CINEMA

Animação em cartaz em BH traz o clássico 'João e Maria' à moda brasileira

Filme infantil de Arnaldo Galvão é estrelado por ratinhos às voltas com as aflições da classe média baixa do Brasil

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Escrito no século 19 pelos irmãos Grimm, o clássico conto “João e Maria” é repleto de acontecimentos macabros. Atraídas por uma casa feita de doces, duas crianças são capturadas por uma bruxa disposta a comê-las e se livram da malvada ao prendê-la viva em um forno aceso.


Quando era menino, o cineasta Arnaldo Galvão ouvia esse conto, abismado. “É uma história terrível”, diz. No início dos anos 2000, o pernambucano filmou sua própria releitura do clássico de Grimm, narrativa contemporânea em que João e Maria seriam ratinhos inteligentes.


“Ao pensar na releitura para o cinema de animação, João e Maria não seriam crianças abandonadas pelos pais por estarem inseridos no contexto de guerra, peste e fome, mas, sim, em um núcleo familiar de classe média baixa no Brasil contemporâneo”, afirma o diretor.

Produzido em 2022, “Fabulosos João e Maria” passou por diversos festivais, mas só agora chega às salas do circuito comercial. Em BH, o longa está em cartaz no UNA Cine Belas Artes, às 15h30.

No roteiro escrito por Flavio de Souza, João e Maria são ratinhos gêmeos que têm pais amorosos, mas relapsos. Após meses sem pagar aluguel, a família é despejada e as crianças serão levadas para o reformatório, pois não frequentam a escola há mais de um ano. Determinados a escapar deste destino, os gêmeos fogem para a floresta assombrada por uma bruxa.

O filme busca valorizar a ancestralidade. Os protagonistas experimentam a jornada de descoberta de suas origens, em meio a cores vibrantes, aventura e diversão.

“Na vida moderna, perdemos um pouco a noção de ancestralidade. O filme explora esse aspecto para que as crianças compreendam que fazem parte de algo maior, de uma história que começou muito antes delas e que, ao mesmo tempo, as atravessa”, diz Arnaldo Galvão.

Trump e as bruxas

A figura da feiticeira remete a seres que conquistam o poder, assumindo cargos de autoridade e disfarçando-se como políticos. Em uma cena, a caricatura de Donald Trump surge na tela, sugerindo que o atual presidente dos Estados Unidos, na verdade, é como as bruxas.

“Nas histórias infantis, a bruxa costuma ser retratada como alguém de quem devemos manter distância. Em ‘Fabulosos João e Maria’, no entanto, ela pode entrar em nossa casa disfarçada, por exemplo, de influenciadora digital, exercendo poder por meio da tecnologia. No filme, as bruxas não ficam apenas escondidas na floresta. Onde estaria a graça nisso?”, explica o diretor.

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A produção se destaca por cores, texturas, formas geométricas e contornos bem marcados. A proposta não é reproduzir fielmente as características de animais e cenários, mas apresentá-los por meio de uma estética abstrata e autoral.

“A animação 2D chama a atenção não apenas das crianças, mas também dos adultos. Com ela, conseguimos perceber os traços únicos de cada artista”, afirma Galvão. “O 3D, por outro lado, arrisca ficar com a mesma cara. Não por acaso, é o estilo mais replicado por inteligência artificial, por ser computadorizado.”

Alê Abreu

O diretor observa que a produção de longas animados vem crescendo no Brasil. Se no início do século 21 as animações mal participavam de festivais internacionais, agora estão presentes na maioria deles. Há quase uma década, “O menino e o mundo”, de Alê Abreu, concorria ao Oscar.

“Até 2005, quando começamos a catalogar os longas-metragens de animação brasileiros, apenas 30 filmes haviam sido realizados em um século. Em 2025, esse número já supera os 100 títulos. Há uma produção e fruição intensa em todas as regiões do Brasil”, conclui Arnaldo Galvão.



“FABULOSOS JOÃO E MARIA”


Brasil, 2022, 114min. Animação dirigida por Arnaldo Galvão. Com as vozes de Danilo Diniz e Beta Cinalli. Às 15h30, no UNA Cine Belas Artes 3.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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