxo tradicional e comum, como normalmente se passaria numa linguagem da nova MPB”, aponta.


Caleidoscópio rítmico

A comparação faz todo o sentido para quem ouvir o disco atentamente. O pop que dá a tônica das músicas em todas as nove faixas vai, aos poucos, se metamorfoseando em maracatu, frevo, baião, toada, coco e rock, numa síntese sonora estritamente brasileira, com referências que vão de Alceu Valença a O Terço, passando pela Tropicália e o regionalismo dos violeiros do Vale do Jequitinhonha.


“Reza milagreira”, por exemplo, gravada em parceria com a potiguar Juliana Linhares, guarda semelhanças com a música feita por Pereira da Viola, Rubinho do Vale, entre outros cantautores do Vale. "Anhangabaú" nos faz lembrar sutilmente o Gil de “Expresso 2222” (1972) e “Refazenda” (1975). E “Será q eu sou louco” remete às fusões originais do rock com ritmos nordestinos tradicionais feitas por Alceu Valença.


“Eu bebo bastante da música nordestina. Adoro a música baiana, pernambucana… Gosto muito dos cantadores. O Alceu (Valença), por exemplo, é uma referência na minha vida desde muito novo”, diz Tátio. “Mas, ao mesmo tempo, sou pirado na Vanguarda Paulista – com Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e toda aquela pegada mais experimental – e amo pop”, cita.


O resultado são experimentos improváveis feitos intuitivamente e com bastante ousadia. É a MPB e a música eletrônica juntas, com o uso de muitos sintetizadores, teclas e ruídos. Mas tudo na medida certa, sem que um asfixie o outro. Isso é mérito de Chico Neves, encarregado de produzir o disco. Neves, que também é belo-horizontino, criou o selo Estúdio 304, em Macacos, e já trabalhou com, entre outros, Los Hermanos, Lenine, O Rappa e Paralamas do Sucesso.


“Ele chegou e pegou material que já estava bom, mas estava cru, e transformou em uma coisa incrível. A gente arranjou metade do disco. E o Chico conseguiu inserir todos esses elementos da música eletrônica mantendo o disco inteiro com uma sonoridade brazuca”, comenta Tátio.


Neves também foi quem garantiu as parcerias com Juliana Linhares e Zeca Baleiro. O maranhense gravou a faixa “Longe de mim”, vencedora do troféu Lamartine Babo no Festival Nacional da Canção de 2020, quando Tátio integrava a banda Caldêra.


Outro elemento muito explorado no disco são as percussões, o que é natural em se tratando do artista que há três anos empunha o microfone no bloco de carnaval Circulandô e integra a orquestra do projeto Percussão Circular.


Contradições humanas

As faixas também contam com letras bem elaboradas calcadas nas contradições humanas. É a relação paradoxal que existe entre o que é desejado e – muitas vezes – proibido, a aspiração da liberdade sexual, a solidão nas metrópoles lotadas e o desencanto com a fé.


Há, no entanto, certo desejo de redenção. “Sonhei, por terras, outros planetas correndo as léguas atrás de um sol na mesma esfera", canta Tátio em “Será q eu sou louco". E, em “Reza milagreira”, diz: "Ela sabe os caminhos da paixão verdadeira, sabe que a tirania acabará, ensinou que essa vida é transação passageira… já sabe enfeitiçar, sabe fazer reza milagreira e amar feito uma criança”.


“Sinto que esse disco conseguiu atingir uma linguagem diferente que eu não consigo enxergar em muitos outros trabalhos hoje. Não quero dizer que ‘Contrabandeado’ é a margarida no deserto, algo que ninguém nunca fez. Não é isso. O que quero dizer é que conseguimos uma linguagem singular que tem a ver com a experimentação, o teste e o risco”, afirma o músico.


Por ora, ainda não há data para show de lançamento do disco. As próximas apresentações de Tátio serão em Tiradentes, junto com a Percussão Circular, como parte da programação da Mostra de Cinema da cidade nesta quinta-feira (30/1), e com o Circuladô, no pré-carnaval de BH, em 23 de fevereiro.


FAIXA A FAIXA

• “Será q eu sou louco”


• “Radar”


• “Longe de mim” feat Zeca Baleiro


• “Reza milagreira” feat Juliana Linhares


• “Anhangabaú”


• “Seres distantes”


• “Como um jogador”


• “Sonho antigo”


• “Contrabandeado”


“CONTRABANDEADO”
• Álbum de Tátio Abreu
• Produção de Chico Neves
• 9 faixas
• Nas plataformas digitais, a partir desta quarta (29/1)

Tópicos relacionados:

cultura- lancamento musica

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay