CINEMA

Gato com medo de água disputa duas estatuetas do Oscar

"Flow", sobre a jornada de um bichano para fugir da enchente, disputa as estatuetas de Melhor Animação e Melhor Filme Internacional

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É bom que se saiba: não há nenhuma palavra, falada ou escrita, que coloque o espectador dentro de “Flow”. Mas elas são desnecessárias nesta animação muda da Letônia. O longa do diretor Gints Zilbalodis chega hoje aos cinemas, com duas indicações ao Oscar, Melhor Animação e Melhor Filme Internacional, essa última a mesma categoria do brasileiro “Ainda estou aqui”, de Walter Salles.


Vencedor do Globo de Ouro e com dois troféus (do público e do júri) no Festival de Annecy, o mais importante do mundo neste segmento, “Flow” é um Davi na corrida do Oscar. Alguns de seus pares na disputa são “Divertida Mente 2”, da Pixar, “apenas” a maior bilheteria de 2024 (US$ 1,7 bilhão arrecadados), e “Robô selvagem”, da DreamWorks, cheio de estrelas como dubladores.



Filme mais visto de seu país – a Letônia, uma das menores ex-repúblicas soviéticas, nunca havia participado do Oscar –, “Flow” custou US$ 3,6 milhões e foi realizado com o Blender, software gratuito e de código aberto. Nasceu do curta que Zilbalodis criou no ensino médio sobre um gato que tem medo da água.


Em seu segundo longa-metragem (o primeiro é “Longe”, também mudo, de 2019), o diretor apresenta um gato cinzento e sem nome – tampouco sabemos se é macho ou fêmea. É arisco, principalmente diante daqueles que não são como ele. Quando o conhecemos, aquela criatura de pequeno porte está numa grande floresta, que não é um lugar como os outros. Está cheia de esculturas de gatos em grande escala.


A obra parece inacabada, e não há nenhum humano para dizer o que aconteceu por ali. Sozinho, o gato consegue enganar cinco cães, de diferentes raças, que o perseguem. Nesta incursão, ele encontra também uma casa isolada. Outras reproduções de gatos – em papel e em madeira – dominam o lugar.


Os tais cães aparecem mais tarde, assim como a manada de veados. O gato finalmente descobre o que está acontecendo. Uma enchente está varrendo a floresta do mapa. Quase não há lugares secos, e a água está se aproximando muito rapidamente, inclusive da escultura de um gato gigante, o lugar mais alto. Não há o que fazer, além de fugir.


A salvação aparece com a imagem de um veleiro, que já viu dias melhores. O gato consegue alcançá-lo. E é a partir daí que a narrativa de “Flow” decola. Com novos companheiros, o personagem tem de se adaptar aos desafios de um mundo sem terra firme. Não é fácil, há perigos no caminho, ainda mais para quem sempre temeu a água. Logo fica claro que o grupo heterogêneo de animais não será o mesmo ao fim da jornada. O instinto de sobrevivência do início da história vai se transformar em algo maior.


O gato se vê obrigado a conviver com uma simpática capivara, que não faz muito pela “tripulação” do veleiro, pois dorme a maior parte do tempo. Há também um dos cães do início da história, o afável labrador que decide fazer amizade nessa situação de vida e morte. O mais esperto é o lêmure com pecha de acumulador. Sua chegada ao veleiro vem acompanhada de uma cesta repleta de objetos brilhantes, que ele guarda como a própria vida.


Por fim, um secretário (ave de rapina de grande porte) se instala no barco. Diante de seu tamanho, parece uma ameaça. Mas o que quer mesmo é cuidar da própria vida.


O mundo de “Flow” tem clara inspiração no Sudeste Asiático. Os ambientes – tanto os naturais quanto os edificados – são realistas, com texturas vibrantes. Já os personagens vêm da animação clássica, resultando em um filme artesanal, porém tecnicamente bem realizado.


Câmera protagonista

O pulo do gato, com o perdão do trocadilho, é o movimento de câmera. Ela conduz o espectador na jornada do protagonista e de seus companheiros. Ora dispara quando o felino foge em alta velocidade pela floresta; ora desbrava, com grandes panorâmicas, os ambientes onde os personagens estão adentrando. O olhar do gato entrega o que ele está sentindo.


A despeito da ausência de fala, “Flow” tem som quase o tempo inteiro. A trilha, minimalista, foi composta por Zilbalodis (no computador, pois ele não toca nenhum instrumento) em parceria com o compositor e percussionista Rihards Zaupe?, que também regeu a Sinfonietta Riga na execução da obra.


Mas não só: a cada mudança – terra se abrindo, água invadindo, árvores caindo –, ouvimos os sons de todos estes acontecimentos de forma muito vívida. A cereja do bolo vem dos personagens. A equipe de “Flow” fez questão de que tudo o que eles emitissem viesse de animais reais.


“Queríamos que eles se comportassem como animais de verdade em vez de andarem sobre duas patas e contarem piadas”, escreveu Zilbalodis na postagem do vídeo de seu próprio gato fazendo ruídos ao se ver no espelho.


O preciosismo foi tamanho que, insatisfeitos com a captação do som da capivara, eles foram pesquisar outros mamíferos. Os sons que ouvimos da sonolenta capivara do filme vêm de um camelo bebê.


“FLOW”


(Letônia, 2024, 85min., de Gints Zilbalodis) – O filme estreia nos cines BH 7, às 15h20 e 17h40; Centro Cultural Unimed-BH Minas 2, às 15h; Diamond 2, às 17h20; Diamond 5, às 16h10; Estação 5, às 14h20, 16h15 e 18h10; Ponteio 1, às 14h20 (exceto sab); Ponteio 3, às 16h25; UNA Belas Artes 2, às 18h50.

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