Artes visuais

Walter Sebastião exibe 40 trabalhos na Galeria Pedro Moraleida, em BH

Exposição "Avistamentos", que será aberta neste sábado (8/2), reúne pinturas, desenhos e gravuras, convidando à reflexão sobre o presente e o passado de Minas

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Em agosto do ano passado, o Instituto Pedro Moraleida abriu as portas ao público como galeria, com exposição do acervo do artista, morto precocemente aos 22 anos, em 1999. Agora, o espaço recebe a primeira mostra de um convidado: Walter Sebastião, que vai apresentar, a partir deste sábado (8/2), 40 obras realizadas desde 2015.


“Avistamentos”, com curadoria de Thereza Portes, traz pinturas, desenhos e gravuras. Três séries compõem a mostra – “Frestas”, “No escuro” e “Calendário” –, mas as obras convergem para questões estéticas, sociais, políticas e alegorias que mesclam referências ao passado e ao presente de Minas Gerais.


“Viajei pouquíssimo ao longo da vida, seja pelo Brasil ou exterior. Então, meu lugar é Minas Gerais, é meu mundo”, diz Walter Sebastião, que foi repórter e crítico de arte deste jornal e desde 2015 mora em Vitoriano Veloso (Bichinho), distrito de Prados.


O artista explica que a exposição abraça belezas e tragédias mineiras, indo das paisagens exuberantes (e ameaças ambientais a que estão constantemente sujeitas) ao passado colonial do estado e vice-versa.


“A série 'Frestas', por exemplo, partiu de um desejo meu de desenhar florestas, mas descobri que só temos frestas de florestas, pequenas matas que existem por aí à volta. Ela alude também à vivência que temos de transitar com muita facilidade entre áreas urbanas e rurais”, comenta.


“No escuro” diz respeito ao local que o artista escolheu para viver, onde frequentemente falta energia elétrica. “Temos de ficar observando as coisas no escuro. Não tem nada de metafísico nisso, é no sentido real mesmo”, pontua.

Montanhas de Minas inspiram trabalhos do artista plástico Walter Sebastião
Montanhas de Minas inspiram trabalhos do artista plástico Walter Sebastião Acervo pessoal


Já “Calendário” trata da passagem do tempo: horas, dias, meses e anos. “Talvez seja o trabalho mais experimental, porque tenta construir uma narrativa sobre isso. É uma montagem”, detalha Walter Sebastião.

Álbuns de desenhos

 
“Avistamentos” inclui também três álbuns de desenhos – “Lâminas”, “Apêndices” e “Transcrições” – e outro de gravuras, “Certas noites”. A curadora Thereza Portes conta que o que mais a impressionou quando visitou o ateliê de Walter foi o volume de sua produção.


“Vi um artista completamente entregue a seu trabalho, criando dia e noite. É uma produção que nos suscita perguntas sobre de onde vêm tantos avistamentos, porque se trata de uma obra que estabelece conversas com o mundo e com a vida. Fizemos um apanhado, incluindo o avistamento de um céu à tarde, de uma montanha pegando fogo, de pessoas se comunicando. Tem um pouco de cada movimento, é um resumo do que está no ateliê”, diz.


Walter Sebastião enfatiza o caráter lúdico e plástico da mostra, mas ressalta o desejo de que ela possa deslocar as pessoas para um território mais reflexivo. Ao realizar alguns trabalhos, era tomado por pensamentos acerca de coisas perturbadoras. “Seja na nossa rua, no nosso bairro, no nosso estado, no país ou no mundo, são questões que muitas vezes você nem sabe como abordar”, ressalta.


Exemplo disso é a violência contra as mulheres. “Toda noite você vê uma mulher sendo morta. É o fim da picada. A violência é muito concreta e representa um delírio de soluções por essa via, algo que é generalizado, que existe na política, na economia, em todas as esferas da vida”, aponta.

Pintura de Walter Sebastião
Pintura de Walter Sebastião Acervo pessoal


De acordo com ele, as obras podem, eventualmente, abordar temas pesados, mas há a tentativa de deslocamento para “áreas mais suaves”.


“Tenho uma tendência de sair do real e caminhar para mundos cada vez mais simbólicos. Penso que não adianta você tentar fazer trabalhos violentos para tratar da violência, porque a violência simbólica não alcança a real”, diz o artista plástico mineiro.


Um outro aspecto que suscita reflexões se refere às paisagens. “Nunca imaginei que a essa altura tivéssemos de ter movimentos para defender as serras mineiras. É uma coisa brutal a destruição pelo fogo e pela mineração”, destaca.


Walter gostaria que essas reflexões levassem a alguma ação, bem como a relações pessoais mais responsáveis. “Por ter atuado como repórter, acho que estava acostumado a algumas questões, às mazelas da nossa sociedade. Agora, vendo de fora, acho assustador”, diz, ponderando que “Avistamentos” também propõe miradas mais luminosas, quando trata, por exemplo, da produção artística e cultural do estado.


Moraleida

Walter Sebastião foi um dos primeiros críticos de arte a jogar luz sobre o trabalho de Pedro Moraleida, nos anos 1990, e se diz muito honrado de ser o primeiro convidado a ocupar a galeria que guarda o acervo do artista.


“Sou grande admirador da obra do Pedro. Minas tende a ter uma arte introvertida. Carecemos de obras que busquem a extroversão, e o Pedro fazia isso, ele chegava até você. Sua preocupação não era fazer da arte um reflexo da discussão, mas fazer dela a própria discussão”, pontua.


“AVISTAMENTOS”


Pinturas, desenhos e gravuras de Walter Sebastião. Abertura neste sábado (8/2), das 10h às 15h, no Instituto e Galeria Pedro Moraleida (Rua dos Inconfidentes, 732, loja 2, Funcionários). Até abril. O espaço funciona de terça a sexta-feira, das 15h às 19h.

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