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Oscar 2025: conheça o drama dinamarquês rival de 'Ainda estou aqui'
"A garota da agulha" conta a história do mercado de venda de bebês na Copenhague miserável após a Primeira Guerra
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Siga noOfuscado na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional pelo brasileiro “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, e o francês “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, “A garota da agulha”, representante da Dinamarca dirigido por Magnus von Horn, destaca-se não só pela estética expressionista, mas pelos dilemas morais em torno da compra e venda de bebês na Copenhague pós-guerra.
Disponível no Brasil para assinantes da plataforma Mubi, o longa apresenta uma Dinamarca assolada pela fome após a Primeira Guerra Mundial. A costureira Karoline, interpretada por Victoria Carmen Sonne, acaba de ser despejada do apartamento onde vive. Há um ano sem receber cartas do marido Peter (Besir Zeciri), que está no front, ela se envolve com o patrão e engravida.
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Quando Peter retorna a Copenhague com o rosto desfigurado, Karoline implora ao amante Jorgen (Joachim Fjelstrup) que se case com ela. Apaixonado, ele consente, veste-a com as melhores roupas e a leva para ser apresentada à mãe, uma baronesa.
Se os primeiros minutos do longa evocam um conto de fadas – a jovem pobre resgatada da miséria pelo casamento com o patrão rico –, logo descortina-se na tela um conto de horror. Desaprovada pela baronesa, Karoline é expulsa da mansão e perde o emprego na fábrica. Acuado pela mãe, sob ameaça de perder a fortuna, Jorgen não dirige à jovem mais que um pedido de desculpas murmurado.
Karoline, por outro lado, não tem tempo de chorar pelo rompimento. Numa casa de banho, tenta abortar. É socorrida por Dagmar (Trine Dyrholm), que pede à moça para procurá-la quando a criança nascer.
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Dagmar recebe bebês de mães que não podem criá-los. Sua história se entrelaça com a de Karoline, as duas passam a trabalhar juntas. Em entrevista ao portal Seventh Row, o diretor explicou que “A garota da agulha” foi concebido inicialmente como filme centrado em Dagmar, inspirada na dinamarquesa de mesmo nome nascida em Skanderborg, em 1887.
“A história de Dagmar Overbye é um caso criminal dinamarquês ocorrido durante e logo após a Primeira Guerra Mundial. É uma história realmente horrível. Ao começarmos a pesquisá-la, aprendemos sobre a sociedade que levava mulheres a entregar os filhos”, afirmou Magnus von Horn.
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Ao abordar a degradação de grupos marginalizados, representados por Karoline, o filme propõe uma reflexão sobre as circunstâncias que obrigavam mães a abrir mão dos filhos. A personagem só existe devido à vulnerabilidade de uma parcela da população.
Nesse sentido, o uso de elementos do expressionismo alemão – movimento cinematográfico que irrompeu na década de 1920 – não apenas destaca características de uma cidade e de uma sociedade em decadência, como também evidencia a temática sombria do filme.
A captação de som amplifica a atmosfera de terror. É possível traçar um paralelo com “Zona de interesse” (Jonathan Glazer, 2023), filme sobre a vida tranquila de famílias vizinhas ao campo de concentração nazista, em que o espectador se conecta a atrocidades fora de cena por meio de sons perturbadores.
A trilha sonora de “A garota da agulha” é uma cacofonia de tambores, apitos e batidas, construindo gradualmente a sensação de perigo, especialmente a partir da chegada de Dagmar.
Com fotografia de Michal Dymek (responsável por “A verdadeira dor”, dirigido por Jesse Eisenberg, outro indicado ao Oscar 2025), o longa privilegia o preto e branco contrastado, cenários distorcidos – com ruas sinuosas e prédios que parecem prestes a desabar –, além de feições expressivas e sombras marcantes.
Em vários momentos, apenas a silhueta dos personagens é visível, enquanto rostos permanecem ocultos nas sombras. A atmosfera lúgubre remete a antigos filmes de monstros, como “O fantasma da ópera” (1925), “Frankenstein” (1931) e “Drácula” (1931).
Monstros
“A garota da agulha” apresenta possíveis monstros nas figuras da mulher que abdica do próprio filho, da outra que trata bebês como mercadoria e até do ex-combatente desfigurado, que se torna atração de circo.
Contudo, o filme confronta o espectador com o monstro representado pela sociedade marcada por desigualdade e exclusão, pelo abandono de mulheres grávidas e solteiras, pela fome que as força a entregar seus bebês a desconhecidas.
“A GAROTA DA AGULHA”
Dinamarca, Polônia e Suécia, 2024, 123min. Direção de Magnus von Horn, com Vic Carmen Sonne, Trine Dyrholm e Besir Zeciri. Filme disponível na plataforma Mubi.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria