Cinema

Berlinale começa em meio à tensão política. Brasil disputa o Urso de Ouro

Festival de Berlim ocorrerá durante o avanço do extremismo nas eleições da Alemanha. "O último azul", de Gabriel Mascaro, está na competição oficial

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Em 1951, Berlim ganhou um festival de cinema para desafiar o isolamento soviético. “Rebecca”, de Alfred Hitchcock, foi uma das principais atrações, ainda que fosse um filme de 1940. Era o começo da guerra fria, hoje reduzida a argumento de camelô em esquinas turísticas da capital alemã. Os pesadelos da política, no entanto, não largam a Berlinale, agora em sua 75ª edição.


“Das licht”, de Tom Tykwer, abre o festival nesta quinta-feira (13/2). A luz do título em alemão entra na história de uma família disfuncional de Berlim por intermédio da governanta síria. Pais e filhos se reencontram graças a uma pessoa estranha, resume o diretor de “Corra, Lola, corra”. Enquanto isso, a Alemanha discute abertamente expulsá-los.

O período da mostra, com mais de 220 filmes de 150 países, coincide com a reta final da eleição parlamentar alemã, marcada para 23 de fevereiro. No dia anterior, o júri presidido pelo diretor americano Todd Haynes apontará os premiados. O pleito deveria ocorrer em setembro, mas foi antecipado devido à ruína da coalizão que governa o país.

Nas urnas, o fantasma é a AfD, o partido de extrema direita, que caminha para fazer a segunda maior bancada do Bundestag. Um dos motivos do extremismo é a crise econômica na Alemanha.

Tricia Tuttle, diretora do festival, foi aplaudida na entrevista de apresentação do evento quando um repórter perguntou como ela conseguiu manter o orçamento de pé. Berlim cortou parte de seu subsídio, dentro do pacote de austeridade do governo conservador da cidade.

Tuttle também teve de responder sobre a entrevista que deu ao Guardian, em dezembro, quando declarou que alguns profissionais da indústria estavam com receio de ir a Berlim. A Alemanha aprovou uma controversa resolução que, para especialistas, iguala críticas à atuação de Israel em Gaza, por exemplo, ao antissemitismo.

No ano passado, a premiação do festival, coalhada de manifestações sobre a situação dos palestinos, causou polêmica. Aplausos para a dupla que recebeu o prêmio de Melhor Documentário com um filme sobre o conflito, formada por um israelense e um palestino, foram condenados por políticos e boa parte da imprensa. A ministra da Cultura do país se defendeu dizendo que aplaudiu, mas apenas o israelense.

Tuttle afirmou que faz parte do trabalho guiar os visitantes pela sensibilidade alemã com Israel, mas também o caminho contrário, “lembrar que vamos ouvir todo tipo de perspectiva diferente”.

Elas sobram no festival. Entre os 19 filmes listados na competição oficial, “O último azul”, de Gabriel Mascaro, fala de um Brasil beirando a distopia, onde idosos são mandados para colônias para que a produtividade do país aumente. Mulher de 77 anos se rebela e decide fugir para a Amazônia. O filme, com Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, traz Mascaro de volta à Alemanha seis anos depois de “Divino amor”, outra distopia.

O diretor brasileiro terá forte concorrência, como Richard Linklater, de “Boyhood”, que apresenta “Blue moon”, biografia musical sobre os últimos dias do compositor Lorenz Hart. Ethan Hawke e Margaret Qualley encabeçam o elenco. Também na competição aparecem Jessica Chastain, em “Dreams”, de Michel Franco, e Marion Cotillard, em “La tour de glace”, de Lucile Hadzihalilovic.

Corroteirista de “Ida”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, Rebecca Lenkiewicz estreia na direção com “Hot milk”, adaptação do livro de Deborah Levy.


As mostras paralelas terão outras 11 produções brasileiras, como “A melhor mãe do mundo”, de Anna Muylaert, que levou o prêmio do público em 2015 por “Que horas ela volta?”, e o documentário “Hora do recreio”, de Lúcia Murat. A participação nacional dobrou em relação à edição do ano passado.


Berlim também exibirá “Um completo desconhecido”, biografia de Bob Dylan protagonizada por Timothée Chalamet, e “Mickey 17”, novo filme de Bong Joon Ho, de “Parasita”, com Robert Pattinson no papel de um sujeito que ganha a vida morrendo.


Em tempos de antissemitismo aflorado, será mostrada a cópia restaurada de “Shoah”, obra histórica de Claude Lanzmann, com mais de nove horas de depoimentos de vítimas e perpetradores do Holocausto. O filme completa 40 anos e é objeto de um documentário de Guillaume Ribot, que também está na programação do festival. (José Henrique Mariante)

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