CINEMA

Conheça Colman Domingo, ator indicado ao Oscar e ícone fashion

Protagonista do drama "Sing Sing", ele recebeu sua segunda indicação seguida à estatueta, aos 55 anos, depois de um longo e difícil percurso na carreira

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Uma capa dourada com relevos que parecem pepitas de ouro, um terno acompanhado de camisa e colete no mesmo tom de rosa berrante, um smoking branco que expele dois longos recortes de tecido, lambendo o tapete vermelho.


Estes são alguns dos looks usados por Colman Domingo, desde que despontou em Hollywood. Dono de um dos guarda-roupas mais ousados e glamourosos em anos recentes, é difícil imaginar o ator em vestes que não sejam, no mínimo, extravagantes.

Foi com sobriedade, porém, que ele chegou à corrida pelo Oscar de melhor ator deste ano. No drama "Sing Sing", em cartaz nos cinemas, Domingo não apenas tem uma atuação contida, como também usa looks comedidos.


Ele passa boa parte do longa de calça e camisa verdes, em cortes quadrados. É que "Sing Sing" é ambientado num presídio, capturado por uma fotografia acinzentada, quase triste.

"Enquanto ator, não sou muito vaidoso. Não me importo de mudar fisicamente, de não estar atraente. Topo qualquer coisa que faça sentido para o personagem, porque a maneira como você aparenta ajuda a contar a história do filme", diz Domingo.

"Da mesma forma, no lado pessoal, sempre gostei de me vestir de um jeito que contasse uma história. Gosto de parecer estiloso, divertido, sofisticado – como se eu fosse a festa completa. Sou assim, então estou amando poder brincar com a moda ultimamente."

 


Elogios

Seus truques vão muito além de paletós cintilantes e gravatas bufantes, porém. Domingo passou a ser coberto, além das roupas de grife, por elogios a partir da série "Euphoria" (HBO), que lhe rendeu um Emmy de melhor ator convidado, há três anos.

No ano passado, foi indicado ao Oscar de melhor ator por "Rustin", biografia do ativista negro e gay Bayard Rustin, nome vital da luta pelos direitos civis nos EUA. Com a nova indicação ao prêmio, Domingo entrou para o seleto rol de atores que apareceram na categoria por dois anos seguidos, no qual estão Denzel Washington, Tom Hanks e James Dean.

O prêmio provavelmente ficará com Adrien Brody ("O brutalista") ou Ralph Fiennes ("Conclave"). Timothée Chalamet ("Um completo desconhecido") e Sebastian Stan ("O aprendiz") completam a lista.

Chegar à corrida, porém, já é um feito tremendo para um filme tão modesto quanto “Sing, Sing”. Dirigido por Greg Kwedar com orçamento de não mais que US$ 2 milhões (R$ 11,6 milhões), o drama é baseado na história real do Rehabilitation Through the Arts, que reabilita presos por meio do teatro.

"A arte enquanto caminho para a mudança é o clichê mais verdadeiro de todos", diz o ator, indicado também ao Bafta, ao Critics Choice, ao Globo de Ouro, ao SAG, ao Satellite e ao Spirit pelo papel de um homem preso injustamente. No Gotham, prêmio voltado ao cinema independente, ele recebeu o troféu de melhor ator.

"Uma das grandes certezas que tenho é que a arte tem o poder de curar e transformar. A arte salvou a minha vida, o teatro salvou a minha vida, como é o caso dos personagens de ‘Sing Sing’. A arte te mostra o que você pode ser, te dá uma voz quando você se sente silenciado. Acredito nisso do fundo do meu coração."

Domingo cresceu num lar humilde da Filadélfia, Pensilvânia. Foi abandonado pelo pai, um imigrante de Belize, aos 9 anos, mas criado com amor pela mãe, uma dona de casa, e o padrasto, que trabalhava renovando pisos. Ao se assumir gay, aos 21, foi abraçado pela família, que o incentivou a buscar carreira como ator, apesar da graduação em jornalismo.

Longo caminho

Hoje, aos 55 anos e com duas indicações ao Oscar, Domingo vê o caminho que percorreu como longo e sinuoso. Foram várias pontas em filmes e séries que, mesmo expressivos, falharam em projetar seu nome como o de alguém pronto a assumir protagonismo.

Por volta dos 40 anos, pensou em desistir da carreira. Sem poder ser apenas ator, passou a escrever, dirigir e produzir e, por quase uma década, morou num enorme prédio em Nova York subsidiado pelo governo federal e voltado a artistas de baixa renda.

No teatro, ele brilhou em montagens premiadas da Broadway, como "Passing strange", "Chicago" e "The Scottsboro boys". Quando foi escalado para viver o vilão Victor Strand no hit "Fear the walking dead", a indústria, enfim, reparou em Domingo.

"A coisa mais bonita deste momento que estou vivendo é não precisar mais fazer audições", diz o ator. Agora, o trabalho chega por meio de convites – com alguns dos nomes mais importantes da indústria como remetentes.

Sob o comando dos irmãos Russo (“Vingadores”), vai aparecer em "The electric state". A Antoine Fuqua se juntou para viver o pai de Michael Jackson na aguardada biografia do Rei do Pop. Além dos filmes, aparece ainda este ano em "As quatro estações", série da Netflix com criação de Tina Fey.

Steven Spielberg, Gus Van Sant e Edgar Wright são outros que recebem Domingo em sets de filmagem a partir deste ano. E, assim que tiver tempo, o americano espera escrever, dirigir, produzir e estrelar uma cinebiografia de Nat King Cole.

Depois de três décadas, os tapetes estão todos, enfim, estendidos a Colman Domingo. 


“SING SING”
(EUA, 2023, 107min.).

Direção: Greg Kwedar. Com Colman Domingo, Clarence Maclin e Sean San Jose.

Em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas 2 (18h); Pátio 3 (13h30, 16h20, 19h40 [exceto sábado e domingo], 12h10, 15h, 17h30, 20h15 [somente sábado e domingo]; Ponteio 4 (16h15, 21h05); UNA Cine Belas Artes 2 (18h50).

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