Pioneiro do reggae em Minas Gerais, Celso Moretti, que completou 70 anos de vida e 44 de carreira em 2024, diz que está vivendo seu melhor momento. Em março do ano passado, ele lançou o álbum de inéditas "Contingente reggae favela" e, agora, divulga a coletânea "Celso Moretti setenta", no formato LP, com músicas de quatro de seus álbuns lançados a partir de 2002.

 




É no repertório de "Celso Moretti setenta" que se ancora o show do artista neste domingo (12/1), no Distrital do Cruzeiro, ao lado da banda Barraco de Aluguel, que o acompanha desde 1998. A noite terá abertura da big bang de ska Explêndidos e discotecagem a cargo do coletivo Deska Sound System.

 


Os álbuns que fornecem faixas para "Celso Moretti setenta" são "Reggae favela periferia" (2002), "Reggae favela Brasil" (2006), "Estilingue" (2015) e "Contingente reggae favela".

 

 

Quando Moretti diz que somente agora, passados 44 anos do início de sua caminhada na música, é que está vivendo o ápice, é porque sua carreira acabou ficando restrita ao que ele chama de "bolha". O primeiro disco, "Reggae favela" (1997), demorou 17 anos para acontecer.

 


Contra a corrente

Ele credita isso ao fato de que, nos anos 1980, quando começou, e nos anos 1990, o reggae não tinha espaço no cenário musical de Minas Gerais. "Era um gênero ainda menos conhecido do que é hoje, mas abracei o reggae porque achava que ele me oferecia a possibilidade de mostrar o que eu pensava, que minha fala não teria censura, mas, realmente, poucas pessoas conheciam. Não acho que hoje seja muito diferente, o reggae continua underground, é aquela mesma coisa de nadar contra a corrente do mercado", diz.

 


Moretti reconhece que, a partir dos anos 2000, aumentou o interesse pelo gênero em BH e em Minas Gerais, com o surgimento de coletivos como o Roodboss Soundsystem e o próprio Deska Sound System.

 

 

Ele pondera, contudo, que a música que faz ainda encontra dificuldades para "estar na mesma pauta" de outros estilos. "É pobre ainda dentro do cenário local, um gênero que engatinha, mas é nessa cena que estou, nessa bolha. Sei das dificuldades, mas não abro mão, porque o que aprendi a fazer foi isso", afirma.

 


Ele admite que já cometeu equívocos, fez escolhas erradas e que não esperava sequer chegar aos 70 anos, "ainda mais com a saúde bacana". Diz, no entanto, que acredita ser possível aprender um pouco mais a cada ano que passa, a cada virada de calendário.

 


Ações conscientes

"No decorrer da vida, você vai apertando botãozinho sem ler as instruções no manual, para ver o que acontece; acha que está abrindo a porta e está fechando. Agora não, estou no comando, sei os botões que aperto. Isso é com o tempo mesmo. Você tem que acumular experiência e conhecimento com o passar do tempo, caso contrário, nem justifica estar vivo. É aprender e passar aprendizado. Estou nesse ápice, bem consciente das coisas que faço, e aí as coisas começam a funcionar", diz.

 


Um dos reflexos dessa espécie de clarividência é saber aproveitar o momento sem afobação. Moretti diz que ter um álbum lançado em vinil era um sonho antigo que finalmente se realizou.

 

"Meu primeiro disco era para ter sido em vinil, só que, quando terminei as gravações, estávamos justamente na transição do LP para o CD. O dono do estúdio me aconselhou a lançar em CD e foi o que fiz. Agora, com o apoio do Deska Records, tive essa oportunidade", conta.


Documentários

As comemorações em torno do 70 anos de Moretti devem se estender ao longo deste ano. Estão previstos dois documentários sobre sua trajetória e a regravação de seu álbum de estreia. "Na verdade, deveria ter saído no dia do meu aniversário, em 11 de novembro do ano passado, mas não dá para atropelar. Tem várias coisas acontecendo ao mesmo tempo agora e eu estou feliz que essas coisas estejam acontecendo."

 


Com relação ao show de lançamento da coletânea, ele faz questão de dar os devidos créditos para a banda Barraco de Aluguel, sua fiel escudeira. "Juntei esse pessoal para lançar meu primeiro disco, em 1997, e eles estão aí comigo até hoje. Dei esse nome porque meu lance é o reggae favela", diz.

 


O Barraco de Aluguel é composto por Thiago Barrez (guitarra), Gê Rodrigues (guitarra), Luiz Paulo (bateria), Rodrigo Lourenço (baixo) e Walner Lucas (teclados). "É aquele negócio, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura."

 


"CELSO MORETTI SETENTA"
Festa de lançamento do LP, com show de abertura da banda Explêndidos e discotecagem do coletivo Deska Sound System, neste domingo (12/1), das 16h às 22h, no Mercado Distrital do Cruzeiro (rua Opala, s/nº, Cruzeiro). Ingressos a R$ 40 (primeiro lote) ou promocional ingresso + LP a R$ 130 à venda pelo site Shotgun.live.

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