Crimes, na ficção, a Suécia tem em profusão – na literatura ou no audiovisual. Na vida real, o caso mais célebre do país nórdico é o assassinato do primeiro-ministro Olof Palme, em fevereiro de 1986, quando saía de um cinema, em Estocolmo. Foi a investigação mais extensa ocorrida em território sueco. A segunda investigação desta lista é o tema de "A grande descoberta", minissérie recém-chegada à Netflix (e já no Top 10).

 




Um duplo assassinato cometido em outubro de 2004, em Linköping, cidade de 167 mil habitantes, chocou a Suécia. Não só pela gravidade do caso, como também pela aleatoriedade do crime, que não fazia o menor sentido.

 


Mohammed Ammouri, de 8 anos, estava indo para a escola quando foi esfaqueado por um homem mascarado. Anna-Lena Svensson, uma mulher de 56 anos que testemunhou o ataque e tentou intervir, também sofreu ferimentos mortais com faca. Não havia relação alguma entre as duas vítimas, apenas moravam na mesma região. O caso levou 16 anos para ser solucionado.

 


"A grande descoberta" é uma ficcionalização desta história, que busca a exatidão dos fatos, mudando algumas questões, como os nomes dos personagens reais. São apenas quatro episódios, enxutos e sem barriga. Os dois primeiros são ambientados em 2004, na época do crime; os dois últimos, em 2020, com a investigação final.

 


Família de imigrantes

A história começa na manhã do crime. Uma família de imigrantes libaneses – pai, mãe e um casal de filhos – está se preparando para um dia como os outros. O caçula Adnan (Marley Norstad) está aprendendo a olhar as horas em um relógio de pulso. Quem o ensina é o pai, Saad (Bahador Foladi). A irmã mais velha está atrasada, então Adnan, que sabe muito bem o caminho do colégio, sai sozinho, às 7h30 da manhã.

 


É morto a poucos metros de casa, crime que é visto por Gunilla (Anna Azcárate), que não pôde fazer muito. A mulher chegou a ser hospitalizada, mas não sobreviveu aos ferimentos a faca. A pessoa que descobriu as vítimas estava de bicicleta, é também uma mulher, Karin (Annika Hallin) e ficou tão traumatizada que sofreu um bloqueio – não conseguia se lembrar do rosto do assassino.

 


Este é o cenário encontrado pelo responsável pela investigação. John Sundin (Peter Eggers) é um ex-atleta olímpico (competiu na marcha atlética em duas Olimpíadas), homem sério e respeitado na comunidade, que está esperando o nascimento do primeiro filho.

 


Promessa policial

Logo no primeiro contato com os familiares das duas vítimas, Sundin promete que o culpado será encontrado rapidamente. Promessas, para um policial, não devem ser feitas a esmo. E o detetive vai descobrir que o tempo está contra ele.

 


Mesmo cobrindo todas as possibilidades, ele e sua equipe não conseguem uma resolução. Os anos passam, e as respostas não chegam. Ainda que a investigação seja muito minuciosa – é o que o superior de Sundin lhe diz – não há mais o que fazer.

 


Dezesseis anos mais tarde, por meio de uma notícia da imprensa, o policial tenta fazer uma última tentativa. Sua estratégia é ousada, inédita – e o tempo, mais uma vez, parece torcer contra. O caso está prestes a ser enviado para a seção de arquivos mortos. É nos dois últimos episódios que entra em cena um novo personagem, que dará outro norte à história.

 


Em linhas gerais, é esta a trama de "A grande descoberta", uma série policial sueca que foge ao padrão, a começar pelo próprio título. Os detetives nórdicos que a TV e o streaming apresentam são geralmente figuras problemáticas, com uma vida de excessos e nenhum laço familiar. Só que o ponto de partida aqui é a vida real, então não há nenhuma glamourização, seja do criminoso ou do próprio contexto.

 


O que o espectador acompanha é uma investigação precisa, que se ateve a 10 mil suspeitos e coletou amostras de DNA mais de 6 mil pessoas. A frustração da polícia, em especial a de Sundin, cuja vida pessoal vira pó, e a raiva dos familiares frente à ausência de conclusão do caso, é registrada pela diretora Lisa Siwe (da célebre "The bridge") de forma cirúrgica, sem nenhum arroubo dramático. Mas mantém o suspense e o interesse do espectador até o último minuto.

 

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“A GRANDE DESCOBERTA”
• Minissérie em quatro episódios. Disponível na Netflix.

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