Com o drama meloso e sensível de “Forrest Gump: O contador de histórias”, Robert Zemeckis conquistou seis estatuetas do Oscar, US$ 678 milhões em bilheteria e um lugar na lista do Instituto Americano de Cinema dos 100 melhores filmes produzidos nos Estados Unidos.

 

 


De lá para cá, entre erros e acertos, o diretor se aventurou por uma miríade de gêneros e, três décadas depois, chegou ao trabalho que mais se aproxima do longa de 1994. Em “Aqui”, que estreia nesta quinta-feira (16/1), Zemeckis repete não só o tom, mas outros elementos que ajudaram a eternizar “Forrest Gump”.

 



 

O cineasta retoma, por exemplo, a parceria de longa data com o compositor Alan Silvestri, que emula a trilha sonora noventista nesta nova incursão. Põe em cena Tom Hanks e Robin Wright para trocar juras de amor e palavras ásperas. Por fim, usa sua câmera para mais uma vez criar uma crônica da história dos Estados Unidos –– agora, a partir de um só endereço.

 

 

Adaptação do quadrinho homônimo de Richard McGuire, “Aqui” acompanha fragmentos da vida de várias pessoas que habitaram um mesmo endereço, em diferentes momentos da história.

 

Estática, a câmera enquadra um pedaço de mata há milhões de anos, quando a Terra ainda era morada de dinossauros. Aos poucos, ela testemunha aquele local inóspito e selvagem evoluir: – um casal de indígenas faz dele seu ponto de encontros amorosos.

 

Décadas vão passando e o terreno vira um lar. Primeiro para recém-casados que temem o avanço da gripe espanhola, depois para um inventor dos anos 1940, mais adiante para um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial e, enfim, para uma família presa entre aquelas paredes por causa da COVID-19.

 

 

Mas são os personagens de Hanks e Wright que realmente importam. Ele vive um dos três filhos criados pelo soldado americano, que convida a namorada para morar na casa dos pais depois de engravidá-la. Ali, vivem momentos de tristeza e alegria, perdas e conquistas, paixão e brigas.

 

“O primeiro passo que demos foi discutir o porquê de fazer este filme. Depois de várias conversas filosóficas e até relacionadas à espiritualidade, refletimos sobre a impermanência da vida e partimos daí”, diz Hanks sobre a ideia de que tudo é passageiro, associada ao budismo. “A única constante da vida é que ela muda”, completa Zemeckis.

 

 

 

Das lentes da câmera estática, vemos as vidas de Richard e Margaret, os personagens de Hanks e Wright, avançarem da adolescência até a terceira idade. Observamos o nascimento de seu filho, a morte de seus pais e, numa das cenas mais tocantes, um colapso quando ela assopra as velinhas de seu aniversário de 50 anos e percebe que, como o espectador, ficou presa naquela casa, sem realizar sonhos ou conhecer o mundo.

 

O que pouco mudou foi o entrosamento de Zemeckis e seus atores. Wright conta que o primeiro dia no set foi como a continuação direta do último dia de gravações de “Forrest Gump”.

 

“Foi como se, ironicamente, tempo nenhum tivesse passado. O Tom literalmente me viu e disse: ‘precisamos terminar aquela conversa que começamos há três décadas’. Nesta indústria, é uma bênção estar entre pessoas que você conhece, então foi uma experiência incrível retomar essa parceria”, comenta ela.

 

IA põe fim a rugas

 

Zemeckis precisou recorrer a tecnologias de ponta para rejuvenescer Hanks e Wright. O cineasta virou celebridade em Hollywood justamente por aliar suas ambições artísticas a avanços tecnológicos, como já havia feito na trilogia “De volta para o futuro”.

 

 

Hanks e Wright foram rejuvenescidos por meio da inteligência artificial (IA). Não que sejam exatamente convincentes como jovens de 20 e poucos anos – boa parte do charme do filme reside nesta artificialidade –, mas a “plástica virtual” permitiu que seus rostos não carregassem as marcas de seus 68 e 58 anos por boa parte da trama.

 

Por meio de IA generativa, todos podiam ver os rostos rejuvenescidos em tempo real, graças à rapidez do processamento e ao “machine learning” do programa, treinado com imagens de Hanks e Wright em filmes anteriores, quando eram mais novos.

 

“Há muito a se preocupar em relação à IA, precisamos de normas de segurança, mas para fazer coisas como a maquiagem digital, ela funciona perfeitamente”, diz o diretor. É como um daqueles filtros de Instagram que alteram a cara do usuário assim que ele encara a câmera do celular, mas de forma muito mais refinada.

 

Zemeckis lançou mão de telas de LED, substitutas das telas verdes que vêm sendo abraçadas com força pela indústria audiovisual, inclusive no Brasil, como no recente “O Auto da Compadecida 2”.

 

O que a tecnologia não pôde fazer, porém, foi melhorar as dores de Hanks e Wright. Os atores brincam que, apesar de perderem as rugas nas telas, sinais da idade continuaram com eles.

 

“Eu dizia para o Tom: ‘Endireita a coluna e finja que você é jovem’, enquanto reclamava de dores no meu joelho”, conta Robin Wright. “O tempo realmente voa, mas fazer este filme foi como uma viagem”, afirma a atriz.

 


“AQUI”


EUA, 2024, 104 min. De Robert Zemeckis. Com Tom Hanks, Robin Wright e Paul Bettany. Estreia nesta quinta (16/1), em salas dos shoppings BH, Boulevard, Contagem, Del Rey, Diamond, Monte Carmo, Norte, Partage Betim, Pátio Savassi e Ponteio, além do UNA Cine Belas Artes.

compartilhe