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'A verdadeira dor', que tem duas indicações ao Oscar, chega aos cinemas
Longa sobre dois primos judeus que fazem uma excursão até a Polônia, país de sua avó, sobrevivente ao Holocausto, estreia nesta quinta-feira (30/1)
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Siga no"Você não vai levar maconha para a Polônia, não é?". Quando David (Jesse Eisenberg) faz esta pergunta a Benji (Kieran Culkin) em pleno aeroporto JFK, em Nova York, o primo faz que não é com ele. A resposta virá muitas horas depois, quando os dois chegarem a Varsóvia. É um dos momentos para boas gargalhadas, ainda que "A verdadeira dor", que chega nesta quinta-feira (30/1) aos cinemas, se configure como drama.
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David e Benji têm a mesma idade, foram criados juntos, são primos praticamente irmãos. Mas não poderiam ser mais diferentes. Óleo e água: um é pura emoção, o outro é de uma racionalidade extrema, leva uma vida padrão. Um quer ser o outro, é a velha história da grama do vizinho ser sempre mais verde.
Jesse Eisenberg escreveu, dirigiu, produziu e protagonizou "A verdadeira dor", indicado a dois Oscars – Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin, que levou o Globo de Ouro nesta categoria. É o Benji de Culkin o coração da história.
Em uma das melhores performances da temporada, ele interpreta um cara com quem todos já trombamos alguma vez na vida. Uma figura de que gostamos, por vezes até invejamos, mas de quem tendemos a manter distância, pois é um trem prestes a descarrilar.
A avó dos primos Kaplan, a quem Benji era ligadíssimo, morreu há alguns meses. Judia sobrevivente do Holocausto, deixou de herança para a dupla o dinheiro para eles fazerem uma viagem à Polônia natal. Vão encerrar a incursão na cidade onde ela nasceu. Antes, viajarão com um grupo de turistas.
Guia britânico
À frente da pequena excursão está o guia britânico James (Will Sharpe), o único não judeu do grupo. Os companheiros de viagem são uma divorciada divertida, Marcia (Jennifer Grey, aquela mesma de "Dirty dancing"), um casal mais velho meio chato (palavra de Diane, papel de Liza Sadovy, que no filme é casada com Mark, interpretado por Daniel Oreskes) e Eloge (Kurt Egyiawan), um ruandês que escapou do genocídio em seu país e se converteu ao judaísmo.
O sentimento geral é de que, independentemente do que acontecer nesta incursão à história do Holocausto, finda a semana da viagem todos retornarão às suas vidas. O momento crucial da viagem será a visita ao campo de concentração de Majdanek, cujas paredes ainda hoje expõem manchas azuis – resíduos do gás Zyklon B.
Sessão de fotos
Logo no primeiro dia da viagem, Benji convence seus companheiros a participar de uma divertida sessão de fotos diante de um memorial de guerra. Aos poucos, os colegas de excursão, bem como o público, vão tomando par dos conflitos dele.
É de forma abrupta e explosiva que ele deixa a primeira classe do trem em que viajavam porque isto não está de acordo com a experiência judaica durante a Segunda Guerra Mundial.
Mesmo que na cabeça de muita gente Kieran Culkin vá ser, durante um bom tempo, o Roman Roy de "Succession", o ator realizou um trabalho tão exemplar no filme que embarcamos facilmente nas histórias de Benji. Os fantasmas do personagem chegam ao espectador de forma natural, através dos olhos, da linguagem corporal e da voz, que atinge tons mais agudos nos momentos mais dramáticos.
Também em grande momento, Eisenberg interpreta David de uma forma mais contida, enfatizando o contraponto entre os dois personagens e a estranha dinâmica familiar que os rege.
Logicamente, nada disto funcionaria não fosse a segurança com que ele conduz a história. "A verdadeira dor" é o segundo longa de Eisenberg, que ganhou o mundo como o protagonista de "A rede social" (2010). O roteiro, cheio de tiradas inteligentes (para bons entendedores, diga-se), nunca resvala para o melodrama (e isto seria fácil).
Quando o grupo chega ao campo de concentração, não há música alguma – o silêncio comunica muito mais. Em sua maior parte, o longa é conduzido pela música de Chopin, o mais célebre dos compositores poloneses.
Com exatos 90 minutos e sem barriga alguma, "A verdadeira dor" é um deleite de diálogos agridoces e interpretações com muitas nuances. Sua simplicidade é apenas aparente. No final das contas, é um filme sobre duas pessoas que se amam, mas que se afastaram por causa da própria vida. Nada mais verdadeiro do que isto.
“A VERDADEIRA DOR”
(EUA/Polônia, 2024, 90min.). Direção: Jesse Eisenberg. Com Kieran Culkin e Jesse Eisenberg. O filme estreia nesta quinta-feira (30/1), nos cines Diamond 3 (14h50, 17h, 19h20 e 21h30), Pátio 6 (16h30, 19h e 21h10) e Ponteio 4 (14h e 18h40).