Próximo ao Grande Gramado do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro de Belo Horizonte, uma carreta de 15 metros de comprimento estacionada chama a atenção. Em seu interior, uniformes que fazem referência a profissões menos valorizadas estão expostos em uma arara, acompanhados de pequenos aforismos.

 




No macacão de empregada doméstica, lê-se “revelar a história dos heróis negros” e, na roupa de faxineira, “o povo negro recupera suas riquezas”. Esses uniformes fazem parte da instalação “Abre caminho”, criada pela artista plástica Dayane Tropicaos, de Contagem.

 


A obra integra a mostra coletiva itinerante do Memorial Minas Gerais Vale, intitulada “Oriará – Arte e educação em movimento”, em cartaz no parque até o próximo dia 8 de fevereiro. Com trabalhos de sete artistas – Edgar Kanaykõ Xakriabá, Maria Lira, Aldeia Floresta Maxakali, Froiid, Marcel Dyogo, Jorge dos Anjos e a já citada Dayane Tropicaos –, “Oriará – Arte e educação em movimento” convida o público a refletir sobre as heranças culturais indígenas e afro-brasileiras.

 


“‘Ori’ é uma palavra yorubá que significa cabeça. Trata-se de um termo ligado às divindades, sendo também a raiz da palavra ‘orixá’. Já ‘Ará’, do tupi, significa ao mesmo tempo nascer e todo o ser vivente”, explica Pompea Tavares, coordenadora da equipe curatorial da mostra. “A união dessas palavras evoca consciência e encontros, refletidos nas produções de artistas negros e indígenas contemplados na exposição”, diz ela.

 


Instalação

Na carreta encontram-se também réplicas de pinturas rupestres feitas pela artista Maria Lira, do Vale do Jequitinhonha. Essas peças foram criadas para resgatar sua ancestralidade afro-indígena. A instalação “Já quase esqueci seu nome”, de Marcel Diogo, traz caixas de papelão empilhadas e iluminadas internamente, formando os nomes das 14 comunidades indígenas que ainda resistem em Minas Gerais. “A ideia é jogar luz sobre esses povos que o Estado tenta apagar há mais de 500 anos”, diz o artista.

 


A última instalação dentro da carreta é “Varal dos saberes”. Como o nome sugere, trata-se de um varal onde estão penduradas palavras relacionadas às culturas indígenas e quilombolas, impressas em tecidos. Essas obras compõem o primeiro eixo da exposição, “Cotidianos”, que propõe reflexões sobre os modos de viver.

 

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"Os petelecos"

O segundo eixo, “(Re)Existências”, localiza-se na saída da carreta e apresenta a instalação “Os petelecos”, de Froiid, que recria o jogo de futebol de prego, também conhecido como futebol de peteleco. Ao invés de um único tabuleiro, o artista posiciona vários deles, permitindo que os visitantes joguem e criem suas próprias regras.

 


“É uma dinâmica em que posso criar meu jogo, você pode criar o seu ou adaptar o seu jogo dentro do meu”, explica Froiid. “Essa lógica geométrica é influenciada pelo construtivismo brasileiro, mas busco sempre reinventá-la, pensando em uma escultura que dialogue com um jogo popular e com a vivência de populações à margem”, aponta.

 


O núcleo “Futuros” encerra a exposição, com fotografias de Edgar Kanaykõ Xakriabá e carimbos de cerâmica aquecidos usados para marcar tecidos de feltro com formas e composições diversas. Esse eixo, segundo a curadoria, provoca os visitantes a refletirem sobre futuros possíveis, construídos com base na ancestralidade.

 


“As instituições de arte são pouco convidativas, causam intimidação tanto pelo aspecto físico da arquitetura quanto pelas obras ali expostas, que, muitas vezes, fazem as pessoas não se sentirem parte daquilo por não compreenderem do que se trata. Então, trazer os trabalhos para fora desses lugares pode causar outro tipo de reação nas pessoas. Acho que é uma potencialidade poética e também política”, afirma Froiid.

 


ORIARÁ – ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO
Mostra coletiva com obras de Dayane Tropicaos, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Maria Lira, Aldeia Floresta Maxakali, Froiid, Marcel Dyogo e Jorge dos Anjos. No Grande Gramado do Parque Municipal Américo Renné Giannetti (Av. Afonso Pena, 1.377, Centro). De terça a domingo, das 9h às 17h. Entrada franca. Mais informações pelo site do Memorial

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